“A FIFA tem simpatia por ditadores e uma boa dose de sexismo”

Mark Pieth, o homem escolhido pela entidade que rege o futebol mundial para avaliar a ética daquele organismo, é demolidor numa entrevista a um jornal alemão.

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Mark Pieth tem lutado contra a corrupção em várias instituições Nuno Ferreira Santos

As denúncias não são novas, mas as palavras talvez sejam as mais duras de sempre. Mark Pieth designado por Sepp Blatter, presidente da FIFA, para liderar o comité independente anticorrupção da entidade que rege o futebol mundial na sequência dos escândalos que rodearam a escolha dos países que vão organizar os Mundiais de 2018 e 2022 e a corrida à presidência do organismo em 2011, denuncia que a FIFA não tem nenhuma vontade de se reformar a sério.

Simpatia por ditadores, uma boa dose de sexismo e nenhum desejo de se reformar a sério são as acusações de Mark Pieth, jurista suíço e o homem encarregado de avaliar a conduta ética da FIFA, que atacou publicamente e sem tibiezas a cúpula dirigente do futebol mundial, numa entrevista ao jornal diário alemão Sueddeutsche Zeitung.

Segundo Pieth, que também é conselheiro do Banco Mundial para a luta contra a corrupção, os dirigentes da FIFA “apenas pensam no seu próprio poder e não vêem mais longe do que a distância até ao seu próprio nariz”. O jurista suíço aponta também o dedo à maior parte das federações europeias, considerando que não impulsionaram as mudanças necessárias a uma maior democratização e transparência na liderança da FIFA. A atitude da UEFA e de Platini, seu presidente, é particularmente condenada, com Pieth a insinuar que o francês só está preocupado em reunir apoios. 

“É lamentável que, justamente agora, os representantes europeus venham dizer que já não são precisas reformas”, afirmou Pieth que, em relação aos dirigentes sul-americanos, tem uma opinião demolidora: “Se repararmos para quem está no comité executivo da FIFA, vemos que há muita gente ligada a antigos ditadores". Uma proximidade que, acrescentou Pieth, ajudou a travar o processo de reforma que ele propôs. O jurista suíço, que mantém as funções na FIFA até ao final de Maio, deixa ainda implícito que se não forem realizadas mudanças naquele organismo não será por sua culpa.

O homem que foi incumbido de avaliar a conduta ética da FIFA não fugiu, sequer, a personalizar as suas críticas, sugerindo que foi o argentino Julio Grondona, vice-presidente da FIFA, quem travou a designação do seu compatriota Luis Moreno Ocampo como investigador chefe da nova comissão de ética da FIFA. "Se olharmos para Grondona ou [o paraguaio Nicolás] Leoz e no passado da região com ditadores como Stroessner ou Bánzer, podemos imaginar o resto. Não quero dizer mais, se não vou ter problemas”, refere o jornal espanhol El Mundo citando a entrevista de Pieth - Moreno Ocampo foi juiz no julgamento que em 1985, condenou a penas de prisão os responsáveis máximos da ditadura militar argentina e, até há pouco tempo, trabalhava no Tribunal Internacional Penal de Haia.

Já a segunda opção de Pieth para o cargo, a escocesa Sue Akers, da polícia britânica (Scotland Yard), foi alegadamente recusada por motivos sexistas. "Vamos ser obrigados a dizer a uma mulher as coisas más que fizemos? Não, isso é pedir-nos demasiado”, terá sido a resposta dada pelos dirigentes da FIFA, garante Pieth.

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