As cúpulas do futebol mundial estão definitivamente em xeque

Os presidentes da FIFA e da UEFA foram suspensos, por um período de 90 dias, por suspeitas de corrupção. Para Michel Platini, a candidatura às eleições de Fevereiro de 2016 está seriamente em risco.

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Blatter e Platini foram suspensos pela FIFA FABRICE COFFRINI/AFP

É mais uma machadada na credibilidade dos principais gestores do futebol mundial. No tabuleiro sobre o qual actuam os pesos-pesados da modalidade, esta quinta-feira foi um dia de duplo xeque, declarado simultaneamente à FIFA e à UEFA. Joseph Blatter e Michel Platini, presidentes dos dois organismos, respectivamente, foram suspensos provisoriamente, por suspeitas de corrupção. Um cenário que poderá não causar total espanto no caso do suíço, há muito investigado pelas autoridades, mas que apanhou o antigo internacional francês de surpresa.

“É um problema muito sério. Essa acusação deliberada, insidiosa na sua natureza e inaceitável no procedimento, não tem outro objectivo que não seja manchar a minha reputação”, reagiu Michel Platini, através de comunicado.

Em causa está um pagamento de longa data, que já tinha levantado interrogações há alguns meses, mas que só agora parece produzir efeitos. Depois de as autoridades suíças terem aberto uma investigação à assinatura de um contrato de direitos de transmissão televisiva entre a FIFA e a confederação caribenha de futebol (CONCACAF), presidida pelo também acusado Jack Warner, o pagamento de dois milhões de francos suíços (cerca de 1,8 milhões de euros) por parte de Blatter a Platini, no ano de 2011, também foi escrutinado.

É precisamente essa transferência financeira que está na base da suspensão imposta pela Comissão de Ética da FIFA aos dois dirigentes. Um caso que, no final do mês passado, já havia merecido uma explicação da parte de Platini. “No período de 1998 a 2002 fui contratado pela FIFA para trabalhar sobre um largo conjunto de questões relacionadas com o futebol. Tratou-se de um trabalho a tempo inteiro e as minhas funções eram conhecidas de todos”, esclareceu o francês, acrescentando que “a remuneração foi acordada nessa altura”, embora o pagamento tenha sido concretizado quase dez anos mais tarde.

Na prática, a suspensão decretada a Blatter e Platini tem a duração de 90 dias, período durante o qual ficam ambos impedidos de desenvolver qualquer actividade ligada ao futebol, tanto a nível nacional como a nível internacional. Nesse sentido, será o presidente da Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Ángel María Villar, de 65 anos, a liderar interinamente a UEFA, por deter o estatuto de primeiro vice-presidente do organismo.

Para além das consequências imediatas que a decisão acarreta, para Michel Platini este pode bem ser o início do fim da sua candidatura à presidência da FIFA. O francês, tido como a carta mais forte do baralho de candidatos à sucessão de Blatter, nas eleições agendadas para Fevereiro de 2016, verá o seu processo avaliado no dia 26 deste mês, a data-limite para a formalização das candidaturas. E como essa avaliação passará, em parte, pelas mãos da Comissão de Ética, é fácil perceber que o responsável máximo da UEFA não terá vida fácil.

De resto, já nesta quinta-feira o presidente da Federação Alemã de Futebol (DFB), Wolfgang Niersbach, assinalou que este revés “é um peso enorme” nas ambições do francês à liderança da FIFA, aconselhando Platini a “ponderar se mantém a candidatura” e apelando a uma “reunião de emergência” do comité executivo da UEFA, na próxima semana.

Mesmo neste quadro, a federação inglesa (FA) garante que vai manter o apoio a Platini até serem revelados os resultados do inquérito, mas alerta que todas as questões devem ser cabalmente esclarecidas, referindo-se, em comunicado, a “um dia muito triste para o futebol”.

Até porque Blatter e Platini não foram as únicas “vítimas” da Comissão de Ética. O órgão, presidido por Hans-Joachim Eckert, decidiu ainda suspender pelo mesmo período o secretário-geral da FIFA, Jérôme Valcke, que já tinha sido afastado anteriormente devido também a suspeitas de corrupção, e Chun Mong-joon, antigo vice-presidente da FIFA e também candidato à presidência nas próximas eleições. Com a agravante de o sul-coreano ter sido expulso por um período de seis anos e multado em cerca de 91 mil euros, por, no processo de candidatura aos Mundiais de 2018 e 2022, ter infringido regras de boa conduta e de confidencialidade.

 

 

 

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