Viúva de Steve Jobs tentou impedir que filme sobre o co-fundador da Apple fosse feito

Laurene Powell Jobs já tinha sido contra a publicação da biografia oficial, na qual o filme de Danny Boyle se baseia, por passar uma má imagem de Steve Jobs.

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Fassbender tem sido aplaudido pela crítica DR

Muito antes de haver filme, ainda antes sequer de haver elenco, Laurene Powell Jobs fez força para que a Sony abandonasse o projecto. A viúva do homem polémico e visionário que morreu em 2011 quis impedir a realização de Steve Jobs, tentando por várias vezes bloquear o projecto, até mesmo depois deste já estar em andamento nas mãos de Danny Boyle na Universal e com Michael Fassbender como protagonista.

A controvérsia persegue Steve Jobs, o filme baseado na biografia oficial do co-fundador da Apple escrita por Walter Isaacson e na qual Jobs participou com o objectivo de deixar as suas memórias em livro para que os seus filhos o pudessem conhecer melhor. É público que Steve Jobs tinha um feitio difícil e enquanto brilhava na Apple mantinha relações familiares complexas – só reconheceu a sua primeira filha, nascida de uma relação intermitente com uma mulher chamada Chrissann Brennan, quando esta tinha já oito anos. Segundo o The Wall Street Journal, é este retrato mais íntimo e controverso que preocupa Laurene Powell Jobs.

O descontentamento alarga-se a alguns amigos e colegas com quem Steve Jobs trabalhou. “Uma geração inteira vai pensar nele de uma forma diferente se virem o filme que o retrata de forma negativa”, disse ao The Wall Street Journal Bill Campbell, membro da direcção da Apple há mais de uma década e amigo de Laurene Powell Jobs. Campbell alerta, no entanto, para o facto de ainda não ter visto o filme. De acordo com fontes próximas do processo, a viúva de Steve Jobs defende que o filme, que tem Aaron Sorkin como argumentista, passa a imagem de que o seu marido foi cruel e desumano.

O produtor Scott Rudin garante, no entanto, que foram várias as tentativas de integrar Laurene Powell Jobs no projecto, o que nunca chegou a acontecer por esta negar qualquer contacto. “Ela recusou-se a discutir o que quer que fosse que a incomodasse no argumento de Aaron, apesar dos meus repetidos pedidos”, justificou o produtor ao The Wall Street Journal¸ que contactou a mulher que se recusou a fazer qualquer comentário. “Continua a dizer o quanto não gosta do livro e que qualquer filme que seja baseado nisso não pode estar correcto”, acrescentou Rudin.

Steve Jobs percorre a vida do co-fundador da Apple a nível profissional e pessoal através de três momentos-chave. Sorkin organizou a narrativa em três momentos, focando-se nos bastidores do lançamento de produtos emblemáticos da Apple: o Macintosh, em 1984; o NeXT, em 1988, já depois de Jobs ter deixado a Apple; e o iMac, em 1998, após o seu regresso à empresa.

Foi durante o período que esteve fora da Apple que Steve Jobs conheceu Laurene Powell. Casaram-se em 1991, numa cerimónia dirigida por um monge budista (a religião de Jobs). O casal teve um filho e duas filhas.

Apesar das críticas de Laurene Powell Jobs e de outros amigos próximos, que se tornaram públicas na semana em que Steve Jobs se estreia nos Estados Unidos, Steve Wozniak, o parceiro de sempre de Jobs, já viu o filme há cerca de um mês quando este passou no Festival de Telluride, nos Estados Unidos, e não foi comedido nas palavras: “Eu vi toda a gente ali, era como se não fossem actores a interpretá-los”. “Dou todo o crédito a Danny Boyle e Aaron Sorkin por terem conseguido fazer isto tão bem”, disse, na altura, ao Deadline. Wozniak não tinha tido a mesma reacção quando Jobs (2013), realizado por Joshua Michael Stern e com Ashton Kutcher no papel principal, se estreou. Na altura, Steve Wozniak criticou a produção e acusou Stern de fugir à realidade dos factos.

Ao contrário do que aconteceu com Jobs – filme que foi um fracasso de bilheteira e também não agradou aos críticos de cinema –, Steve Jobs tem sido aplaudido pela crítica. São vários os jornais que apostam no filme de Danny Boyle para a época de prémios que se avizinha e que culmina com os Óscares, em Fevereiro de 2016. Boyle é vencedor de um Óscar com Quem Quer Ser Bilionário (no total, o filme arrebatou oito estatuetas) e Sorkin também recebeu um Óscar com o argumento de A Rede Social, filme de 2010 realizado por David Fincher sobre Mark Zuckerberg, o criador do Facebook.

Michael Fassbender, o Steve Jobs deste projecto, tem também sido elogiado pelo seu trabalho, apesar de não ter sido a primeira escolha para protagonista do filme, à semelhança, aliás, do que aconteceu também com o realizador. Antes de Boyle ter sido chamado para realizar o filme, tinha sido escolhido Fincher, que terá abandonado o filme em Abril do ano passado em discordância com os valores propostos pela Sony — a produção passou depois para a Universal. Já o nome de Fassbender surgiu depois de os actores Leonardo DiCaprio e Christian Bale terem rejeitado o papel.

Fassbender: "Christian Bale seria mais parecido com Jobs"

Na apresentação do filme no Festival de Nova Iorque, Fassbender começou por contar que quando foi chamado para o projecto sentiu necessidade de explicar ao realizador que em nada se parecia com o génio da Apple. “Obviamente não me pareço nada com Steve Jobs”, disse o actor, revelando ter dito a Danny Boyle que Christian Bale seria mais parecido do que ele. Em resposta, o realizador explicou-lhe não estar interessado nisso. “Só quero ter a energia e a essência do homem”, disse Boyle a Fassbender. “Por isso desde o início que a abordagem não foi tentar copiar o aspecto físico.”

Para o actor, que contou com a ajuda de Wozniak e de John Sculley, ex-CEO da Apple, o facto de não se parecer fisicamente com Steve Jobs não influencia a forma como as pessoas vêem o filme. “Acho que o público aceita as coisas quando as apresentamos de forma clara”, defendeu depois ao Hollywood Reporter.

É exactamente nisto que a crítica aplaude o actor. “Ele domina o ecrã”, escreveu a Variety, enquanto o Hollywood Reporter destacava a forma como Fassbender transmite com “um sentido fortíssimo” a mente de alguém “que está sempre vários passos à frente de qualquer pessoa”.

Em tom de brincadeira, Michael Fassbender, que em 2014 foi nomeado para os Óscares na categoria de Melhor Actor Secundário com 12 Anos Escravo, disse ter “estudado Ashton Kutcher” na preparação para o papel. O actor revelou ainda sentir-se aliviado quando o seu trabalho no filme chegou ao fim. “Ele quase que viveu comigo durante os meses da rodagem. Todos os dias eram sobre ele. Não me largava. Ou tinha de ler o argumento ou de ouvir e ver vídeos dele no YouTube. Fiquei feliz por poder pô-lo finalmente de lado.”

Do elenco do filme fazem ainda parte Seth Rogen (Steve Wozniak), Kate Winslett (Joanna Hoffman, antiga directora de marketing da Macintosh) e Jeff Daniels (John Sculley, ex-CEO da Apple).

Steve Jobs estreia-se em Portugal a 12 de Novembro.

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