As muitas coisas que Mourinho tem para fazer no Manchester United

Devolver os “red devils” aos títulos depois de três anos de seca é o principal desafio para o técnico português, que irá partilhar a cidade com Pep Guardiola.

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Em Old Trafford já se vende cachecóis com a cara de José Mourinho Clint Hughes/AFP

Não foi só por não ter sido campeão nos últimos três anos que se pode considerar que o Manchester United está em crise. É que nem sequer ficou nos três primeiros, algo que já não se via em Old Trafford desde os primeiros tempos de Alex Ferguson. Será esse o primeiro desafio de José Mourinho, anunciado nesta sexta-feira como treinador dos “red devils” para as próximas três temporadas: fingir que estes últimos anos não aconteceram. E isso significa colocar o United a ganhar rapidamente, até porque há uma circunstância adicional que não pode ser ignorada e que obriga a um crescimento acelerado. A metade azul de Manchester, o City, foi buscar Pep Guardiola para fazer o mesmo que o United pretende com Mourinho.

A acreditar naquilo que Diego Torres escreveu no livro “A Guerra de Mourinho”, este era um emprego que o treinador português desejava desde os tempos em que Alex Ferguson se retirou e escolheu o seu compatriota David Moyes como seu sucessor em 2013. Depois de tantas visitas a Old Trafford como adversário, a primeira das quais como treinador do FC Porto em 2004 (em que correu ao longo da linha lateral após o golo de Costinha que lançou os “dragões” para o título europeu), Mourinho vai finalmente ser do United, clube que qualifica como “gigante” e que por isso tem de ter “os melhores treinadores”.

Há quem pense que Mourinho e o United são incompatíveis, uma opinião expressa, por exemplo, pelo francês Eric Cantona, antiga glória do clube, numa entrevista recente ao Guardian. “Adoro-o, mas não representa o estilo do United. Não acho que as equipas dele tenham o estilo de jogo que os adeptos do United gostam, mesmo que ganhem”, dizia o antigo avançado francês. Contra isto, Mourinho poderá argumentar com o seu curriculum, que prova que ele é, acima de tudo, um vencedor, com vários títulos em Portugal, Itália, Espanha e Inglaterra. Foi essa a mensagem que o técnico deixou na breve entrevista ao canal televisivo do United: “ Preciso que os adeptos e os jogadores sintam que nós realmente podemos ganhar e que não são apenas palavras.”

Talvez o United como está agora, seja o maior desafio de reconstrução que Mourinho tem pela frente desde os tempos do FC Porto, em que transformou um clube em crise de resultados (três anos sem ser campeão) num campeão europeu. Claro que o Manchester United tem os bolsos mais fundos que o FC Porto para bancar uma remodelação do plantel, mas também teve com Van Gaal (a imprensa inglesa estima em cerca de 250 milhões de libras em duas temporadas) e os resultados foram escassos, apenas uma Taça de Inglaterra no último jogo do holandês no banco dos “red devils”. E Mourinho também precisa de um clube como o United para ele próprio esquecer a época passada em que o perdeu nove dos 16 jogos na Premier League à frente do Chelsea.

Possíveis listas de dispensas e de contratações têm sido amplamente divulgadas na imprensa inglesa, e não há dúvida que o United, reforçado com os milhões do novo negócio das transmissões televisivas, vai tentar dar a Mourinho o que ele quer, mas há sempre a condicionante de o United não estar na Liga dos Campeões na próxima temporada e a concorrência interna no mercado de transferências se prever forte. Também aqui o United pode beneficiar da presença de um treinador com “star power” como Mourinho indiscutivelmente tem para atrair os alvos mais apetecíveis. Zlatan Ibrahimovic, que está disponível a “custo zero”, deverá ser um dos primeiros a chegar.

E depois há sempre o facto de Pep Guardiola também ir morar para Manchester, o que vai dar outra dimensão à rivalidade dos dois maiores clubes da cidade e dos dois treinadores. A convivência entre Guardiola e Mourinho quando um estava no Barcelona e o outro no Real Madrid não foi nada pacífica, por vezes até beligerante. E isso foi quando estavam em cidades diferentes. A distância entre Old Trafford e o Etihad é de apenas sete quilómetros.

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