World Press Photo: uma visita guiada à exposição

Uma visita guiada pelo olhar do comissário Jurre Jansen à exposição dos prémios de fotojornalismo. Está até domingo no Museu da Electricidade, em Lisboa.

Fizemos uma visita guiada com o comissário do 58º prémio World Press Photo, Jurre Jansen, que conta algumas histórias por detrás das fotografias premiadas, descrevendo situações pelas quais os fotógrafos passaram, assim como a relação de intimidade que criaram com os fotografados durante a captura das imagens: “2014 foi um ano muito marcante a nível mundial com episódios como a crise na Ucrânia, a actuação do Estado Islâmico e a presença do vírus da Ébola.” Os trabalhos premiados estão no Museu da Electricidade, em Lisboa, até 24 de Maio.

Assuntos Actuais

Fotografia vencedora do Prémio World Press Photo

Na entrada da exposição, vê-se de imediato a fotografia distinguida com o grande prémio, na categoria de Assuntos Actuais. O dinamarquês Mads Nissen venceu o concurso World Press Photo 2015 com a fotografia “Jon and Alex”, em que aborda a homofobia na Rússia: “A fotografia foi tirada em São Petersburgo, onde há violência contra os homossexuais.” Nissen passou algum tempo com a comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgéneros), descobrindo-a vítima de bullying e de agressões físicas. O que o fotógrafo quis retratar foi a compaixão, a intimidade, um amor intenso vivido entre quatro paredes, diz o comissário. “Foi o grande valor fotojornalístico desta fotografia e o seu impacto nas pessoas que a fez ganhar o prémio.” A fotografia tem uma força especial criada pelo contraste luz e sombra que ilumina o casal retratado, sugerindo intimidade sem mostrar demasiado. Os corpos nus são apenas uma extensão do sentimento que o fotógrafo pretende representar.

2º Prémio (singular)

Foto

Na categoria de Assuntos Actuais, o segundo prémio pertence a Ronghui Chen de nacionalidade chinesa, com a fotografia “Christmas Factory”. A fotografia retrata Wei, “operário numa fábrica que produz artigos relacionados com a época natalícia, que não sabia o que era o Natal”. “Embora estivesse com um gorro de Pai Natal na cabeça, era somente por causa do pó”, conta-nos o comissário. Na fotografia predomina a tonalidade vermelha, estando Wei a revestir flocos de neve em poliéster com pó vermelho. O plano centrado que o fotógrafo escolheu remete-nos de imediato para a figura de Wei. O foco de luz, que cruza a fotografia numa diagonal da esquerda para a direita, incide directamente na face do operário e dirige o observador para o seu olhar que surge entre o gorro e uma máscara de protecção. É nesse olhar pouco expressivo que se foca toda a força da imagem.

3º Prémio (singular)

Foto

O terceiro prémio em fotografia singular, na categoria de Assuntos Actuais, pertence ao fotógrafo italiano Fulvio Bugani. A fotografia intitula-se “Waria: Being a Different Muslim”, sendo “Waria” uma combinação entre a palavra “wanita”, que na Indonésia significa mulher, e a palavra “pria”, que significa homem. Esta palavra é utilizada na Indonésia para descrever pessoas transgénero. Os “waria” vivem geralmente em comunidades isoladas, sofrendo discriminação e marginalização. “Esta fotografia chocou o júri pela sua composição”. Doze pessoas organizam-se à volta de Shinta Ratri, a professora activista que alberga esta escola religiosa para transgéneros na sua casa da família, a Pesantren Waria Al Fatah, em Kotagede, Yogyakarta, na costa sul de Java.A fotografia apresenta um plano centrado, onde se inclui a figura de Shinta Ratri num triângulo humano. A composição ganha outros ritmos através das expressões e movimentos das pessoas que envolvem a figura de Shinta Ratri. Repare-se nas linhas verticais — da vedação do edifício e das próprias figuras em pé — que prendem o observador com o dinamismo e o equilíbrio apresentados no primeiro e segundo planos. A força da fotografia centra-se na variante claro/escuro, clareando nitidamente à direita, numa mudança que é acompanhada pelas emoções das pessoas. As feições mais fechadas à esquerda evoluem até aos sorrisos rasgados que podemos encontrar à direita.

