A época em que ninguém pode falhar

Aveiro será nesta sexta-feira o palco do arranque de mais uma temporada na liga portuguesa. Benfica defende o título com um treinador diferente, FC Porto não muda para acabar com o jejum de dois anos e o Sporting quer aproveitar o efeito Jesus.

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A saída de Jesus do Benfica e a sua ida para o Sporting marcou o defeso AFP

Dezoito equipas, 272 jogos e 24.260 minutos de futebol, fora as compensações. Três números para mais uma época do futebol português, que hoje começa em Aveiro com o confronto entre um estreante, Tondela, e um candidato ao título, Sporting, e que só irá acabar a 15 de Maio do próximo ano. Depois de um aperitivo chamado Supertaça, a bola começa a rolar para o prémio maior do futebol nacional, com os candidatos ao título do costume, e nenhum deles pode falhar por diferentes razões: o Benfica não pode falhar porque ganhou quase tudo nos últimos dois anos, o FC Porto não pode falhar porque não ganhou nada nos últimos dois anos e o Sporting não pode falhar porque contratou o homem que ganhou quase tudo nos últimos dois anos.

Passaram 90 dias desde que o Benfica garantiu em Guimarães o bicampeonato. O FC Porto não é campeão há 818 dias. O Sporting celebrou o seu último título há 4857 dias, ou melhor, 13 anos, três meses e 18 dias. Percebe-se que tem sido, sobretudo uma luta a dois na última década, mas já se percebeu que, em 2015-16, a luta vai ser a três. Pelo menos, foi o que prometeu Jorge Jesus na sua apresentação como novo treinador do Sporting.

Mais do que qualquer jogador, a mudança do técnico bicampeão da Luz para Alvalade foi a transferência mais sensacional do defeso e só a sua presença foi o suficiente para elevar as espectativas dos adeptos “leoninos”, ainda maiores depois do triunfo no Algarve sobre o Benfica. Jesus, mais um “downsize” na política de aposta em jogadores jovens e a contratação de futebolistas com experiência internacional, faz do Sporting um candidato credível. Até o discurso de ambição contida e evolução sustentada mudou. O Sporting quer o título e quer o título já.

Do lado do Benfica, assume-se o “tri” como objectivo, mas as primeiras impressões da era pós-Jesus não têm sido boas. Rui Vitória foi o escolhido para ser o gestor da herança e perdeu no primeiro confronto, mas uma época não se faz com um jogo e o técnico ribatejano terá alguma margem de manobra (leia-se, tempo). E, tal como aconteceu na época anterior, é no final do mercado de transferências que o Benfica se está a movimentar, como mostram as contratações de Mitroglou e Jiménez, dois avançados de perfil semelhante para fazer companhia a Jonas, já que os outros reforços não têm agido como tal. Com o sai/não sai de Gaitán ainda na actualidade benfiquista, só aí se ficará a saber o que vale verdadeiramente o campeão em título depois de 31 de Agosto.

O candidato que parte com maior pressão para esta nova época talvez seja o FC Porto, que, desde que Pinto da Costa é presidente, raramente terá ficado tanto tempo sem ganhar nada. Se Paulo Fonseca não sobreviveu numa época de contenção, Julen Lopetegui continua no banco do Dragão apesar de não ter conseguido resultados em ano de reinvestimento. Para 2015-16, a SAD portista voltou a oferecer-lhe prendas caras, mas o antigo guarda-redes basco, um dos oito treinadores da liga portuguesa que transita da época passada, poderá não sobreviver a mais uma época de alto investimento sem conquistas.

Não é fácil avaliar em euros o investimento que cada um dos candidatos fez para a nova época. Uma das poucas certezas é que o francês Imbula foi o jogador mais caro, com o FC Porto, que ainda não tem patrocínio nas camisolas, a pagar 20 milhões de euros ao Marselha. E tudo o resto serão estimativas feitas pela comunicação social. Num total, os três “grandes” terão gasto até agora 43 milhões em contratações. Os gastos portistas totalizaram 25,5 milhões e foram quase todos com o médio francês, mais os 4,5 milhões por Danilo Pereira e 1,5 milhões por André André – as restantes contratações, como Maxi, Casillas e Osvaldo, foram a “custo zero”, mas esta condição implica sempre gastos adicionais com prémios de assinatura e salários.

Já o Benfica foi quem se reforçou em maior número (dez jogadores) e destes terá sido Jiménez o mais caro (nove milhões). Num total de 16,7 milhões em gastos, Carcela terá sido o segundo mais caro (quatro milhões pagos ao Standard Liège). Também ainda sem patrocínio nos equipamentos, o Sporting terá sido o que menos investiu para as suas nove caras novas, com Bruno Paulista (3,5 milhões) e Gutierrez (3,4 milhões) a destacarem-se como os mais dispendiosos. O maior investimento “leonino” será mesmo no salário do seu novo treinador.

Esta será mais uma liga com 18 equipas (pela segunda vez consecutiva) e assim se manterá em 2016-17. O Sp. Braga continua a ser o mais perigoso dos “outsiders”, mantendo a pareceria com Jorge Mendes, mas mudando de treinador (entra Paulo Fonseca), enquanto o seu rival do minho, o Vitória de Guimarães tenta a continuidade com um plantel de baixo custo e a promoção do Armando Evangelista, que estava na equipa B. Mais uma vez a Madeira terá três equipas (Marítimo, Nacional e União), enquanto o Belenenses promoveu o regresso de Ricardo Sá Pinto ao futebol português.

Pela primeira vez há um antigo árbitro à frente dos destinos do futebol português, Pedro Proença, que derrotou Luís Duque nas eleições para a presidência da Liga Portuguesa de Futebol Profissional e tem o desafio de resgatar o organismo do buraco financeiro em que se encontra, seja com mais receitas de patrocínio ou com novos negócios com as transmissões televisivas.

Para terminar, mais um número: 587. É, para já, o número de jogadores que estão nos plantéis das 18 equipas de uma liga portuguesa que vai sendo cada vez mais global, como se percebe pelas 53 nacionalidades representadas, portuguesa (245), claro, e brasileira (117). Mas também há jogadores da Arábia Saudita (Abdulaziz Al-Mansour, médio do Vitória de Setúbal), do Haiti (Alex Junior, defesa do Boavista), ou da Arménia (Gevorg Ghazaryan, médio do Marítimo).

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