Uma temporada musical para Torres Vedras

Com direcção artística do compositor Nuno Côrte-Real, a temporada do Ensemble Darcos leva a partir de hoje a Torres Vedras os pianistas Artur Pizarro e Adriano Jordão, a Orquestra Metropolitana, a Orquestra do Norte, o grupo de gamelão Yogistragong e um tributo a Vasco Graça Moura

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A temporada inclui uma homenagem a Vasco Graça Moura através das mais importantes cenas da ópera Banksters Nuno Ferreira Santos

O pianista Artur Pizarro e a Orquestra Metropolitana de Lisboa, sob a direcção de Nuno Côrte-Real, abrem esta noite (às 21h30) a oitava edição da Temporada Darcos, em Torres Vedras, com um programa dedicado a Beethoven, que inclui a Sinfonia nº8 e o imponente Concerto para Piano e Orquestra nº5, Imperador.

Até ao final do ano será possível assistir a oito concertos que contemplam música de câmara, repertório sinfónico, uma homenagem a Vasco Graça Moura através das mais importantes cenas da ópera Banksters (com música de Nuno Côrte-Real e libreto do escritor e ensaísta falecido em Abril de 2014), um concerto pelo grupo de gamelão Yogistragong e o programa pedagógico Lagarto Pintado.

Criado em 2002 por iniciativa do compositor Nuno Côrte-Real e contando com um núcleo inicial formado por violino (Reyes Gallardo), clarinete (Fausto Corneo), violoncelo (Filipe Quaresma) e piano (Helder Marques), o Ensemble Darcos passou a realizar residências artísticas no Teatro-Cine de Torres Vedras a partir de 2006. “A tendência natural foi a de expandir esse modelo para temporadas regulares, que foram crescendo e contemplando outros músicos”, explicou ao PÚBLICO Nuno Côrte-Real. “Trata-se de uma espécie de festival estendido no tempo, com uma dimensão de autoria e de produção próprias.” Apesar de ter nascido em Lisboa, Côrte-Real passou a adolescência em Torres Vedras e manteve sempre relações estreitas com a cidade. Esta iniciativa permite-lhe combinar as actividades de compositor, maestro e programador.

“É um privilégio poder trabalhar a minha música com o Ensemble Darcos, um conjunto de músicos excepcionais, mas o grupo não é minha propriedade exclusiva”, diz. “Tem tocado música de outros compositores portugueses (por exemplo de Pinho Vargas, Eurico Carrapatoso, Sérgio Azevedo e Victorino d’Almeida) e realizado encomendas ao mesmo tempo que dedica boa parte da sua actividade ao grande repertório europeu da música de câmara. Aprendo sempre imenso com a preparação de obras de outros compositores.” O grupo apresenta uma geometria variável conforme os repertórios, podendo alargar-se até aos 15 instrumentistas, e constitui o “núcleo de uma rede de músicos portugueses e estrangeiros” que fazem parte dos contactos do compositor há vários anos, alguns desde a época em que estudou na Holanda. “É muito difícil manter projectos em Portugal, mas o Ensemble Darcos, que teve um nascimento discreto, tem ganho cada vez mais espaço na vida musical e o apoio da autarquia de Torres Vedras tem sido essencial para conseguir manter essa regularidade.”

Ao longo da temporada de 2015, o Ensemble Darcos irá interpretar quartetos de cordas de Mozart e Beethoven no dia 11 de Março (no Hotel Golf Mar de Porto Novo) e de Barber e Debussy a 2 de Novembro (Adega Cooperativa da Carvoeira) em concertos com transmissão directa pela Antena 2 e termina a série a 12 de Dezembro (no Teatro-Cine) com Quinteto para piano e cordas op. 44, de Schumann, e o Quarteto em Fá Maior, de Ravel, contando esta última obra com uma coreografia do bailarino Gonçalo Lobato. Uma outra colaboração especial terá lugar a 20 de Junho nos Claustros da Igreja da Graça através do concerto Sons do Oriente, com a participação do grupo de gamelão Yogistragong, dirigido por Elizabeth Davis. Na primeira parte o Ensemble Darcos interpreta o Quarteto de Debussy, “revelador do fascínio do compositor pelas sonoridades do Oriente, trazidas a Paris pela Exposição Universal de 1889” e na segunda o Yogistragong toca música tradicional da Indonésia e uma obra para gamelão e quarteto de cordas escrita pelo próprio Côrte-Real.

“A Temporada Darcos 2015 é a mais conseguida das que programei pois apesar das grandes limitações orçamentais foi possível trazer grandes pianistas como Artur Pizarro e Adriano Jordão, que vai tocar o Concerto nº3, de Beethoven, com a Orquestra do Norte em Outubro, e alguns dos melhores cantores portugueses como é o caso de Luís Rodrigues, Dora Rodrigues e Mário João Alves, que vão fazer excertos da minha  ópera Bankters em Abril por ocasião do primeiro aniversário da morte de Vasco Graça Moura, autor do inspirador libreto”, conta o compositor. Construído a partir da peça Jacob e o Anjo, de José Régio, o libreto transpõe o enredo para o actual mundo da alta finança numa linguagem que recria o estilo vicentino e foi objecto de uma encenação do realizador João Botelho por ocasião da estreia no Teatro Nacional de São Carlos em 2011. “Não sendo possível uma reposição integral devido aos elevados custos, optou-se por uma versão de câmara para 15 instrumentistas, cantores solistas e coro, apenas com alguns apontamentos cénicos”, refere o compositor. O espectáculo será apresentado no CCB nos dias 3 e 4 de Abril e um dia depois no Teatro-Cine de Torres Vedras.

Nuno Corte-Real salienta ainda o projecto Lagarto Pintado, que vai reunir centenas de crianças oriundas das escolas do concelho de Torres Vedras no próximo mês de Maio num coro que fará a estreia do seu Cancioneiro Infantil, um ciclo de oito canções do imaginário musical português, com acompanhamento de viola, violoncelo e piano.

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