1º Prémio (histórias)

Foto

Giulio Di Sturco foi desqualificado do 2º prémio, na categoria de Assuntos Actuais, com a série fotografada na Bélgica “O Coração Negro da Europa”, na cidade de Charleroi. “Foram dadas informações erradas acerca das fotografias”, o contexto não era o que o fotógrafo apresentou, tendo fornecido informações erróneas sobre o local e o homem fotografado. Jurre Janssen sublinha a ideia de que “é importante não mentir”. Diz serem “aceites alterações de cor, alguns filtros de variação da tonalidade para preto e branco, mas não são aceites alterações que modifiquem o conteúdo da própria fotografia”. É um prémio que “capta a realidade” e o “World Press Photo sofreu muita pressão do exterior para que se tivesse a certeza dos factos e da história por detrás das fotografias”. Na série desqualificada, além da história contada não ser a correcta, os moradores de Charleroi não reconheceram a sua cidade através das fotografias apresentadas por Sturco, devido às luzes dramáticas e frias que foram utilizadas. Embora desqualificado com a série fotografada na Bélgica, Di Sturco, de nacionalidade italiana, apresentou a série “Chollywood”, elaborada nos estúdios de cinema Hengdian World Studios, em Hengdian, China, com a qual venceu o primeiro prémio na categoria de Assuntos Actuais. As fotografias mostram a preparação dos actores e do set antes das filmagens, os espectadores à espera de uma sessão ou já dentro da sala. As imagens têm em comum uma tonalidade fria e as expressões sérias e fechadas das pessoas retratadas. As fotografias remetem ainda, constantemente, o observador para o meio da imagem, quer através do assunto principal enquadrado ao centro da fotografia com focos de luz quer através do escurecimento dos cantos superiores e inferiores.

2º Prémio (histórias)

Foto

Tomas Van Houtryve venceu o segundo prémio na categoria de Assuntos Actuais com a série Blue Sky Days. Para a realização destas imagens, o fotógrafo belga usou um drone equipado com uma câmara, sobrevoando locais com cenas da vida quotidiana, como festas de aniversário de crianças, casamentos ou pessoas a fazerem exercício físico no parque. Todas as imagens são fotografadas de cima e numa primeira observação podem parecer retratar situações de guerra ou mesmo muçulmanos a realizarem as suas orações diárias. Se for feita uma aproximação à fotografia, ou até mesmo zoom, vê-se que retratam o dia-a-dia dos EUA. Janssen aponta uma das fotografias que mostra essa “ambiguidade”: “Podia ter sido tirada no Paquistão, ou em outro país do Médio Oriente, retratando pessoas numa posição de oração, mas trata-se de uma aula de yoga num parque em Filadélfia.” O facto de as fotografias serem a preto e branco ajuda também a confundir o olhar, porque anula alguma informação facilmente reconhecida através da cor. As imagens parecem, por vezes, o resultado do trabalho de reconhecimento (ou espionagem) feito pelas Forças Armadas dos EUA através dos drones e podem ser lidas como uma crítica aos ataques aéreos que usam estes aparelhos.

Vida Quotidiana

Foto

1º Prémio (singular)

“The Bull Market” do fotógrafo chinês Cai Sheng Xiang venceu o primeiro prémio de fotografia singular na categoria de Vida Quotidiana. A imagem mostra uma feira de gado, na cidade de Niuniuba, perto de Liangshan, na província de Sichuan. Este mercado é realizado por aldeões Yi, que vivem maioritariamente da agricultura, pastorícia e caça. A força da fotografia reside nas linhas verticais criadas pelos enormes troncos das ávores que transportam o olhar para fora da imagem. Mas a técnica de longa exposição utilizada remete também a visão para o centro da imagem onde estão presentes algumas pessoas e animais como se fossem fantasmas. Este fenómeno leva o observador a questionar a situação, porque todos os elementos em torno destas figuras arrastadas se encontram focados. O peso da imagem encontra-se na lateral direita, com a presença abundante de pessoas, desequilíbrio compensado à esquerda pelo negro do animal em primeiro plano e pelas sombras das árvores. A existência de diversas cores e texturas nesta composição dinâmica fomenta a busca e pesquisa visual.


3º Prémio (singular)

Foto

Este ano foram premiadas quatro fotografias tiradas com telemóveis. “Eritrean Wedding”, da fotógrafa sueca Malin Fezehai, recebeu o terceiro prémio na categoria de Vida Quotidiana. A fotografia foi capturada na cidade de Haifa, em Israel, onde estão cerca de 50.000 refugiados provenientes maioritariamente da Eritreia e Sudão. Esta é uma “fotografia de felicidade”. O plano de fundo tonalmente claro contrasta com a beleza azul da água, e com as peles e cabelos escuros dos fotografados, criando contraste e envolvência na fotografia. A composição vertical, com homens a subir as escadas e mulheres a descer, cria uma simetria dos elementos.

