A Irlanda à procura de uma nova canção

Só uma vitória frente à Itália permitirá aos irlandeses chegarem aos oitavos-de-final. Procura-se um novo Ray Houghton.

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"Atirem-se a eles", pediu o adjunto Roy Keane John Sibley/Reuters

A República da Irlanda nunca foi uma selecção de topo no futebol europeu, tendo-se destacado sempre pela combatividade, pelo espectáculo dos adeptos e por uns quantos pontas-de-lança que foram deixando alguma marca no futebol britânico, de John Aldrigde a Tony Cascarino, passando por Nial Quinn ou Robbie Keane, que ainda joga neste Euro 2016. Mas há um nome que sobressai na hora das melhores memórias futebolísticas dos “verdes”: Ray Houghton.

Este médio do Liverpool, nascido na Escócia mas que optou pela selecção irlandesa por causa do pai, marcou o golo da primeira e única vitória da Irlanda em Europeus de futebol. Foi há 28 anos, quando aos seis minutos bateu Peter Shilton, dando um triunfo sobre a super-favorita Inglaterra de Bobby Robson na estreia no Euro 1988. Houghton haveria ainda de marcar o golo de outra vitória marcante da Irlanda, no Mundial de 1994 sobre a Itália.

É, por isso, a pensar num novo Ray Houghton que a República da Irlanda enfrenta hoje (20h) a Itália. Só uma vitória permitirá chegar aos oitavos-de-final perante um adversário que já está qualificado em primeiro lugar e que poupará boa parte dos seus titulares.

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Ainda assim, as segundas linhas de Itália são, na teoria, muito superiores ao melhor “11” da Irlanda, que, tal como há 28 anos, frente à Inglaterra, entrou em campo com probabilidades muito baixas.

“Os meus jogadores estão prontos e sabem o que fazer”, disse ontem o seleccionador Martin O’Neil, dando o mote para um jogo em que promete uma equipa combativa como sempre. Ou, se forem seguidos os conselhos do adjunto Roy Keane, mais combativa do que nunca. “O meu conselho é: ‘sim, atirem-se a eles. Não estamos aqui para fazer amigos”, afirmou o antigo jogador do Manchester United, citado pela imprensa irlandesa. “Se for preciso fazer falta, façam. Não é crime. Podem levar um amarelo ou até um vermelho, mas a vossa equipa pode ganhar. É preciso fazer sacrifícios pela equipa”, acrescentou o treinador adjunto, apelando ao espírito guerreiro da selecção irlandesa.

Ray Houghton contou mais tarde que uma das maiores recordações daquela tarde de 12 de Junho de 1988 em Estugarda foi a forma como os jogadores irlandeses regressaram ao balneário, esgotados, espumando da boca. “Estávamos absolutamente exaustos. Demos tudo o que tínhamos.”

E o espírito desejado para Lille é o mesmo. “Temos de dar aos nossos maravilhosos adeptos tudo o que eles nos dão”, sublinhou Martin O’Neil, que deseja uma equipa de raça, como a que enfrentou a Suécia (1-1), e não a suave Irlanda que perdeu com a Bélgica (3-0). O jogo com os belgas, aliás, valeu críticas duras aos irlandeses, bem evidentes nas declarações do italiano Marco Tardelli, antigo adjunto de Trapattoni na selecção irlandesa. “Cometeram demasiados erros. Uns atrás dos outros e sempre pela mesma razão: têm dificuldades em abordar o jogo tacticamente. Eles não percebem que o futebol também é uma questão intelectual”, acusou o antigo avançado, elogiando, no entanto, o carácter e a condição física dos jogadores irlandeses.

Martin O’Neil já pediu prudência à sua equipa, para não ser surpreendida no contra-ataque, mas é bem provável que a dada altura os irlandeses se aventurem num desenfreado ataque à redes italianas. A façanha de Ray Houghton há 28 anos aconteceu em Estugarda e até deu origem à canção Joxer Goes to Stuttgart do músico folk Christy Moore. Agora, em Lille, tudo o que os irlandeses querem é motivos para criar uma nova canção.

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