Cabul matou finalmente as saudades da selecção nacional

Há dez anos que a capital afegã não assistia a um jogo da equipa nacional. Partida contra o Paquistão marcou um ponto final na ausência.

Os jogadores do Afeganistão festejaram com os adeptos o triunfo
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Os jogadores do Afeganistão festejaram com os adeptos o triunfo Massoud Hossaini/AFP
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O Afeganistão uniu-se em torno do preto, vermelho e verde, as cores da bandeira Shah Marai/AFP
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Os bilhetes custavam entre 100 e 300 afeganes (1,35 e 4 euros) e a lotação esgotou Shah Marai/AFP
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O aparato de segurança no exterior do recinto era grande Shah Marai/AFP
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A vitória sorriu à equipa da casa, que bateu os paquistaneses por 3-0 Massoud Hossaini/AFP

Foram dez anos sem ver a selecção. Mas, depois desse tempo todo à espera, Cabul, a capital do Afeganistão, voltou a ser palco de um encontro da equipa nacional. Os adeptos mataram as saudades que tinham e, independentemente da etnia, o povo uniu-se em torno do preto, vermelho e verde, as cores da bandeira do Afeganistão. O vizinho Paquistão – com quem o Afeganistão partilha uma fronteira que se estende por 2640 quilómetros mas também uma relação pontuada por episódios de tensão – foi o convidado e o resultado sorriu à equipa da casa, que bateu os paquistaneses por 3-0 (veja o jogo na íntegra).

Mais que desportivo, o encontro teve significado histórico. É frequente os dois vizinhos trocarem acusações de auxílio e permissividade em relação aos rebeldes talibans. “Este é um jogo muito simbólico para toda a comunidade futebolística no sul da Ásia e que confirma que o futebol pode contribuir para promover uma relação positiva entre países vizinhos”, sublinhou, em declarações reproduzidas pelo site oficial da FIFA, o secretário-geral da federação paquistanesa de futebol, o tenente-coronel Ahmad Yar Khan Lodhi.

“O facto de estarmos a organizar o nosso primeiro jogo internacional em dez anos e o primeiro contra o Paquistão, em Cabul, desde 1977, representa um grande feito para o nosso país”, frisou o secretário-geral da federação afegã, Sayed Aghazada, acrescentando: “Mostra que, depois de um período muito difícil, estamos a voltar à normalidade”.

O Turquemenistão tinha sido o último visitante de um jogo internacional disputado em Cabul. Foi em 2003, e os vizinhos do norte venceram (2-0). A partida foi disputada no Estádio Ghazi, que chegou a ser utilizado para execuções pelo regime taliban. Desta vez, porém, o campo escolhido foi o moderno Estádio da Federação Afegã de Futebol, dotado de um piso sintético. O aparato de segurança no exterior do recinto era grande. Os bilhetes custavam entre 100 e 300 afeganes (1,35 e 4 euros) e a lotação esgotou, com muita gente a ficar do lado de fora. Na bancada havia uma secção reservada ao público feminino.

O futebol nem é a principal modalidade no Afeganistão, mas tem um forte poder de atracção. Exemplo disso é o renovado campeonato afegão de futebol, que é disputado em formato reality show e vai dar início à sua segunda edição. “Ver a felicidade que as pessoas sentiram nestes dias foi incrível. Acho que foi como ganhar o Campeonato do Mundo”, disse o internacional afegão Zohib Amiri, após a vitória sobre o Paquistão. A comparação talvez seja exagerada, mas numa coisa o defesa tem razão: “O futebol une as pessoas”. “Pude ver isso antes, durante e depois do jogo. Nunca esquecerei o entusiasmo e orgulho dos nossos adeptos”, confessou.

Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias e campeonatos de futebol periféricos

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