2º Prémio (histórias)

Foto

O segundo prémio na categoria de Vida Quotidiana pertence ao fotógrafo do Bangladesh Sarker Protick com a série “What Remains”. Podemos ler a história por detrás desta fotografia no site do prémio WPP, onde se explica que John e Prova são os avós de Potrick, com quem ele teve uma ligação muito próxima enquanto criança. Numa das visitas aos avós, a luz branca que inundava o quarto chamou a atenção do fotógrafo, como se os avós estivessem envolvidos numa aura. “Esta história tão íntima comoveu o júri.” A série funciona como um todo, criando uma história, mesmo quando os idosos não se encontram presentes na imagem. A luz branca presente nas fotografias remete para a ideia do desvaneccer de uma vida.

3º Prémio (histórias)

Foto

O italiano Turi Calafato é o fotógrafo vencedor do terceiro prémio na categoria Vida Quotidiana com a série “Behind the Window Blind”. “Convenceu o júri com a simplicidade das suas imagens”, que tratam uma típica ida a um restaurante de fast-food. Janssen lembrou que “todos nós já fomos a um restaurante de fast-food, mas nunca vimos as coisas desta forma”. Uma persiana desce sobre uma montra e deixa apenas ver os tabuleiros e parte dos comensais. Entre tantas pessoas, numa das maiores cadeias de fast-food do mundo, está presente a ideia de solidão.

Notícias Gerais

Foto

1º Prémio (singular)

“Kitchen Table”, do fotógrafo Russo Sergei Ilnitsky, é a fotografia galardoada com o primeiro prémio de fotografia singular na categoria de Notícias Gerais. Foi fotografada em Donetsk na Ucrânia, no dia 26 de Agosto de 2014, e retrata os danos causados pelos confrontos entre rebeldes pró-russos e o exército ucraniano. Os confrontos entre o governo e as forças separatistas durante as semanas que se seguiram resultaram em pesadas baixas de ambos os lados. A fotografia premiada representa um jogo de dualidades entre a vida e morte, o quotidiano e a tragédia, símbolos de renascimento e destruição. A luz que entra no plano pela parte superior, foca alguns dos destroços e acompanha a cortina de renda branca, que transporta o olhar até ao centro da imagem onde são visíveis restos de sangue. Através de alguns pontos de cor vermelha e do foco, a imagem remete para a morte através do sangue, ao mesmo tempo que remete para vida ainda presente das frutas, aparentemente saudáveis. É uma natureza morta.

2º Prémio (singular)

Foto

“Rescue Operation” é o segundo prémio na categoria de fotografia singular em Notícias Gerais. Foi tirada no Mediterrâneo, junto à costa da Líbia, pelo fotógrafo italiano Massimo Sestini.“O meu colega contou 366 pessoas neste barco, e há ainda mais no porão.” O barco, visto de cima, tem todos os centímetros ocupados por pessoas. Feito um zoom, vê-se como as pessoas acenam para o helicóptero de resgate e elevam as suas crianças como forma de pedido de salvação. O barco encontra-se demasiado colado ao limite esquerdo da imagem, uma composição equilibrada pelas movimentações da água do lado oposto. Este enquadramento mantém o observador dentro da fotografia, que pode também ser abordada através das camadas que constrói, da água ao olhar do fotógrafo já fora do plano.

1º Prémio (histórias)

Foto

Pete Muller venceu o primeiro prémio na categoria de histórias gerais com a série “Ebola in Sierra Leone”. O fotógrafo norte-americano apresenta imagens de carácter emocional muito forte. As fotografias retratam pessoas infectadas com o vírus do ébola, algumas já no fim de vida. Na primeira fotografia da série, vê-se um homem a ser retirado de uma cova com um olhar desnorteado: é “uma expressão de fim de vida”, diz-nos Jansen. As cores quentes das fotografias contrastam com a frieza das imagens.

2º Prémio (histórias)

Foto

A fotógrafa americana Glenna Gordon é galardoada com o segundo prémio na categoria de Notícias Gerais com a série “Mass Abduction in Nigeria”. Enquanto na maioria das fotografias do WPP podemos ver pessoas, as suas reacções e emoções, nas fotografias de Gordon só temos acesso aos pertences de algumas das 276 raparigas raptadas pelo grupo Boko Haram a 14 de Abril de 2014. Em algumas fotografias e através dos objectos fotografados, sublinha Jansen, podemos perceber como algumas das pessoas raptadas ainda “andavam na escola” e como eram “tão pequenas”.

