Um ano para sermos utópicos no Maria Matos

Movimentos sociais alternativos, a crise dos refugiados, um jantar "sobre democracia", os afectos, o capitalismo e a ecologia: tudo no ciclo UTOPIAS, que ocupa o teatro a partir de Setembro.

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A experiência social em Rojava, no Norte da Síria, vai estar em debate no ciclo UTOPIAS dr

Será que transformámos a palavra utopia em sinónimo de falhanço? As experiências do século XX tornaram-nos descrentes no poder das ideias utópicas? O Teatro Maria Matos, em Lisboa, parte de dois aniversários – os 500 anos da Utopia de Thomas More (1516) e os 100 anos da Revolução Russa (1917) – para lançar estas e muitas outras interrogações, no ciclo UTOPIAS, que percorrerá toda a temporada 2016-2017. Será um ano para (re)pensar a utopia.

Com curadoria de Liliana Coutinho e Mark Deputter, o ciclo divide-se em seis “arquipélagos”. O primeiro, o Arquipélago da Resiliência, estende-se por Setembro e Outubro e propõe-se olhar “para o regresso da imaginação política nos movimentos sociais que têm irrompido por todo o mundo nos últimos anos”.

O arranque está marcado para os dias 8 e 9 de Setembro, com o regresso do espectáculo Germinal, de Halory Goerger e Antoine Defoort, que esteve no Alkantara Festival em 2014 – um palco vazio, quatro indivíduos, a construção de um mundo novo a partir do nada.

No dia 15, o pensador holandês Merijn Oudenampsen volta à Utopia e ao debate sobre o pensamento utópico, para defender, numa conferência, que a mensagem de Thomas More tem sido mal interpretada e que a sua visão “de uma sociedade alternativa serve sobretudo para criticar o aqui e agora”. O que conduz directamente a movimentos como o 15M, espanhol, e a uma outra conferência (a 23 de Outubro) com o activista Javier Toret, co-fundador da rede autogestionária N-1.cc e do grupo Datanalysis15m, e o investigador Amador Fernández-Savater.

Antes disso, a 4 de Outubro, duas mulheres curdas, Nursel Kiliç e Eda Düzgün, virão falar de uma outra experiência de organização social alternativa que surgiu no meio da guerra, em Rojava, no extremo Norte da Síria, na fronteira com a Turquia.

Para além dos debates, haverá vários outros espectáculos (por exemplo, a 16 de Outubro, o filme Um Elefante na Sala, a partir da série Atlas, criada em 2011 por Ana Borralho, João Galante e Roberto Fratini Serafide), performances e apresentações de experiências que ambicionam pôr em prática formas de utopia – como o Projecto D’Ajuda, que tem estado a acontecer no Bairro 2 de Maio.

Este primeiro arquipélago termina a 29 e 30 de Outubro com A Hundred Wars to World Peace, de Christophe Meierhans, que “é um jantar e é sobre democracia”, porque “um jantar é o cenário perfeito para o confronto político”. Assim, prometem os organizadores, “vamos comer o que somos e ninguém sabe realmente qual será o sabor”.

O ciclo continua em Novembro-Dezembro com o Arquipélago das Diversidades, que “parte da crise dos refugiados para revisitar os problemas e as oportunidades da sociedade diversa”. Os primeiros dois meses de 2017 serão dedicados a revisitar “os muitos projectos utópicos surgidos dos comunismos e anarquismos do início do século XX”; Março será dedicado ao Arquipélago dos Afectos e ao repensar da política como “uma actividade também afectiva”, mas também ao Arquipélago Capital e, claro, ao capitalismo.

Por fim, entre Maio e Julho, o Maria Matos vai abrir-se ao Arquipélago Verde e ao “imaginário utópico mais influente da actualidade, surgido da necessidade de manter o planeta viável”.

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