À volta do Tour: A segunda oportunidade de Rein Taaramae

Leia aqui algumas das histórias mais desconhecidas da mais importante corrida de ciclismo do mundo.

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Rein Taaramae quando ainda corria pela Cofidis DR

Rein Taaramae é um daqueles condenados pelo epíteto de “nova grande promessa do ciclismo mundial”. Aos 20 anos já era estagiário da Cofidis, somava triunfos no Circuito das Ardenas, segundos lugares no ‘crono’ dos Europeus de sub-23 e dos campeonatos nacionais do seu país. Aos 21, corria o mundo, deslumbrava em Portugal (venceu duas etapas e foi terceiro no Grande Prémio de Portugal), estreava-se nos Jogos Olímpicos. Um verdadeiro prodígio. Um futuro vencedor de grandes Voltas. Quatro anos depois, a imprensa especializada, implacável e taxativa, considerava-o acabado.

A sentença talvez nem fosse injusta. Eterno campeão da Estónia (tem três títulos nacionais de contra-relógio e dois de estrada), o jovem de Tartu eclipsava-se no pelotão, acumulava postos desastrosos e desistências. Taaramae tardava em confirmar o potencial demonstrado com o 11.º lugar na sua segunda presença no Tour, em 2011, ou com um triunfo numa etapa na Vuelta nesse mesmo ano. A paciência dos responsáveis da Cofidis começava a esgotar-se.

“Às vezes, sentia a preocupação nas perguntas que me colocavam. “Estás a treinar bem?”, “Estás a cuidar da alimentação?”. Não eram só os directores da Cofidis, eram os meus amigos, companheiros de treino. Estava desesperado. Pensei que o meu ‘motor’ tinha estourado”. A incapacidade física, inexplicável, era gritante. Esteve parado, sem pegar na bicicleta, oito meses, até ao Verão de 2013. Durante dois anos, inscreveu apenas duas novas linhas no seu vasto palmarés, as duas referentes as nacionais do seu país. “Comecei a pensar que não podia continuar, que seria forçado a abandonar o ciclismo”.

A paixão pela modalidade foi mais forte do que o facilitismo da desistência. Consultou médicos, especialistas, os melhores da Europa. Descoberta e curada uma mononucleose, debateu-se com problemas respiratórios, solucionados apenas em Abril do ano passado. Operado à laringe para retirar tecido, de modo a poder, finalmente, respirar, a "Raposa" voltou, poucas semanas depois, a atacar. Ganhou na Volta à Turquia, no final da temporada no Tour du Doubs. Os sinais eram animadores. E, num dia de Agosto, o telefone tocou. Do outro lado estava Alexandre Vinokourov, o director desportivo da Astana e homem de segundas oportunidades, que lhe oferecia um contrato por uma época.

Com a Cofidis fora do World Tour, o estónio, conversador e poliglota (fala fluentemente francês e inglês, espanhol q.b., assim como italiano) não hesitou em trocar a sua equipa de sempre pela formação cazaque, uma das potências do ciclismo mundial. O impacto da mudança foi imediato: vitória na Volta a Múrcia, um sexto posto na Volta ao Algarve e a capacidade de subir bem à frente dos sprinters. Aos 28 anos, Rein Taaramae está preparado para viver a sua segunda oportunidade no ciclismo. E agora sem o peso de ser uma promessa adiada.

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