Uma performance para treinar a revolução

Em Web of Trust, performance dirigida pela holandesa Edit Kaldor, o público é convidado a ensaiar uma voz colectiva de protesto.

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O público é convidado (mas não obrigado) a participar DR

Ao longo de quatro anos, a artista holandesa Edit Kaldor levou a cabo um extenso projecto de pesquisa intitulado Inventory of Powerlessness, trabalhando com centenas de pessoas em diferentes cidades europeias. Em causa estava o estudo das estruturas e poder a partir “do ponto de vista de um estado de impotência – política, mas também física e existencial”, explica ao PÚBLICO. Findo todo o trabalho de levantamento destas questões, Kaldor perguntou-se que destino dar a todas as discussões e reflexões recolhidas em Inventory of Powerlessness e decidiu focar-se nas respostas procuradas agora em Web of Trust, performance apresentada esta quinta e sexta-feira no Teatro Maria Matos, em Lisboa.

E a primeira resposta procurada nesta performance, em que o público é convidado (mas não obrigado) a participar fazendo-se acompanhar do seu computador portátil ou do seu tablet, respeita à relação entre as necessidades e os desejos individuais, e os objectivos colectivos. “Queremos pensar em que sentido é possível ligarmo-nos a pessoas que não conhecemos e trabalharmos juntos para encontrar uma base comum”, explica Edit. Não se trata de alcançar consensos, mas sim de testar soluções maioritárias que indiquem formas colectivas de acção.

Tomando por exemplo a forma como a comunicação digital teve um papel preponderante em unir desconhecidos em torno de movimentos como o norte-americano Occupy ou na eclosão da Primavera Árabe, a holandesa quer praticar um pensamento grupal que, em última análise, possa desencadear uma revolução. “Se queremos uma revolução”, argumenta, “temos de nos tornar melhores nisto de agir e pensar colectivamente, praticando a toda a hora.” Mas Kaldor sabe que nada acontecerá no imediato. Web of Trust funciona como impulso inicial para que através da Internet possam dar-se encontros e ser potenciados movimentos que aprendam a engrossar a sua voz individual ao torná-la num coro de reivindicações precisas. E isso faz-se, acredita, criando um espaço de discussão e negociando o tal discurso maioritário.

Web of Trust desafia também o público a pensar nos meios que utiliza quotidianamente. Para a artista, é importante que cada cidadão pare por uns minutos a pensar nas possibilidades da comunicação online e que esteja consciente esta “tanto aproxima e liga quanto aliena”. “Esta performance serve também para que pensemos que tipo de Internet queremos.” E para que os utilizadores descubram formas de usar esta ferramenta em seu favor.

Web of Trust
Conceito de Edit Kaldor
Lisboa, Teatro Municipal Maria Matos
Quinta e sexta-feira, 21h30

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