Campeão europeu por duas vezes num mês

Hans Van Breukelen, um nome difícil de digerir para o Benfica, volta a estar sob a alçada da federação holandesa, agora em novas funções.

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Noite alta, quando a família já está toda recolhida, um exercício rotineiro de zapping pode, às vezes, proporcionar curiosas surpresas, mesmo em canal desconhecido em que a língua é dificuldade intransponível. O logótipo do Euro 2016 acaba por dar uma ajuda, seguido por imagens breves, suficientes para se saber que se trata de um programa de debate, de formato idêntico aos que se fazem por cá. Como se costuma dizer, “uma imagem vale mais do que mil palavras” e basta a presença de um senhor, discreto mas bem vestido, que poderia ser alto funcionário aposentado ou quadro superior de importante multinacional, para recordar alguém que já se viu há muitos anos em qualquer lugar.

Percebe-se, pelas imagens de arquivo, que fala do futebol holandês, ausente do Campeonato da Europa que terminou há uma semana, especialmente por causa da derrota com a Islândia na fase de apuramento. O que intriga é o porquê da insistência do realizador do programa em focar as mãos daquele cavalheiro. As mãos nada têm de especial. Bem cuidadas mas sem justificação para tantas repetições do mesmo plano. Finalmente, o rodapé identifica-o como Hans van Breukelen, que afinal estava ali para falar da sua nova função de director técnico da Federação Holandesa, com  responsabilidades especiais em matéria de formação.

O antigo guarda-redes do Nottingham, do PSV Eindhoven e da selecção holandesa não tinha o carisma de Yashin, Maier ou Dino Zoff mas ganhou duas importantes finais no período de um mês, o que não é nada fácil. Uma delas de sabor muito amargo para os portugueses que se reuniram em Estugarda, num fim de tarde esplendoroso do dia 25 de Maio de 1988.

Foram as mãos desse tal van Breukelen, um futebolista que chegou a trabalhar também como professor, que liquidaram as ilusões de quem fez milhares de quilómetros na esperança de assistir a uma vitória do Benfica em mais uma final da Taça dos Campeões Europeus. A diferença esteve nos pés de Veloso. Elzo, Dito, Hajry, Pacheco e Mozer acertaram nos penáltis de desempate após hora e meia sem golos, mas quando Veloso enfraqueceu o remate, o holandês adivinhou o lado para onde ia a bola, parando-a sem grande dificuldade.

Foi de chumbo o silêncio de desapontamento que se gerou no topo sul do Neckarstadion, logo que o árbitro italiano Luigi Agnolin, que agora exerce funções directivas no Olhanense, terminou o jogo. Face à dimensão do desgosto, o insólito episódio das meias novas que faziam saltar as botas e inspirava comentários bem humorados deixava de ter sentido.

Invulgar é o facto de van Breukelen ter sido campeão europeu de clubes e, um mês depois, a 25 de Junho, ter repetido a conquista de um Campeonato da Europa, desta vez com a selecção da Holanda, ganhando à Rússia, num jogo em que defendeu também um penálti marcado por Belanov.

“Os guarda-redes têm de ser perfeccionistas, porque estão sempre sob tensão. Eu sempre tentei ser melhor e tinha um grande sentido de responsabilidade. Muitas vezes dizem que os guarda-redes são loucos e é verdade. São loucos pela sua profissão”, resumiu numa entrevista a um site holandês, em 2014, descrevendo a grande penalidade defendida em Estugarda, em 1988, como “um momento fantástico”. 

Hans van Breukelen já tinha parado um penálti a Sousa, num particular com o Sporting, e a memória diz-nos que ainda haveria de aparecer aos portugueses, noutras situações, numa delas quando o PSV goleou o FC Porto. Só na selecção é que não foi mais feliz. Perdeu nas Antas, com um golo de Rui Águas, e em Faro, onde foi batido por Oceano e César Brito.  

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