Projecto de Longa Duração

Foto

1º Prémio

Este ano é apresentada uma categoria nova no prémio – Projecto de Longa Duração –, onde o primeiro prémio pertence à americana Darcy Padilla com a série “Family Love 1993-2014”. “Darcy assistiu a tantas situações familiares de amor e desentendimento. Viu a deterioração desta mãe, que ficava cada vez mais doente. A fotógrafa acompanhou a degradação desta mulher até à sua morte.”
Durante 21 anos, Darcy acompanhou Julie e a sua família, sendo impressionante o nível de exposição. O preto e branco, jogando com luz e sombra, sublinha a elevada carga emocional.
No site do prémio, é publicado o e-mail que uma das filhas de Julie enviou a Darcy como forma de agradecimento por contar a história da sua mãe: “O meu nome é Rachel. Eu nasci com o nome Rachel Fyffe. Fui adoptada aos 5 anos, quando me mudei para uma pequena cidade. Agora estou casada com um homem fabuloso e temos duas crianças lindas. Recentemente, quis encontrar os meus pais biológicos. Encontrei o projecto Julie. Eu e o meu marido sentimo-nos tocados ao ler a história da minha mãe. Queria agradecer-lhe por ver mais na minha mãe, por estar com ela quando eu não estive. Disseram-me que a minha mãe escolheu as drogas em vez de mim e do Tommy, que tem agora 17 anos. Eu odiei-a e não queria ter nada a ver com ela. Agora arrependo-me profundamente. Espero que receba isto. Obrigada por contar a história dela. Posso finalmente começar a curar-me. Portland, Oregon 2013”.

2º Prémio

Foto

O fotógrafo polaco Kacper Kowalski é o vencedor do segundo prémio com a série “Side Effects”. Convenceu o júri pela “composição visual e beleza das suas imagens”. Janssen diz que esta série é provavelmente “a única que exporíamos nas nossas casas”. Foi fotografada de um helicóptero na Polónia a cerca de 150 metro da terra. Trata a relação entre o homem e a naturaza.

Natureza

Foto

1º Prémio (singular)

O fotógrafo chinês Yongzhi Chu é o vencedor na categoria de fotografia singular em Natureza com “Monkey Training for a Circus”. A fotografia mostra os maus tratos infligidos a um macaco num circo em Suzhou na China. Após a pressão de grupos de protecção animal, o governo chinês implementou regras para impedir abusos. Muitos treinadores dizem, no entanto, não ter informação sobre as novas regras e continuam os maus-tratos. Todos os elementos da fotografia direccionam o olhar para o elemento principal: o macaco com uma expressão facial aterrorizadas. Em primeiro plano, apresenta-se o tratador do animal com um chicote improvisado na mão. Toda esta composição horizontal orienta o olhar do observador da esquerda para a direita, por ordem de impacto visual. A força da fotografia é ainda sublinhada pelo uso do preto e branco, que coloca em evidência, através dos contrastes, os quatro elementos principais.

2º Prémio (singular)

Foto

O segundo prémio na categoria de fotografia singular em Natureza pertence à fotógrafa norte-americana Ami Vitale com “Orphaned Rhino”. A imagem fotografada no Lewa Wildlife Conservancy, norte do Quénia, mostra um grupo de guerreiros sambaru a tocarem pela primeira vez num rinoceronte preto, raça quase extinta no país. Jansen fala-nos da “beleza” desta imagem, porque os rinocerontes são normalmente vítimas de caça furtiva para que lhes retirem os chifres. O plano de fundo representado pela relva dá relevo e contraste à imagem, enquanto as texturas destacam a pele dos guerreiros ao lado da pele do animal. As linhas e cores fortes das pulseiras direccionam o olhar do observador para o centro da fotografia. Os dois relógios da Casio trazem a fotografia para a contemporaneidade.

2º Prémio (histórias)

Foto

“Os fotógrafos da categoria de Natureza encontram uma história com uma visão diferente das outras categorias”. “Vegetables With an Attitude”, de Christian Ziegle, vence o segundo prémio em histórias na categoria de Natureza. O comissário disse que o fotógrafo quis “ampliar estas plantas carnívoras” e mostrar, ao pormenor, como se alimentam. Algumas das imagens mostram a beleza natural inerente a estas plantas, enquanto outras mostram como a natureza pode ser cruel. São fotografias naturalmente apelativas pelas suas cores.

