Avança a igualdade total nas provas oficiais de atletismo

Introdução dos 50km marcha na vertente feminina, já a partir de Maio, unifica o programa. Marchadoras portuguesas defendem distância intermédia.

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Inês Henriques e Ana Cabecinha, em Daegu, em 2011 Mark Ralston/AFP

A Federação Internacional de Atletismo (IAAF) anunciou no início desta semana, no sentido de reforçar a não discriminação em função do sexo, que os programas da modalidade vão ficar totalmente igualizados, com a introdução da prova dos 50km marcha para o sector feminino. Esta decisão vai ser executada no mais curto lapso de tempo possível, incluindo-se, portanto, a nova disciplina na próxima Taça do Mundo de Marcha, que terá lugar em Roma, a 7 e 8 de Maio próximos.

Com esta medida, ficará efectivamente nivelado o programa de provas oficiais no atletismo, entre homens e mulheres. A caminhada foi longa, e, por exemplo, a hoje óbvia distância dos 1500m apenas se estreou para as mulheres nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972. No panorama das corridas, a distância dos 3000m obstáculos foi a última a ser introduzida no sector feminino, nos Mundiais de 2005, em Helsínquia, e quanto a Jogos Olímpicos apenas em 2008, em Pequim.

oi esta corrida, de resto, a última prova de todas a juntar-se ao rol no que respeita às equiparações dos programas, já que na década de noventa do século passado o triplo salto, o salto com vara e o lançamento do martelo passaram a ter assento oficial nos grandes campeonatos, continentais, mundiais e nos Jogos Olímpicos. Outro exemplo clássico é o da maratona, inicialmente proibida às mulheres, e que teve o seu primeiro grande campeonato somente em 1982, nos Europeus de Atenas, ganhos por uma certa… Rosa Mota.


No que respeita à marcha propriamente dita, só se estreou de todo no sector feminino (falando dos maiores cenários, claro) nos Mundiais de Roma, em 1987, e com a distância de 10km, que se manteve até à edição de Atenas 1997 – aí se realizou em pista –, passando-se finalmente para os actuais 20km no certame de Sevilha, em 1999. Nos Jogos, a marcha feminina só entrou em 1992, em Barcelona, na versão de 10km, passando-se para os 20km em Sydney 2000.

Chegou agora a vez dos 50km, mas para já não está ainda especificado quando se estreará esta ultralonga distância nos maiores certames do atletismo. Obviamente, pela sua proximidade, os Jogos do  Rio não irão acolher a nova prova. Ver-se-á se os Mundiais do ano que vem, em Londres, o farão, apesar do actual desinteresse britânico pela marcha.

A decisão da IAAF, no entanto, não gerou um entusiamo especial, mesmo no seio da comunidade dos marchadores, talvez porque no passado se chegou a aventar a retirada da distância dos 50km masculinos dos maiores eventos. Essa hipotética decisão acabou por não se corporizar, mas a nível mundial, e em algumas nações históricas, há cada vez menos atletas a fazerem o evento.

No panorama do atletismo português a marcha é, precisamente, uma das disciplinas em maior destaque, e Portugal deverá ter no Rio de Janeiro três atletas, a maior quota possível, na distância dos 20km. A estagiarem em altitude em Espanha, já depois do Grande Prémio de Rio Maior, no passado, as duas melhores portuguesas da actualidade mostraram-se algo reservadas em relação à novidade 50 km, embora aprovando na base este novo passo da IAAF.

Inês Henriques, que a 1 de Maio cumprirá 36 anos e que no sábado estabeleceu um novo máximo pessoal, com 1h29m14s, considera esta “uma boa decisão da IAAF porque gera paridade entre homens e mulheres". "Assim podem ir seis atletas aos maiores campeonatos, tantas como nos homens, e não só três mulheres. Mas claro que, para já, não penso fazer a distância”. Quanto ao desafio  em si, Inês não o receia. ”Recentemente até me tornei pioneira ao fazer uma prova de 30km, mas sinceramente creio que uma distância intermédia entre os 20 e os 50km, por exemplo 30 ou 40 km, seria o mais adequado”.

Ana Cabecinha, de quase 32 anos, a recordista nacional com 1h27m46s desde 2008, também concorda com a medida. “É bom haver mais uma distância para o lado feminino na marcha, porque com uma só prova, como até hoje, muitas atletas a fazerem boas marcas ficam sem lugar nas equipas para os maiores campeonatos”.

À imagem de Inês Henriques, a alentejana, há longos anos a residir em Pechão, no Algarve, também acredita que uma distância menor seria mais apropriada. “Penso que deveria ser entre os 30 e os 35km”. Mas, ao invés da colega, não planeia praticá-la. "Para mim não dá! Em 50km, para além do desgaste físico, o desgaste mental é tremendo. 50km parece-me demasiado para uma mulher… Acho que vou ficar-me pelos 20km.”

 

 

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