Uma nova vida para a ópera de Myslivecek

A estreia moderna da ópera Armida, de Myslivecek, foi um aposta ganha, quer pela qualidade da música, quer pela interpretação vocal e pelas soluções cénicas

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Metropolitana/David Rodrigues
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Apesar do nome de Josef Myslivecek (1737-1781), compositor checo que alcançou grande sucesso em Itália no século XVIII, ainda dizer pouco aos melómanos actuais, a sua música tem sido objecto de um interesse crescente a nível internacional.

Várias peças instrumentais têm sido gravadas e óperas como L’Olimpiade, Montezuma e Antigona subiram aos palcos nos últimos anos. A Orquestra Metropolitana de Lisboa deu este fim-de-semana um precioso contributo a esse movimento de recuperação, realizando a primeira audição moderna de Armida, ópera estreada em 1779 no Scala de Milão, cuja partitura pertence à riquíssima colecção da Biblioteca da Ajuda.

A escolha recaiu sobre uma das poucas óperas que não teve sucesso em vida de Myslivecek, mas a estreia no CCB mostrou que valeu a pena trazê-la de novo à vida. Composta a partir da tradução italiana de um libreto francês de Philippe Quinault, a ópera centra-se na relação entre Armida, princesa e feiticeira herdeira do reino da Síria, e Rinaldo, afamado cavaleiro cristão por quem se apaixona no momento em que se preparava para o matar. Musicalmente, faz uma ponte entre duas épocas, combinando a herança barroca com os novos caminhos do classicismo emergente.

No início, o estilo majestoso da ópera séria barroca (patente nas primeiras árias, com arrevesadas coloraturas) estabelece um contraste algo artificial com a representação em palco, que aposta na teatralidade, no movimento e na mobilidade das emoções, traços bem característicos da direcção teatral de Luca Aprea. Mas à medida que a ópera avança e que a música se vai tornando mais moderna no perfil melódico dos fraseados e na clareza do discurso, estabelece-se uma crescente sintonia com a interpretação cénica. A própria orquestra e o coro integram o espaço cénico (da autoria de Luca Aprea e Stefano Riva), formando o braço de uma semi-espiral que quase encaixa no dispositivo inclinado no lado oposto, onde se movimentam os cantores. A superfície vertical espelhada desta plataforma reflecte as atraentes cores dos elegantes figurinos de José António Tenente, resultando em múltiplos efeitos, reforçados pelo desenho de luzes de Miguel Cruz.

A partitura de Myslivecek contém abundantes recitativos secos (acompanhados pelo cravo), mas em momentos chave da acção recorre a recitativos acompanhados pela orquestra em que o compositor joga com os efeitos tímbricos e com figurações mais exuberantes, passagens que a Metropolitana (sob a direcção de João Paulo Santos) soube aproveitar como contraste ao discurso instrumental mais discreto e à interpretação mais linear da generalidade da obra.

No plano vocal, há a destacar as luminosas intervenções do Coro Voces Caelestes (dirigido por Sérgio Fontão) e a qualidade dos solistas. Nos papéis principais, as sopranos Joana Seara e Eduarda Melo mostraram mais uma vez com eloquência o seu elevado nível técnico e artístico no âmbito da rica paleta de emoções decorrente dos desafortunados amores de Armida e Rinaldo, este último destinado originalmente ao famoso castrato Luigi Marchese.

Cada um dos restantes cantores teve a seu cargo diferentes personagens, o que exige uma rápida passagem de umas para outras. O tenor Marco Alves dos Santos, que une ao seu belo timbre e ao talento dramático uma considerável potência vocal, teve óptimas prestações como Hidraote e como Cavaleiro Dinamarquês, mas foi na sua veemente personificação do Ódio que se superou.

Sónia Alcobaça dividiu-se entre Aronte, Ubaldo e Artemidoro, cabendo-lhe uma das mais inspiradas árias da ópera (Ah, tropo barbara), cantada com apreciável expressividade. A soprano Carla Caramujo e a meio-soprano Leila Moreso mostraram também a sua versatilidade desdobrando-se, respectivamente, em Fenicia e Lucinda e em Sidónia e Melissa, e desempenharam com graça e humor as cenas em que os espectros das antigas amantes foram substituídos por papagaios numa alusão à obra de Torquato Tasso (Gerusalemme liberata), que inspirou o libreto de Quinault.

No final Armida é abandonada por Rinaldo e a própria música dissipa-se na ausência da peça orquestral que falta na partitura. Espera-se que este caminho não seja abandonado pela Metropolitana e que nas próximas temporadas outras obras esquecidas possam ver a luz, quem sabe algumas das que foram escritas por compositores portugueses na mesma época.

 

 

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