A noite que Cosmin Moti nunca mais esquecerá

O Ludogorets está pela primeira vez na fase de grupos da Liga dos Campeões, graças a um defesa que surpreendeu como guarda-redes.

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O futebol tem destas coisas. É capaz de, num abrir e fechar de olhos, transformar um operário em herói, trocando as voltas a todos os prognósticos. A vida desportiva de Cosmin Moti não vai voltar a ser a mesma depois da noite desta quarta-feira. O defesa do Ludogorets tem uma história com todos os ingredientes necessários para entreter os netos, daqui a uns anos. Em Razgrad, foi obrigado a calçar as luvas para segurar o apuramento do campeão búlgaro para a fase de grupos da Liga dos Campeões.

Vamos por partes. Os adeptos da casa tiveram de sofrer - e não foi pouco - para verem o Ludogorets chegar pela primeira vez ao lote dos 32 melhores clubes da Europa. Da Roménia, tinham trazido uma derrota por 1-0, frente a um Steaua de Bucareste que teve o pássaro na mão até aos últimos instantes.

Foi praticamente no derradeiro suspiro que a esperança renasceu. Na sequência de um pontapé de canto, o brasileiro Wanderson (lançado em campo dois minutos antes) rematou de primeira para um golo monumental, que empatou a eliminatória. O cronómetro marcava 90 minutos e o prolongamento era um dado adquirido.

Por esta altura, já todos os outros jogos do play-off estavam decididos. Na Ludogorets Arena, ainda o filme ia a meio. Com mais coração do que cabeça, o tempo extra foi correndo com os penáltis à vista e uma contrariedade de última hora para a equipa da casa. Aos 119', o guarda-redes Vladislav Stoyanov derrubou Fernando Varela e foi expulso. As substituições estavam esgotadas. A esperança ainda não.

Grandes penalidades e portas abertas para o herói do dia. Cosmin Moti, central romeno que representou durante sete temporadas o Dínamo Bucareste (rival histórico do Steaua), assumiu as despesas. Levantou o queixo, calçou as luvas e encarou olhos nos olhos os compatriotas, a partir da linha de baliza.

Esta era a sua noite e, se dúvidas houvesse, assumiu a responsabilidade de bater a primeira grande penalidade. Correu para a bola e não vacilou. 1-0 para o Ludogorets. Depois trocou de papel e não teve sucesso à primeira tentativa. À segunda, o seu registo menos ortodoxo deu resultado: defendeu o remate de Pirvulescu. Os adeptos búlgaros exultavam. Seguiram-se quatro penáltis bem sucedidos do Steaua (e um falhanço pelo meio de Wanderson, a figura do tempo regulamentar). Tudo empatado. Até que Rapa bateu para o lado esquerdo e encontrou pelo caminho o corpo de Moti, a partir de agora um gigante no imaginário dos apoiantes do Ludogorets.

Com o 6-5 final, os búlgaros faziam história. E com eles um romeno de 29 anos que entrou para a galeria dos heróis improváveis à custa de um adversário do seu país. "Foi uma loucura. Estivemos tão perto de vencer, depois tão longe e conseguimos ganhar. Este é o melhor jogo da minha carreira, nunca o irei esquecer", reagiu, emocionado, ao site da UEFA.

Quem também vai recordar esta aventura é o treinador do Ludogorets, Georgi Dermendviev, que percebeu nesta quarta-feira que ainda não tinha visto tudo na carreira. "Por vezes nos treinos, quando preparamos as grandes penalidades, ele tem o hábito de ir para a baliza na brincadeira. Perguntei-lhe se ele queria ir para a baliza e ele aceitou. Ele tem um bom instinto e reflexos, mas tudo isto é incrível, pois ele nunca tinha treinado com luvas". O futebol tem destas coisas.

 

 


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