Agência Mundial de Antidopagem promete revelações "siderantes"

A entidade que fiscaliza os controlos antidoping a nível internacional vai apresentar o seu mais recente relatório.

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Atletas russos durante um treino em Stavropol EDUARD KORNIYENKO/Reuters

Dois meses depois de ter publicado o seu relatório choque sobre um sistema de “dopagem organizada” no atletismo russo, a comissão independente de investigação da Agência Mundial de Antidopagem (AMA) promete novas revelações “siderantes” nesta quinta-feira, em Munique, Alemanha, tendo na sua mira alguns dos principais responsáveis da Federação Internacional de Atletismo (IAAF, sigla na versão inglesa) e um país como o Quénia.

No final de Novembro do ano passado, Dick Pound, presidente da comissão, deixava o aviso no ar: “[As revelações] terão um efeito sideral, penso que as pessoas vão questionar-se como foi possível as coisas acontecerem”.

"É preciso mostrar como alguns dirigentes actuaram, (…) raramente vi presidentes de federações desportivas de tal forma implicados em esquemas de corrupção”, acrescentou o canadiano a 8 de Janeiro, qualificando o caso como um escândalo “pior” do que aquele que abalou o futebol e a FIFA: "Há menos zeros em jogo, mas há interferência directa nos resultados desportivos.”

Presidente durante 15 anos da IAAF, até Agosto passado, Lamine Diack, 82 anos, será muito provavelmente visado nesta quinta-feira, em Munique, segundo confessou à AFP uma fonte próxima do processo. Aquele dirigente já está, aliás, a ser investigado pela justiça francesa por corrupção passiva e branqueamento de capitais e por corrupção.

O senegalês é suspeito de ter recebido um milhão de euros no âmbito de um esquema de chantagem organizada através do qual atletas, russos e de outras nacionalidades, pagavam para que os seus controlos antidoping positivos não fossem revelados.

Neste sistema, Lamine Diack envolveu o seu próprio filho, Papa Massata Diack, banido de forma vitalícia da IAAF a 7 de Janeiro, bem como Valentin Balakhnichev, anterior tesoureiro da IAAF e o ex-presidente da federação russa de atletismo, e Alexei Melnikov, ex-treinador da equipa de marcha da Rússia.

Há ainda a dúvida sobre se o inglês Sebastian Coe, sucessor de Diack na presidência da IAAF, e Serguei Bubka não serão também atingidos.  

A 8 de Janeiro, Dick Pound não colocava a sua mão no fogo pelo duplo campeão olímpico dos 1500m (1980 e 1984) e pela lenda do salto com vara ucraniano, ex-vice presidentes da IAAF. "Coe e Bubka estavam lá. (...) E ambos tiveram a oportunidade, há muito tempo, de enfrentar estes problemas", declarou o canadiano.

Revelados na quarta-feira pela agência noticiosa Associated Press, diversos mails de 2009 enviados à federação russa, provam que a IAAF conhecia a dimensão da dopagem entre os atletas russos, que, em alguns casos, chegou a colocar a própria vida em risco”.

Forçado no fim do mês de Novembro a sacrificar os 142 mil euros de salário anual que recebia da Nike devido às acusações de “conflito de interesses”, nomeadamente depois da atribuição dos Mundiais de atletismo de 2021 à cidade norte-americana de Eugene, sede da marca de equipamento desportivo, Coe coloca-se à margem de todos estes casos, apesar de, em tempos, ter apelidado Lamine Diack como "seu líder espiritual".

O problema Quénia

A comissão independente da AMA vai apresentar as conclusões à análise dos resultados a uma base de dados de 12.000 amostras sanguíneas recolhidas pela IAAF entre 2001 e 2012 a 5000 atletas. E foram estas amostras que levaram a cadeia televisiva alemã ARD e o jornal inglês Sunday Times a afirmarem, em Agosto, pouco antes dos Mundiais de Pequim, que um terço dos146 medalhados nos Jogos Olímpicos e nos Mundiais nesse intervalo temporal (2001-2012) apresentavam resultados suspeitos”. E entre eles, encontravam-se 18 quenianos.

E se o primeiro relatório da comissão de investigação da AMA, divulgado a 9 de Novembro, visou exclusivamente o atletismo russo, falando de uma “cultura profundamente enraízada de batota”, o Quénia pode ser o próximo país na fila. Até porque a suspensão provisória do presidente da Federação Queniana de atletismo, no final de Novembro não é um dado encorajador.

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