Uma volta ao bilhar grande

Podia ser bom, mas não é.

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Trailer A Viagem a Itália

O britânico Michael Winterbottom é um dos casos mais imperscrutáveis do cinema contemporâneo: é o único realizador que pode pedir meças a Steven Soderbergh no campo do volume de produção e da multiplicidade de géneros em que trabalha. Mas, no caso do realizador inglês, essa inquietude/irrequietude tem qualquer coisa de “fuga para a frente”, como quem vai atirando o barro à parede sem que ele quase nunca cole. A sensação que a sua obra profundamente irregular, e irregularmente acompanhada em Portugal, nos deixa é a de que o esforço e a ideia são para Winterbottom mais importantes que o resultado final.

Volta a ser esse o caso com A Viagem a Itália, espécie de “sequela” de um filme anterior que não estreou em Portugal, The Trip (2010), e que percorre as fronteiras fluidas entre o documentário e a ficção. Tal como aquele, trata-se de uma versão para cinema de uma série televisiva (composta por seis episódios de meia hora), que acompanha os actores e comediantes britânicos Steve Coogan e Rob Brydon ao longo de uma viagem gastronómica, aqui por Itália, percorrendo os passos dos poetas Byron e Shelley (mas também, inevitavelmente, da Viagem em Itália que Rossellini filmou com Ingrid Bergman em 1954, aliás citada abertamente um par de vezes — o que apenas sublinha mais como o filme de Winterbottom não lhe chega sequer às solas).

Da gastronomia e de Itália, contudo, nada se fica a saber. A viagem é um simples pretexto para explorar (com alguma graça pontual, mas sem grande imaginação) a relação entre Coogan e Brydon, espécie de “irmãos inimigos” ou amigos desavindos. E, apesar da aparência, A Viagem a Itália não é um documentário; os actores estão a interpretar versões “alternativas” de si próprios, improvisadas in loco. Podia ser bom, mas não é: Winterbottom filma tudo de maneira molengona, preguiçosa, indiferente, quase desinteressada, como se fosse um simples home movie de uma escapadela dos actores — e nunca consegue dar uma razão para que essa escapadela seja mostrada ao público. O resultado final é razoavelmente supérfluo e pouco interessante, mesmo que ocasionalmente divertido.

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