Retratos

Foto

1º Prémio (histórias)

Sofia Valiente dos EUA vence o primeiro prémio na categoria de Retratos com a série “Miracle Village”. “Sofia vivia perto da comunidade de agressores sexuais. Passava por eles todos os dias e isso despertou-lhe curiosidade”. A ideia deste projecto é modificar a ideia que temos dos agressores sexuais, além do cliché fotográfico, e “criar-lhes um novo retrato”. A maioria das fotografias foca o sujeito ao centro, dando-lhe importância através do enquadramento ou do foco de luz. As fotografias passam a ideia de que se tratam de pessoas normais, não fossem as pulseiras electrónicas que alguns dos criminosos apresentam.

Desporto

Foto

1º Prémio (singular)

Bao Tailiang de origem chinesa ganhou o primeiro prémio na categoria de Desporto com a fotografia “The Final Game”. “Tailiang ficou especialmente feliz com este prémio. Um dos melhores jogadores de futebol do mundo, Leonel Messi, não ganhou o Mundial no ano passado, mas o fotógrafo ganhou o prémio com a fotografia dele”, comentou Jansen. Um dos membros do júri para a categoria de desporto, Mark Baker, diz em entrevista ao site do WPP que entre tantas fotografias de desporto tentaram escolher um olhar diferente. O fotógrafo colocou Messi e o troféu do Mundial de Futebol no centro da imagem. Com este plano foi ao encontro do sentimento de decepção presente na expressão do jogador, anulando as movimentações e as cores à sua volta através do desfoque destes elementos.

1º Prémio (histórias)

Foto

O primeiro prémio na categoria do Desporto em Histórias foi ganho pelo fotógrafo irlandês Kieram Doherty com a série de fotografias intitulada “Ground Pass Holders”. Em entrevista para o site WWP, Doherty diz que para a realização desta reportagem se inspirou nas “memórias de infância”, de quando o seu pai o levava a ver os jogos de ténis. Jansen conta como esta série “convenceu o júri pela forma diferente como foi retratada a partida de ténis”. Em nenhuma fotografia da série o fotógrafo coloca o assunto principal em primeiro plano. Os planos fechados, com pouca visivilidade sobre o campo, remetem para o olhar de uma criança e de como é dificil verem os jogadores. O fotógrafo apresenta uma série ritmada e expressiva, que faz o observador ir em busca do objecto principal, nalgumas fotografias somente a bola de ténis.

Notícias em Destaque

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1º e 3º Prémios (singular)

Bulent Kilic de origem turca é o vencedor de dois prémios com duas fotografias individuais na categoria de Notícias em Destaque. O primeiro prémio retrata uma rapariga ferida durante os confrontos perto da praça de Taksim em Istambul, na Turquia. Podemos ler na legenda de “Istanbul Protest” que os ferimentos tiveram lugar no cortejo fúnebre de Berkin Elvan, morto com apenas 15 anos. A capacidade expressiva da imagem vem da apatia do olhar e do corpo inerte da jovem e bela figura feminina, que é o foco principal da fotografia. A frieza da fotografia é sublinhada pela cor azul que inunda todo o plano. O fotógrafo foi ainda galardoado com a fotografia “Air Strike on IS Militants”, estando no local e “momento certos”. O ataque dos EUA deu-se na cidade de Kobani, na fronteira curdo-síria, contra o grupo de jihadistas do Estado Islâmico (EI), depois de terem erguido bandeiras negras no topo desta colina, simbolizando um massacre. A imagem criada a partir de chamas, fumo e pó impressiona pela centralidade das cores quentes e pelo plano de fundo da noite que cria profundidade de campo, contraste e relevo.

3º Prémio (histórias)

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O fotógrafo Iraniano Arash Khamooshi é o vencedor do terceiro prémio na categoria de Notícias em Destaque com a série “Act of Forgiveness”. Não é conhecido o número exacto de execuções efectuadas pelas autoridades do Irão, mas é um dos países que mais faz cumprir estas penas. Em casos de condenações por enforcamento, estas podem realizar-se com a presença de público e, por vezes, as famílias das vítimas participam na punição. Foi o caso de Balal, que esfaqueou na via pública o seu amigo até à morte. A série apresenta todo o percurso percorrido por Balal, até chegar ao local onde a sua punição seria realizada. Numa das fotografias pode ver-se uma mulher a esbofeteá-lo. É a mãe da vítima, que em vez de empurrar a cadeira que lavaria à morte de Balal apenas o esbofeteou. Jansen conta-nos como “no Irão se trata de um acto de perdão”. Este acto simbólico colocou fim à execução, representada na última fotografia da série, em que se encontra uma cadeira vazia.
 
Editado por Isabel Salema

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