Tempos perdidos

A Netflix, afinal, é uma exploração como qualquer outra.

Esta semana a Netflix publicou 13 episódios do melodrama familiar Bloodline. Há 15 dias fez o mesmo com Unbreakable Kimmy Schmidt: 13 episódios duma comédia infantil e estranhamente desinteressante.

Passámos os dois fins-de-semana a ver todos os episódios de ambas as séries. Caímos na propaganda do binge viewing, segundo a qual não descansamos enquanto não tivermos visto todos os episódios disponíveis de uma nova série.

É verdade. O meu pai, o meu irmão e a Maria João teimavam em acabar todos os livros e filmes que tinham começado a ler ou ver, por muito que os odiassem, só pela razão suprema de "saber como acaba esta merda".

Agora eu, que fui sempre volúvel, abandonando um livro ao terceiro parágrafo ou um filme ao terceiro minuto, vejo-me contaminado pelo mesma contabilística e utilitária teimosia.

Ao quarto episódio de Bloodline sabia que estava a ser esticado. Os dois melhores episódios – para não dizer (que digo) – que são os únicos bons são o primeiro, o segundo e (atenção) o penúltimo.

O resto é tempo perdido. Perdi-o porque cedi ao raciocínio estúpido e interesseiro do egoísmo: "Já que vi seis episódios desta merda, porque não ver os sete que faltam, a ver se esta merda vale a pena?".

Desde já aviso: não vale. Se Bloodline fosse transmitido em episódios semanais, toda a gente teria desistido depois do episódio 3 ou 4.

A Netflix, afinal, é uma exploração como qualquer outra. Incita-nos a roubá-la para mais bem nos prender.

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