A alma do Fenerbahçe foi mais resistente do que o ferro

Benfica viu quatro bolas acertarem nos postes, mas regressa de Istambul com apenas um golo sofrido na primeira mão da meia-final da Liga Europa

O Benfica regressa da Turquia com um golo sofrido
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O Benfica regressa da Turquia com um golo sofrido Bulent Kilic/AFP
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Podia ter sido um resultado dramático para as aspirações do Benfica à presença na final da Liga Europa, mas os deuses do futebol entenderam poupar os “encarnados”. A equipa de Jorge Jesus perdeu (1-0) no terreno do Fenerbahçe, na primeira mão da meia-final, mas não se pode queixar da sorte. Por três vezes os ferros da baliza substituíram Artur a travar oportunidades de golo para os anfitriões — incluindo uma grande penalidade. Mas Korkmaz, na segunda parte, fez o golo da vitória do Fenerbahçe. Já na próxima quinta-feira, no Estádio da Luz, joga-se a segunda parte da eliminatória. O Benfica está em desvantagem e terá de fazer muito mais do que mostrou em Istambul.

Havia electricidade no ar, antes da partida. Da noite para o dia, as ruas e os ferries que ligam os dois lados (europeu e asiático) de Istambul foram invadidos pelas camisolas amarelas e azuis do Fenerbahçe. Em cada janela, carro, moto, uma bandeira. Havia quem fizesse a festa nas esplanadas junto ao estádio; outros posavam para a foto com o Estádio Sukru Saracoglu em fundo, de forma a guardar, para a posteridade, o dia em que o recinto foi palco de uma meia-final europeia.

O ambiente que se faria sentir no estádio foi assunto na antevisão da partida. E com razão: a instalação sonora, que duas horas antes do jogo debitava músicas do Fenerbahçe em alto volume, foi desligada quando as equipas subiram ao relvado para o aquecimento. Para os adeptos se fazerem ouvir. Alguns jogadores da casa (Webe, Kuyt, Meireles, Demirel, por exemplo) foram chamados individualmente pelas bancadas, enquanto a equipa de arbitragem e a do Benfica foram atingidos por uma autêntica parede sonora de assobios.

Jorge Jesus acabou mesmo por fazer uma escolha de contenção, tal como tinha deixado em aberto. André Gomes juntou-se a Matic no meio-campo, embora a maior surpresa tenha sido a titularidade de Aimar. O treinador optou pela experiência do argentino (cumpriu o 80.º jogo nas provas europeias) em detrimento de Gaitán, Carlos Martins ou até Rodrigo. Foi apenas a quarta ocasião, na presente temporada, em que Aimar jogou de início — já não acontecia há quase três meses, desde a primeira mão da meia-final da Taça de Portugal contra o Paços de Ferreira.

A primeira parte teve sentido quase único: a baliza do Benfica. E, já no período de compensação, os ferros da baliza de Artur evitaram que os “encarnados” chegassem ao intervalo em desvantagem. Numa grande penalidade a castigar falta de Ola John sobre Gönül, Cristian fez o mais difícil — acertou no poste. Logo a seguir o árbitro Milorad Mazic apitou para o intervalo, e o futebolista brasileiro saiu para o balneário em lágrimas.

Não era para menos: a ocasião é histórica para o Fenerbahçe, que pela primeira vez em mais de 100 anos de história disputa uma meia-final europeia. De resto, a equipa orientada por Aykut Kocaman até já tinha acertado nos ferros antes. Kuyt fez o centro na direita e Moussa Sow, de cabeça, viu a bola ser devolvida pela trave (18’). No minuto anterior o avançado senegalês já tinha tido uma grande oportunidade, mas atirou ao lado.

Já os ataques “encarnados” foram praticamente estéreis durante o primeiro tempo. Logo aos cinco minutos, Salvio, lançado por Cardozo, surgiu pela direita na cara de Demirel, mas viu o guarda-redes internacional turco resolver a situação. Aimar fez um remate ao lado (12’) e Cardozo nem isso, quando se perdeu em fintas e ficou sem a bola (42’).

A desilusão com o penálti desperdiçado fez com que o Fenerbahçe começasse o segundo tempo a acelerar a fundo. Logo a abrir a segunda parte, Artur desviou os remates potentes de Cristian e Raul Meireles. E depois foram, pela terceira vez, os ferros da baliza: Kuyt recebeu na área, rodou e disparou fora do alcance de Artur, mas a bola foi devolvida pelo poste.

Jorge Jesus tinha trocado Aimar por Gaitán ao intervalo e, com a equipa mais subida no terreno, o Benfica conseguia encurtar os espaços ao Fenerbahçe. Mas os “encarnados” continuaram a mostrar pouco no ataque. Cardozo, de longe, atirou para defesa fácil de Demirel (53’). E o remate do recém-entrado Gaitán, no minuto seguinte, roçou o poste da baliza dos turcos antes de sair.

Estava escrito, como se viu, que os postes seriam intervenientes da partida. E seria assim também no lance do golo que deu vantagem ao Fenerbahçe. Na sequência de um canto, Kuyt tocou de cabeça e Korkmaz emendou. A bola tocou no poste e Jardel tentou o corte, mas já tinha sido ultrapassada a linha de golo.

Na segunda mão da meia-final, em Lisboa, o Benfica começa em desvantagem. Em 1975, na primeira ronda da Taça dos Campeões Europeus, os “encarnados” também perderam 1-0 em solo turco. Mas antes tinham ganho 7-0 em Lisboa. Será possível que a história se repita?

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