Um título merecido ganho graças a quem menos se esperava

Artur foi o herói da conquista da quinta Supertaça da história do Benfica. O guarda-redes revelou-se sempre inseguro durante os 120’, mas foi decisivo no desempate por penáltis.

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Artur foi o herói do jogo FRANCISCO LEONG/AFP
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0-0 nos 120 minutos Hugo Correia/Reuters
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Talisca foi um dos estreantes na equipa do Benfica FRANCISCO LEONG/AFP
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A festa benfiquista FRANCISCO LEONG/AFP
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Jorge Jesus já conquistou os principais títulos do futebol português FRANCISCO LEONG/AFP

A história está repleta de heróis acidentais e o último deles chama-se Artur Moraes. O guarda-redes brasileiro, que até este domingo estava com pé e meio fora do Estádio da Luz, voltou a comprometer durante o jogo, mas depois de 120 minutos em que o domínio do Benfica não foi traduzido em golos, Artur defendeu três grandes penalidades e garantiu para o Museu do Benfica a quinta Supertaça da história dos “encarnados”.

Há quatro anos, na última vez que o Benfica tinha marcado presença numa Supertaça, o estado de espírito benfiquista era diametralmente oposto ao actual. Tal como agora, os adeptos estavam na ressaca dos festejos da conquista do título nacional e o plantel registava a perda de alguns pesos-pesados (Ramires e Di María — David Luiz ainda disputou essa partida), mas os resultados da pré-temporada tinham sido animadores e entre as caras novas havia matéria-prima prometedora (Gaitán e Salvio).

Desta vez, com praticamente tudo colocado em causa após três semanas desastrosas a nível de resultados, Jorge Jesus tinha às suas ordens uma equipa encurralada dentro de uma panela de pressão, mas o treinador, tal como há quatro anos, não deixou de surpreender. Contra o FC Porto, em 2010-11, Jesus colocou Rúben Amorim na direita da defesa, César Peixoto na esquerda e Coentrão a fazer de Dí Maria. Deu-se mal, a aposta foi um flop e o FC Porto de Villas-Boas fez o que quis do Benfica. Agora, o coelho que saiu da cartola foi Talisca. Depois de andar durante toda a pré-época a formatar o jovem brasileiro para o papel de Enzo, Jesus colocou o baiano na “pele” de Rodrigo. Mesmo sem deslumbrar, Talisca mostrou que pode ser mais vezes a solução do que o problema.

No resto, foi inventar o mínimo possível e fazer uso do que ainda sobra do “melhor plantel dos últimos 30 anos”. Com Luisão e Jardel de regresso, Jesus assegurou a tranquilidade defensiva que a dupla Sidnei

César nunca garantirá e quando um técnico (ainda) consegue colocar na ficha de jogo da sua equipa Enzo, Gaitán, Salvio e Lima, as preocupações terão que estar do lado do treinador adversário. Falta, no entanto, um “matador”.

E do outro lado esteve Pedro Martins. Com o primeiro exame (pré-eliminatória da Liga Europa) ao comando do Rio Ave superado com sucesso, o ex-técnico do Marítimo manteve a aposta nos jogadores que mostraram competência frente ao Gotemburgo, mas o Benfica é incomparavelmente superior aos suecos e os vila-condenses, por mérito benfiquista, nunca conseguiram servir em quantidade e qualidade o trio de ataque (Ukra, Del Valle e Hassan) e para os restantes oito jogadores da formação de Vila do Conde durante os 120 minutos a missão foi quase só uma: defender.

Preso no seu meio-campo pela pressão exercida pelo Benfica, o Rio Ave sofreu o primeiro susto logo aos 2’, quando Gaitán marcou um livre e Luisão obrigou Cássio à primeira defesa. Com Enzo como patrão e a variar bem o jogo pelos flancos, os benfiquistas realizaram uma primeira meia hora de grande nível. No entanto, os 12-1 em remates foram apenas o prenúncio do que seria o jogo. Após aguentar a avalanche inicial, o Rio Ave começou a respirar melhor e no primeiro minuto de descontos da primeira parte, Artur tentou fintar Del Valle, quase perdeu a bola e ofereceu ao rival a melhor oportunidade até esse momento. Os vila-condenses não aproveitaram o brinde, mas o guarda-redes deu mais um tiro no pé.

E a história do que restou da 36.ª Supertaça não foi muito diferente. Sempre com o Benfica no ataque e sempre com o Rio Ave a defender-se bem, os minutos foram passando e quando Duarte Gomes apitou pela última vez no tempo regulamentar já havia 28-4 em remates a favor das “águias”. O empate mantinha-se.

O prolongamento começou com mais uma grande defesa de Cássio após cabeceamento de Jardel, mas Enzo, Gaitán e Salvio já não davam para mais e o Benfica teve que esperar pelos penáltis para conquistar o título que merecia. E deve-o a quem? Artur Moraes, herói improvável após defender três grandes penalidades vila-condenses.

 

Ficha de jogo

Benfica 0 (3)
Rio Ave 0 (2)

Jogo no Estádio Municipal de Aveiro, em Aveiro.

Assistência 29.895 espectadores

Benfica Artur, Maxi Pereira, Luisão, Jardel, Eliseu, Ruben Amorim, Enzo Pérez, Talisca (Derley, 69’), Gaitán (Ola John, 100’), Salvio (Bebé, 105’+1’), Lima. Treinador Jorge Jesus.

Rio Ave Cássio, Nuno Lopes (Wakaso, 88’), Marcelo, Prince, Tiago Pinto, Pedro Moreira (Diego Lopes, 55’’), Filipe Augusto, Tarantini, Ukra, Del Valle, Hassan (Boateng, 55’). Treinador Pedro Martins.

Golos (penáltis) Tarantini (falhou), Derley (falhou), Filipe Augusto (0-1), Lima (1-1), Ukra (1-2), Bebé (2-2), Diego Lopes (falhou), Luisão (3-2), Tiago Pinto (falhou)

Árbitro Duarte Gomes (Lisboa)     

Amarelos Enzo Pérez (44), Tiago Pinto (53), Filipe Augusto (80), Diego Lopes (90), Cássio (110) e Wakaso (111).

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