Zero, zero, sete

Chegada ao sétimo episódio, a série Velocidade Furiosa confunde entretenimento despretensioso com sentimentalismo grosseiro e espectacularidade gratuita.

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A série Velocidade Furiosa parece, com este sétimo episódio, esbarrar no mesmo muro que complicou a vida a James Bond no final da década de 1970, com Roger Moore no papel do agente secreto britânico: o que começou por ser uma colecção de filmes de acção mais ou menos tradicionais tinha descambado com o correr do tempo numa sucessão de aventuras espectaculares e extravagantemente inverosímeis.

Exactamente o mesmo caminho seguido pela série de filmes de acção propulsionados a carros quitados ou turbinados, que fez de Vin Diesel vedeta global e se tornou na “galinha dos ovos de ouro” do estúdio Universal.
A diferença entre os 007 dessa altura e Velocidade Furiosa hoje reside no “piscar de olhos” que as aventuras do agente secreto tinham – um piscar de olhos bem-disposto e descontraído que dizia “that's entertainment, não é para levar a sério”. Mas Velocidade Furiosa 7 não tem humor de espécie nenhuma, substituído por um pathos sentimental carregado a traço grosso e grosseiro, sem dúvida influenciado pela trágica morte de Paul Walker a meio da rodagem. Nem a passagem de testemunho atrás da câmara – de Justin Lin, responsável pelos filmes 3 a 6, para James Wan, criador da série Saw e um dos mais interessantes autores do cinema fantástico actual – consegue salvar o novo episódio do desastre. A capacidade de Wan de inserir o “factor humano” pelo meio das fórmulas de género é completamente afogada num argumento colado com cuspo, que parece saído de uma má série de televisão dos anos 1970, mero pretexto para uma interminável série de clímaxes de acção cuja espectacularidade gratuita e sofisticada acaba por se tornar cansativa. Mas onde 007 tinha a descontracção suficiente para não se levar a sério, Velocidade Furiosa 7 leva-se tão a sério que desbarata o capital de simpatia adquirido desde as suas origens como série B despachada inspirada por Roger Corman. É espectáculo, sim, inegavelmente – do género que enche o olho e faz doer a cabeça. Mas será cinema, ou apenas um fenómeno de feira?
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