"Mesmo sem fair play financeiro, alguma coisa tinha de mudar"

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O Sporting irá fundir a SAD com a Sociedade Património e Marketing e, assim, deixar de estar em falência Miguel MansO

Administrador da SAD do Sporting confiante de que clube vai cumprir regras da UEFA, embora saliente que gestão terá de ser diferente

Todos os anos, os clubes que participam nas competições europeias têm de provar à UEFA que não têm dívidas a outros emblemas, entre outras regras de boa gestão financeira. A partir da próxima época, no entanto, as normas a cumprir vão ser ainda mais exigentes, com o chamado fair play financeiro, cujo objectivo final é garantir que os clubes não gastam mais do que aquilo que têm.

Quem não cumprir as regras, promete a UEFA, ficará sujeito a penalizações, que em última instância podem mesmo chegar à exclusão de um clube das competições europeias. Um pouco por toda a Europa, os clubes estão a preparar-se para este novo cenário, assistindo-se, por exemplo, a uma retracção na quantidade e no valor das transferências de jogadores.

No início da próxima época, a UEFA vai olhar para as contas de 2011-12 e 2012-13 e colocará sob monitorização todos os clubes que, no conjunto destes dois anos, somem perdas superiores a cinco milhões de euros. E quem superar os 45 milhões de prejuízos sujeita-se a penalizações.

Os prejuízos dos clubes portugueses na época passada (a primeira que conta para esta avaliação) não auguram nada de bom, mas os responsáveis das SAD mostram-se confiantes no cumprimento das regras, até porque na avaliação da UEFA não serão tidos em conta vários itens (como o investimento em formação, em infra-estruturas e os contratos assinados antes de 1 de Junho de 2010).

António Samagaio, professor de Economia do ISEG, aponta o Sporting como "o clube português em maior risco de incumprimento", mas o administrador financeiro da SAD leonina garante que esta vai passar no crivo da UEFA.

"O Sporting cumprirá as exigências do fair play financeiro na próxima época. É a nossa convicção. No futuro logo verá", disse ao PÚBLICO José Filipe Nobre Guedes.

Para cumprir os critérios da UEFA, o Sporting terá, no entanto, de concretizar até 1 de Junho do próximo ano a anunciada fusão entre a SAD e a Sociedade Património e Marketing, sociedade responsável pela construção e gestão do Estádio de Alvalade. O clube já aprovou a contracção de dois empréstimos para pagar a dívida de 120 milhões de euros desta sociedade à banca.

Esta fusão por incorporação (algo que o Benfica também fez, juntando a Benfica SAD e a Benfica estádio) é a pedra-de-toque do plano de recapitalização da SAD leonina, que, assim, deixará de estar em falência técnica.

Questionado pelo PÚBLICO sobre os elevados prejuízos nos últimos exercícios (45,9 milhões na época passada e 44 na anterior), Nobre Guedes reconheceu que a gestão da SAD do Sporting tem de mudar. "Terá de haver uma mudança. Mesmo sem fair play financeiro, alguma coisa tinha de mudar", admitiu o administrador, recusando revelar qualquer informação sobre potenciais investidores na SAD do Sporting.

O FC Porto, por sua vez, parecia não ter qualquer dificuldade em cumprir o fair play financeiro, uma vez que tinha apresentado lucros nos últimos cinco anos. Mas fechou 2011-12 (curiosamente a primeira época que conta para a avaliação da UEFA) com prejuízos de 33,5 milhões de euros, o que pressiona a SAD portista.

"É preciso ter um resultado diferente nesta temporada, para contra-balançar o prejuízo da época passada", disse ao PÚBLICO Angelino Ferreira, administrador da SAD do FC Porto, dizendo que já tem projecções, mas recusando revelar de que resultado financeiro necessita o FC Porto nesta época para cumprir as regras da UEFA.

O Benfica também fechou a época passada com prejuízos, mas garante que cumprirá as regras. "Não tenho dúvidas de que temos condições para o fazer", disse ao PÚBLICO Domingos Soares Oliveira, administrador da SAD benfiquista, garantindo que "estruturalmente" o Benfica respeitará o fair play financeiro. Como as despesas com infra-estruturas e a formação não contam para a avaliação da UEFA, o administrador "encarnado" refere que ao resultado líquido da SAD terão de ser abatidos "pelo menos dez milhões de euros".

Uma das dificuldades de perceber, antecipadamente, se os clubes cumprem ou não o fair play financeiro é que as SAD comunicam as contas globais à CMVM, mas nem tudo isso será tido em conta na avaliação da UEFA. O organismo europeu olhará apenas para o que diz respeito à actividade do futebol, retirando os custos com infra-estruturas e formação. Susana Domigues, da CMVM, disse ao PÚBLICO que as SAD não serão obrigadas a alterar a forma como apresentam as contas por causa do fair play financeiro. Há, pois, que esperar pela avaliação da UEFA para se saber quem cumpre e quem não cumpre.

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