UNESCO apela à ONU para que inclua o património nas suas missões de paz

Directora-geral da organização participou na reunião do Conselho de Segurança em Nova Iorque.

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Irina Bokova, directora-geral da Unesco SEYLLOU/AFP

A directora geral da UNESCO, o braço das Nações Unidas para a Educação e a Cultura, pediu esta segunda-feira ao Conselho de Segurança da ONU que inclua a protecção do património nas missões de paz que vem promovendo nas diferentes partes do mundo.

“A destruição cultural que observámos no Iraque e na Síria acontece em simultâneo com a perseguição das minorias” por grupos extremistas, como o autodesignado Estado Islâmico, disse a búlgara Irina Bokova no decorrer de uma reunião informal do Conselho de Segurança, em que, por proposta dos representantes da França e da Jordânia, respectivamente François Delattre e Dina Kawar, foram debatidos os meios de prevenir a destruição de sítios arqueológicos e a pilhagem e tráfico de bens patrimoniais.

Esta acção da ONU será válida para os lugares e situações de conflito, do mesmo modo que já é para os casos de catástrofes naturais, como o terramoto que esta semana destruiu vários bens classificados como Património da Humanidade, no Nepal.

Irina Bokova relatou à agência AFP ter também sugerido à procuradora do Tribunal Penal Internacional, Fatou Bensouda, que “comece a recolher provas, já que, segundo o Estatuto de Roma – que suporta este tribunal fundado em Haia, em 2002 –, a destruição deliberada de património cultural representa um crime de guerra”.

Presente também nesta reunião realizada na sede da ONU, em Nova Iorque, o secretário-geral da Interpol, Jürgen Stock, sublinhou – cita ainda a AFP – “a necessidade de partilhar informações" sobre obras de arte roubadas, e de garantir uma melhor cooperação com o sector privado, por exemplo, as leiloeiras e as plataformas de venda na Internet”.

“Este é um combate essencial para todos nós, pois a destruição metódica da arte responde a um programa de apagamento do passado e de erradicação da diferença”, disse, por sua vez, o embaixador francês na ONU, François Delattre.

O Conselho de Segurança da ONU adoptou por unanimidade, no passado mês de Fevereiro, uma resolução (n.º 2199) a condenar a destruição do património cultural no Iraque e na Síria. O mesmo documento determina a proibição da venda de peças roubadas nestes dois países assolados pela guerra, e onde o Estado Islâmico utiliza a pilhagem de património cultural destruído – como o fez no Museu de Mossul, segunda cidade do Iraque, ou na cidade antiga de Hatra, classificada como Património Mundial – para financiar as suas actividades.

Em simultâneo com estas deliberações, a ONU lançou também a campanha #Unite4Heritage, destinada a criar um movimento mundial através das redes sociais para a denúncia de actos de pilhagem e a salvaguarda do património.

Já em Março, a directora-geral da UNESCO visitou também Bagdad, capital do Iraque, para conhecer de perto as marcas que a guerra e as pilhagens deixaram sobre o património deste território que esteve na origem da civilização ocidental.

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