A maldição dos três cartões

Não, a culpa não foi de Béla Guttmann. A culpa foi do segundo cartão amarelo para Enzo Pérez aos 66 minutos do jogo com a Juventus, foi da expulsão de Markovic aos 88 e foi do amarelo para Salvio aos 90.

Não, a culpa não foi de um judeu húngaro que está morto há mais de 30 anos. A culpa foi de dois argentinos e de um sérvio vivaços, que para ganharem uma meia-final comprometeram a final propriamente dita. Sem os dois melhores extremos, com o terceiro (Sulejmani) a lesionar-se logo no início, com o quarto (Gaitán) a durar só 75 minutos, mais as saudades de Matic e a lesão de Fejsa, as hipóteses do Benfica diminuíam bastante.

Para acabar com a maldição, o Benfica precisaria de três milagres: 1) que André Gomes e Ruben Amorim compusessem uma dupla maravilha no meio campo, 2) que Sulejmani mostrasse um talento que ainda não se vislumbrou esta época, e 3) que Cardozo tivesse aprendido a marcar penáltis nos meses que leva no banco. Pelo primeiro milagre esperou-se 126 minutos, em vão. O segundo morreu logo aos 12 minutos, graças a um pontapé de Moreno. E o terceiro faleceu nas mãos de Beto.

Claro que, à boa portuguesa, podemos sempre queixar-nos do árbitro alemão: dois ou três penáltis não assinalados, três passos para a frente de Beto antes de defender o remate de Cardozo. Mas queixarmo-nos de Felix Brytch é tão eficaz quanto queixarmo-nos de Angela Merkel. Queixinha por queixinha, prefiro a maldição de Guttmann, que sempre tem um certo pathos shakespeariano. Contem comigo: 1963, 1965, 1968, 1983, 1988, 1990, 2013 e 2014. Oito finais europeias perdidas em sequência. É um recorde tramado. Mas é um recorde.

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