Vamos ouvir Svetlana Alexievich no Festival Literário da Madeira

A autora de O Fim do Homem Soviético, Nobel da Literatura em 2015, estará na sessão inaugural do festival que se dividirá por vários pontos da ilha entre 14 e 18 de Março. Os escritores angolanos Pepetela e Ondjaki também marcarão presença.

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MARGARITA KABAKOVA

A Nobel da Literatura de 2015, Svetlana Alexievich, será a convidada da sessão de abertura da sétima edição do Festival Literário da Madeira, que tem lugar em vários pontos da ilha entre 14 e 18 de Março. À autora de O Fim do Homem Soviético juntam-se os escritores angolanos Pepetela e Ondjaki. Teresa Salgueiro, ex-vocalista dos Madredeus, protagonizará a componente musical do festival, cuja edição deste ano tem por tema Literatura e a Web – entre o medo a liberdade.

Svetlana Alexievich, cuja intervenção no festival será guiada pelo radialista Luís Caetano, foi distinguida pela Academia Sueca por uma obra que se situa em zona indefinida entre o jornalismo e a ficção. Livros como o supracitado O Fim do Homem Soviético, Vozes de Chernobyl ou A Guerra não tem Rosto de Mulher (o primeiro editado em Portugal pela Porto Editora, os restantes pela Elsinore), são um fresco épico de experiência humana criado a partir de centenas de entrevistas – “romances de vozes”, chama-lhes a sua autora. Neles, a jornalista e escritora bielorrussa de 68 anos aborda a experiência soviética a partir de diferentes perspectivas (a forma como um modelo de sociedade molda o espírito humano; a resposta a uma tragédia como a de Chernobyl, para a qual não existe preparação possível; a guerra vista pelos olhos de quem nela participa sem que, habitualmente, lhe ouçamos a voz). Fá-lo privilegiando uma narrativa íntima criada a partir de uma diversidade de vozes individuais que, em discurso directo literariamente editado pela autora, surgem no lugar que é habitualmente dado à grande narrativa protagonizada pelas figuras de poder. Para este ano está prevista a publicação em Portugal, pela Elsinore, de As Últimas Testemunhas (Março) e Rapazes de Zinco: Cem Histórias Nada Infantis (Setembro).

Pepetela e Ondjaki, os outros dois nomes agora anunciados, a que se juntarão brevemente outros a anunciar pela organização, protagonizarão um encontro intergeracional da literatura angolana, que será moderado pelo radialista Fernando Alves. O primeiro, 75 anos, Prémio Camões em 1997, pertence à geração da luta pela independência do país e é o autor de Muana Puó, O Cão e os Caluandas ou A Gloriosa Família. O seu romance mais recente, Se o Passado não Tivesse Asas, foi editado no ano passado. Ondjaki, por sua vez, é a voz da nova geração nascida numa Angola independente e marcada pela guerra civil e pelo país que lhe sobreviveu, liderado pelo MPLA. Tem 39 anos e divide a sua actividade pelos romances, pela literatura infantil, poesia ou dramaturgia. Foi Prémio Saramago em 2014, dois anos depois de o Guardian o ter destacado como um dos cinco melhores escritores africanos da actualidade.

Em anos anteriores, o festival Literário da Madeira, organizado pela ECA – Eventos Culturais do Atlântico, acolheu a presença de Eduardo Lourenço, Mia Couto, Lídia Jorge, a síria Samar Yazbek, o argentino Alberto Manguel ou a americana Naomi Wolf. O filósofo e sociólogo Zygmunt Bauman, que morreu este mês, participou na edição 2013 do festival.

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