Um domingo por ano

No dia de Natal alegrou-me, pela primeira vez na vida, o descanso de estar tudo fechado. Até quarta-feira sempre procurei os lugares que estavam contrariadamente abertos. Estavam vivos. Provavam que eu também estava. Eram lindos.

Mas na quinta-feira, dia de Natal, no meio de um mundo onde parece estar tudo à venda, apaziguou-me não haver um único sítio aonde eu pudesse gastar uns euros.

Levei sessenta anos (e muitas negras e caladas sextas-feiras santas) a gostar do silêncio e da falta de comércio. Deve ser por causa da omnipresença do comércio online. Na própria véspera de Natal, mal fecharam as portas do Marks & Spencer, mandaram-nos um email histérico a dizer que, a partir daquele momento, tudo custava metade do que custava na terça-feira, 50% na gíria numérica destes aliciamentos.

Tudo fechado e tudo vazio. Estava certo. É mesmo disto que precisamos: um domingo por ano. Não é para "questionarmos" a nossa sociedade de consumo: é só para termos um dia de paz.

No dia de Natal vi também o filme Interview que a Sony pôs na Internet só para os clientes americanos. Pois sim. Levou uma hora a espalhar-se.

A Internet caiu no engodo. Todos os países do mundo tiveram o azar de ver, de graça, o péssimo filme que foi tão estupidamente proibido.

Aguentei até ao fim, enquanto lia um antídoto. A Coreia do Norte – que é quem se sai melhor – é tão persuasiva e convincente como o filme é risonho. É o pior filme de Natal de sempre.

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