A coragem de “Rasta” Sanches numa estratégia medrosa

Portugal entra encolhido, a consentir o domínio croata, reconhecendo a sua superioridade enquanto conjunto. A Croácia, “produto acabado”, com modelo de jogo estabilizado, impôs-se com naturalidade. Portugal abordou a partida receosamente, dispondo-se de forma contida, esperando apenas uma saída rápida que explorasse a velocidade de ponta dos seus avançados, Ronaldo e Nani.

O 4x2x3x1 dos croatas iniciava a construção pelos centrais, Vida e Corluka, que, não sendo muito hábeis na saída, se sentiram à vontade para circular, uma vez que não eram importunados. Badelj laborava meramente como trinco sem vocação ofensiva, sendo Modric que funcionava como organizador recuado, ligando sectores, ora procurando as subidas dos laterais (Strinic e Srna, participativos no processo ofensivo), ora ligando com o médio mais avançado, Rakitic, que deambulava em largura nas costas do imponente ponta-de-lança Mandžukic.

Os extremos davam um carácter assimétrico ao sistema e iam alternando de posição. Perišic (na esquerda dava verticalidade para cruzamentos, na direita executava diagonais interiores procurando o remate) e Brozovic (de vocação interior, colocando-se consoante as necessidades) estiveram sempre harmonizados com os laterais.

A estratégia portuguesa consistia em fechar espaços e aproveitar momentos pós-recuperação para transitar rápido, explorando a desprotecção dos centrais, desapoiados devido à excessiva projecção dos laterais. Adrien (o melhor do miolo), numa marcação individual a Modric, impossibilitou que este queimasse linhas através do transporte.

A selecção lusa esteve sempre muito hesitante na primeira fase de organização ofensiva, sem referências individuais ou zonais para construir. William não assume esse papel, João Mário e André Gomes não estão rotinados para tal e Adrien, condicionado tacticamente, explicam o buraco entre sectores.

Raphael Guerreiro percebia essa lacuna e sozinho conduzia a bola para a frente, queimando etapas. Nunca teve, no entanto, companhia adequada. André Gomes (médio do seu lado) esteve desconectado do jogo e a dupla de avançados, Ronaldo e Nani, embora recuando por vezes em aproximações, nunca conseguiram respeitar os seus movimentos.
Na segunda parte entrou Renato Sanches, alterando a estrutura (4x3x3). O médio conseguiu desestabilizar a zona de pressão contrária com a sua condução de bola em velocidade junto ao pé, permitiu que a equipa se distribuísse de forma condizente com as características dos seus jogadores.

No final do prolongamento, já com Quaresma, a abordagem quase exclusivamente defensiva foi premiada (jogão de Pepe). O encontro foi decidido no “tal” contra-ataque, com Ronaldo finalmente aberto na direita a servir a corrida de Renato, que leva a bola até à entrada da área e passa a Nani. Com uma trivela que esboroou a defesa croata, serviu CR7, que rematou para grande defesa de Subašic. Quaresma aparece na recarga para facturar.

A Croácia, melhor no jogo, não foi suficientemente audaz para pressionar mais alto. Em contraste, o “Rasta” Sanches, sempre a dar-se ao jogo, trouxe o acrescento de coragem necessário para que a estratégia “medrosa” fosse aos “quartos”.

Analista de futebol

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