Seleccionador inglês pediu dinheiro para ensinar a contornar regras das transferências

Sam Allardyce, há dois meses no cargo, tem a posição em risco.

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Reuters/CARL RECINE

Dois meses depois de ter chegado ao cargo que “sempre desejou desempenhar”, Sam Allardyce tem o lugar de seleccionador inglês em risco. O técnico de 61 anos foi filmado pelo jornal Daily Telegraph a dar conselhos a alegados investidores sobre como contornar os regulamentos da Federação inglesa (FA) que proíbem a posse partilhada de passes de jogadores. A estrutura federativa está reunida para apurar se o técnico fez realmente os comentários de que é acusado e discutir o futuro de Sam Allardyce.

Em várias reuniões com alegados investidores do Extremo Oriente, que afinal eram repórteres do Daily Telegraph sob disfarce (o último dos encontros decorreu há uma semana, em Manchester), Sam Allardyce foi filmado a criticar as regras que proíbem a posse partilhada dos passes de futebolistas. “[O regulamento] é ridículo. Mas há formas de contornar isso. É aí que está o dinheiro”, afirma o técnico. O recurso a fundos de investimento está vedado em Inglaterra desde 2008. A FIFA interditou a prática desde 1 de Maio de 2015.

“Recebes uma percentagem do representante do jogador, que ele te paga. Dada a dimensão dos contratos actualmente, na ordem dos 30 ou 40 milhões, se receberes 10% e tiveres acordado com o representante receber mais 5% da parte dele, é uma quantia espectacular para duas horas de trabalho”, descreve Allardyce no vídeo do Daily Telegraph. Na edição desta terça-feira, lê-se na manchete do diário: “Seleccionador inglês à venda”.

O técnico também discute com os alegados investidores um acordo que o levaria a fazer quatro viagens anuais a Singapura e Hong Kong para encontrar-se com empresários interessados em estabelecer fundos de investimento em futebolistas. “Vocês definem a agenda, em que dia eu voo, se vou para Hong Kong ou Singapura, em que hotel fico, com quem me encontro. Eu faria o tal discurso e regressaria um ou dois dias depois”, afirma. Em troca, pedia 400 mil libras (464 mil euros). O contrato que Allardyce assinou com a FA prevê uma remuneração anual na ordem dos três milhões de libras (3,5 milhões de euros) a que se juntam valores bónus.

A Federação inglesa pediu ao Daily Telegraph a transcrição completa dos encontros secretos e está a avaliar a posição do técnico. O presidente Greg Clarke e o director-executivo Martin Glenn estiveram reunidos com Allardyce mas ainda não foi anunciada qualquer decisão.

Para além das matérias mais graves, Sam Allardyce também foi apanhado a criticar o sistema fiscal britânico, que descreveu como “corrupto”, e a troçar de Roy Hodgson, a quem sucedeu no cargo de seleccionador inglês. Allardyce, que não quis comentar as revelações do Daily Telegraph, também afirmou que a remodelação de Wembley feita pela FA foi “estúpida” e descreve Gary Neville, o adjunto de Hodgson, como “uma má influência”.

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