Vinhos aos quadradadinhos

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Da esq. para a dir., a equipa do atelier Rita Rivotti Wine Wine Branding & Design: Pedro Roque, director criativo; Vera d’Orey Rivotti, responsável pela contabilidade; Sara Correia, licenciada em Design de Comunicação; a fundadora; João R. Saúde, designer e ilustrador Miguel Manso
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Vinho da Companhia das Lezírias aludindo à coruja-das-torres, que tem uma das suas maiores colónias em Portugal precisamente naqueles hecatres colados a Lisboa Cortesia Rita Rivotti
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Cortesia Rita Rivotti
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Com o conceito que criou para o vinho Crochet (das enólogas Sandra Tavares e Susana Esteban, o atelier de Rita Rivotti foi Ouro na categoria Luxo-Vinho e Champanhe dos Pentawards, um dos mais importantes concursos internacionais de design de packaging Cortesia Rita Rivotti
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O Papa Figos para a Sogrape Vinhos Cortesia Rita Rivotti
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Para o Alentejo, também Sogrape, o conceito para o Trinca-Bolotas Cortesia Rita Rivotti
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A esta equipa falta o novo elemento, uma enóloga que começará a trabalhar no atelier já a partir deste mês Miguel Manso

O trabalho do atelier de design e packaging de Rita Rivotti pode resumir-se assim: “A história está dentro da garrafa.” É disso que vai à procura quando o cliente lhe pede para criar um conceito para a sua produção, um rótulo que diferencie o seu vinho na prateleira do supermercado, que saiba contar os saberes e sabores daquele terroir.

Numa pequena casa cor-de-rosa forrada a madeira e com janelas para as copas das tílias e dos ginkgos do Jardim das Amoreiras há vinhos a serem feitos, pensados e desenhados sem recurso a pé de uva nem fermentação, apenas ao design e packaging do atelier de Rita Rivotti. É um nicho num mercado que em 2014 exportou 728,7 milhões de euros e quando a agrónoma começou, vai para uma década, “nem um tostão” ganhava. “Fazíamos portfólios fictícios para angariar clientes”, diz agora esta descendente de italianos nascida e criada em Caxias e com um bisavô na família que foi médico do rei D. Carlos.

Esses foram os tempos do DOC (Design de Origem Controlada), o atelier que Rita partilhava com o amigo norueguês Paal Myhre e antecessor do Rita Rivotti Wine Branding & Design. Desde 2008 que está “a solo”, que é como quem diz a “fazer vinhos com histórias lá dentro” com quatro colaboradores — e um quinto, uma enóloga, já a partir de Maio —, perto de 200 clientes e um crescimento de 20% ao ano.

“No vinho não existe um posicionamento de produto mas sim de comunicação”, explica antes de mostrar a caixa de raiz de nogueira com vinhos tawny da mais recente marca de vinhos premium do Porto e Douro, a Vasques de Carvalho. Em seguida, levanta-se para ir buscar a embalagem do Crochet, que lhe valeu no ano passado o Ouro na categoria Luxo-Vinho e Champanhe dos Pentawards, um dos mais importantes concursos internacionais de design de packaging.

Começa a contar a história: “Eu estava com a enóloga Sandra Tavares a trabalhar no projecto Foz Torto [vencedor em 2013 do Prémio Douro Empreendedor], quando ela me disse que ia fazer um vinho com a Susana Esteban e não sabia que nome lhe dar. Ora, Crochet, sugeri-lhe depois de pensar uns cinco minutos. Adoro inventar nomes para vinhos. A Sandra trabalha no Douro, a Susana no Alentejo, por isso aquele era um projecto para as duas amigas estarem juntas tal qual duas mulheres se juntam para fazer crochet.

Enquanto diz isto revolve um monte de papéis na estante e descobre o que procura, revistas antigas de lavores, para explicar que quando parte para um projecto e quer perceber o que lhe está na origem é capaz de espiolhar tudo, de “invadir” quintas e adegas, de pôr toda a gente a falar — “estou sempre a meter-me na vida das pessoas, é que normalmente falam pouco”.

Num meio muito fragmentado como o da produção vitivinícola — “se se pensar em marcas de cerveja, vêm-nos para aí umas três à cabeça, mas se se pensar em marcas de vinho, é um mundo que não acaba...” — o trabalho de Rita Rivotti está na diferenciação, em saber contar a história que está dentro de uma garrafa e que vem impressa num rótulo que pode ser ilustrado, fotografado, em lettering.

Os vinhos têm memória e isso é o que deve transparecer naqueles dois quadradinhos que forram o frente e verso de uma garrafa. Há projectos apaixonantes como o do Tyto Alba, da Companhia das Lezírias. A maior exploração agro-pecuária e florestal nacional queria lançar uma marca de vinho mais cara e o briefing feito ao atelier de Rita Rivotti ia no sentido de apelar ao trabalho de preservação de espécies e biodiversidade naqueles hectares colados a Lisboa. “Disse-lhes que os vinhos são excelentes embaixadores e que poderíamos usar a pequena produção que têm nesse sentido. Juntei-me a um biólogo, com  quem aprendi imenso, e depois de descartada a hipótese de criar um conceito para o novo vinho com a floresta de sobreiro, que apesar de ser um símbolo de sustentabilidade já era demasiado visto, optámos pela imagem da coruja-das-torres, espécie que tem uma das suas principais colónias na Companhia das Lezírias.”

O resultado foi criar uma casa-ninho e comedouro em madeira para o Tyto Alba (a referência científica da coruja branca) para pendurar na árvore. Um destes dias ainda a podemos ver no Jardim das Amoreiras a servir de abrigo a um pardal ou um melro.

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