Uma carta inédita de Albert Camus para Sartre foi encontrada em França

Desde a semana passada que está nas mãos de um coleccionador privado francês a quem foi vendida.

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Albert Camus AFP PHOTO / STRINGER

Foi encontrada uma longa carta inédita do escritor Albert Camus para o filósofo Jean-Paul Sartre confirmando pelo seu tom amigo as excelentes relações que os dois intelectuais franceses tinham alguns meses antes da zanga, que aconteceu em 1952.

Em 2013, já tinha sido encontrado por acaso um bilhete de Sartre para Camus que era até agora o único conhecido, e que revelava um pouco mais sobre as relações entre os dois filósofos que ficaram para a História sobretudo pela polémica que aconteceu depois da publicação de O Homem Revoltado, obra de Camus criticada por Sartre. O bilhete teria sido escrito entre 1943-1948, mas a carta que foi agora encontrada e já foi autenticada por um especialista é mais longa.

Começa com a frase, "Mon cher Sartre", meu caro Sartre, e termina com um  “Je vous serre la main”, um aperto de mão. O autor de O Estrangeiro está nesta carta a recomendar a actriz “Aminda Valls, amiga de Maria (Casares, actriz célebre) e minha, uma espanhola republicana, que é uma maravilha de humanidade”.

Desde 1951 que Sartre preparava a encenação de O Diabo e o Bom Deus, que foi encenado pela primeira vez no Teatro Antoine no dia 7 de Junho de 1951. Maria Casares ficou com o papel de Hilda. Amanda Valls não chegará a fazer parte do elenco.

“Esta carta foi adquirida por um coleccionador de autógrafos nos anos 1970 e conservada depois de encaixilhada por cima da sua lareira”, explica à AFP Nicolas Lieng da Librairie Le Pas Sage, livraria especializada em literatura do século XIX e XX, a quem o coleccionador confiou recentemente a carta.

“Ela foi vendida a um coleccionador privado francês, que tem uma das mais belas colecções sobre Camus, há uma semana”, acrescentou.

A carta não está datada mas deve ter sido escrita em Março ou em Abril de 1951, alguns meses antes da zanga, pois Camus invocava nestas linhas “a repugnante atitude de Mauriac” depois da morte de André Gide, no dia 19 de Fevereiro de 1951, sublinha o livreiro à AFP. Foi também nesta altura que Sartre escreveu na revista Les Temps Modernes de Março a sua homenagem: “Gide Vivant”.

A carta foi escrita, como explica Camus na própria missiva, no seu apartamento situado na Rue Madame, onde o escritor viveu entre 1950 a 1954. Seis meses depois da escrita desta carta, a editora Gallimard publicou O Homem Revoltado, obra de Camus rejeitada por Sartre e que esteve na origem da zanga dos dois. E por causa da qual o escritor existencialista destruiu depois a quase totalidade da correspondência de ambos.

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