Carlos II, rei e seleccionador

Se não fosse o seu rei, que morreu há 60 anos em Portugal, a Roménia não teria participado no primeiro Mundial.

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Carlos II esteve sepultado em Portugal durante 50 anos DR

O primeiro Mundial de futebol, realizado em 1930, no Uruguai, foi uma coisa restrita a dois continentes, a América e a Europa. Mas a FIFA teve grandes dificuldades em convencer selecções europeias devido às distâncias e, dois meses antes do início do torneio, ainda nenhuma se tinha candidatado. Ainda assim, foram quatro as que se dispuseram a fazer a travessia do Atlântico para participar no torneio: França, Jugoslávia, Bélgica e Roménia. Mas se não tivesse havido intervenção real, tinham sido três.

A 35 dias do início do torneio, Carlos II assumiu o trono da Roménia, substituindo o seu filho Miguel, que tinha apenas nove anos. De regresso ao país depois de ter renunciado ao trono devido a um romance com a filha de um farmacêutico, Carlos tomou o futebol como uma prioridade e envolveu-se pessoalmente na participação da sua selecção no primeiro Mundial. Para além de ter movido influências junto da organização para que a Roménia participasse, foi ele que seleccionou os 19 jogadores que iriam compor a selecção.

Alguns dos melhores futebolistas romenos, como recordava o site da FIFA esta semana, trabalhavam numa empresa petrolífera inglesa, que não dava autorização aos seus funcionários para se ausentarem durante tanto tempo. E se eles quisessem ir à mesma, a empresa não lhes garantia emprego. O rei entrou, de novo, em campo. Falou com o dono da empresa, disse que a mandava encerrar se os jogadores não fossem autorizados. Esta, e outras empresas, acederam ao “pedido” real. E os jogadores receberam o salário por inteiro durante os três meses de ausência.

A bordo do SS Conte Verde, três das quatro selecções europeias (a Jugoslávia foi a excepção) foram para o Uruguai, sendo que na mesma embarcação seguia Jules Rimet, presidente da FIFA, com o troféu na mala. O Conte Verde ainda parou no Rio de Janeiro para dar boleia à selecção brasileira e seguiu depois para Montevideu.

A Roménia começou bem, triunfando por 3-1 sobre o Peru, num jogo que a FIFA classifica como aquele que menos assistência teve em Mundiais (300 espectadores). Depois, perdeu por 4-0 com o anfitrião Uruguai, que viria a vencer o torneio.

Ainda durante o reinado de Carlos II (que esteve no trono entre 1930 e 1940), a Roménia participou nos dois Mundiais seguintes (1934 e 1938), sem ter ganho qualquer jogo.

Carlos II abandonou o trono em 1940, substituído pelo filho Miguel, e partiu para o exílio. Não mais voltou ao seu país e acabou por se fixar em Portugal, no Estoril, onde viria a morrer a 4 de Abril de 1953, fez anteontem 60 anos. Os seus restos mortais estiveram durante 50 anos no Mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa, e só em 2003 foram transladados para a catedral da família real romena, em Bucareste.

Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias e campeonatos de futebol periféricos

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