A resposta táctica de Bruno César

O FC Porto entrou melhor no encontro, estruturando-se num 4x3x3 em organização ofensiva. Deixando Danilo sozinho como trinco e Herrera numa segunda linha (baixava para buscar jogo e disparava em condução), era André André, mais adiantado, que se libertava da marcação e conseguia excelentes passes para o avançado-centro André Silva, na exploração do espaço vazio. Este trio, tentando roubar alto, controlou os espaços através da definição clara de uma zona de pressão central, inviabilizando a circulação de William e a sua ligação com Adrien, numa atitude proactiva que incapacitava a ligação de sectores leonina. É num desses momentos, depois de uma recuperação de Danilo no meio-campo contrário, seguida de um transporte rápido individual, que acontece a falta que dá origem ao golo inaugural do central Felipe.

Os portistas baixavam estrategicamente o bloco em momento defensivo, formando um 4x1x4x1, com os extremos a fecharem os corredores laterais. Recuo que pretendia atrair a subida de linhas da equipa contrária e lançar ataques rápidos que explorassem a profundidade. Apesar de ofensivamente ter penetrado no espaço criado nas costas, o posicionamento tolhido atrás da linha da bola inviabilizou a continuação do domínio territorial alcançado no início. Não foi capaz de, ou não quis, ter bola… apenas pretendeu cobrir os espaços.

O Sporting, de forma temerária, respondeu ao chamamento para subir no terreno e reagiu bem ao golo. É através de uma incursão rápida de Islam Slimani que nasce o empate, com o argelino a conseguir fugir ao lento Marcano para ganhar um livre. O excelente pontapé de Bruno César dá origem à recarga vitoriosa do argelino… e o jogo mudaria a partir daí. Jorge Jesus percebeu a superioridade azul e branca no miolo e alterou o posicionamento de Bruno César, que no 4x4x2 inicial actuou sobre a faixa esquerda (para executar diagonais interiores).

A troca do brasileiro com Bryan Ruiz permitiu uma presença mais forte no corredor central e maior rapidez nos encurtamentos para recuperar a posse. Os seus movimentos atacantes passaram a ser feitos de dentro para fora, tentando aparecer com constância na linha para centrar ou combinar com o veloz Marvin.

Essa alteração no sistema permitiu contrariar a pressão zonal portista, possibilitando a variação rápida do centro de jogo, com a bola a chegar com qualidade aos flancos. Tal dinâmica deu frutos, como na jogada do segundo golo, com Bruno César a arranjar espaço para cruzar — Felipe alivia muito mal (parece melhor na área contrária do que na sua) e a bola sobra para um tiro certeiro de Gelson (sempre muito vertical e explosivo, amarrou o perigoso lateral do FC Porto Alex Telles, que nunca teve coragem para subir no terreno).

A segunda parte foi toda dominada pelo Sporting, que conseguiu impor o seu futebol apoiado, sendo também organizado e estável sem bola, nunca “bailando” nas marcações. Nos “dragões”, a saída de Corona para entrar Óliver extinguiu o futebol mais profundo, sem surtir o efeito desejado — unir o sector intermediário ao atacante.

No FC Porto, é preocupante a incapacidade de ter bola, mesmo que não seja esse o padrão de jogo do seu treinador (privilegia o ataque rápido). É necessário saber gerir os ritmos com o esférico (já no jogo com a Roma essa lacuna foi detectável).

No Sporting é importante destacar a capacidade de resposta ao jogo de Jorge Jesus, que contrariou a superioridade adversária e virou a partida. Está, assim, garantida a estabilidade neste período conturbado da época.

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