Taylor Swift: África é dela?

Críticas à cantora porque foi a África filmar um videoclipe onde só há brancos.

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O vídeo de Swift soma já mais de 15 milhões de visualizações DR

É a África dos animais, a África dos safaris e das paisagens a perder de vista. Não é a África das pessoas. Taylor Swift revelou nesta semana o vídeoclipe de Wildest Dreams, o seu mais recente single, mas não teve a reacção esperada. A estrela pop tem sido acusada de racismo por um vídeo considerado “uma fantasia colonial africana”.

O vídeo foi revelado no domingo na cerimónia dos prémios da MTV e já foi visualizado mais de 15 milhões de vezes. Até aqui nada de anormal para aquela que é hoje um dos nomes mais populares da música norte-americana. Mais uma história de amor mal sucedida, como tantas as que canta. E mais um vídeo à sua medida. No entanto, desta vez, Taylor Swift tem sido bombardeada com críticas e acusações.

A cantora escolheu o continente africano – não foi revelado o local da rodagem – para cenário do seu videoclipe mas nem por isso se percebe em que lugar está: nas imagens apenas vemos brancos e animais selvagens. “Estranhamente, nem um negro à vista”, escreve Madeleine Davies no site de Life&Style Jezebel. Razão pela qual a revista nova-iorquina Fader anuncia o novo vídeo com o título: “Taylor Swift foi para África filmar um videoclipe onde só há brancos".

A própria história do vídeo aumenta a onda de críticas. Filmado por Joseph Kahn, Wildest Dreams conta a história de dois actores de Hollywood, dos anos 1950, que se relacionam durante as filmagens de um filme rodado em África. Quando voltam aos Estados Unidos, a relação entre os dois termina. Taylor Swift contracena com Scott Eastwood.

“O vídeo quer ter seu romance old school de Hollywood, mas acaba por transmitir o racismo old school de Hollywood também”, escreve Nico Lang, do Daily Dot, para quem este videoclipe “tem um grande problema racial”. “Só porque representas o passado ou lhe prestas homenagem não significa que tenhas de recriar os seus piores aspectos”, acrescenta.

No blogue da rádio americana NPR, num texto assinado por Viviane Rutabingwa e James Kassaga Arinaitwe, questiona-se como é que em 2015 “Taylor Swift, a sua editora e a produção do vídeo podem pensar que é certo filmar um vídeo que apresenta uma versão glamourosa de toda a fantasia colonial branca de África”.

Para Lauren Duca, do Huffington Post, Wildest Dreams “transmite um colonialismo selvagem”. “Em vez da apropriação cultural que se tornou quase status quo na música pop de hoje, Swift seguiu a opção mais ousada ao incorporar a exploração política de uma região e do seu povo”, lê-se.Guardian, por sua vez, tenta pôr alguma água na fervura e procura algum pensamento pós-colonial: pelo menos os empregados não são negros...

Os comentários negativos multiplicam-se nos vários jornais e nas redes sociais ao mesmo tempo que Taylor Swift mantém o silêncio sobre o assunto. Já Joseph Kahn reagiu no Twitter limitando-se no início a escrever que Jil Hardin, a produtora do vídeo, “é uma (super sensual) mulher negra”.

Depois do comentário no Twitter, Kahn, que também assinou os vídeos Blank Space e Bad Blood, viu-se obrigado a emitir um comunicado num tom mais sério, recusando todas as críticas. Para o realizador, Wildest Dreams “não é sobre colonialismo mas sobre uma história de amor que acontece durante a rodagem de um filme em África em 1950”. “O vídeo tem por base os romances clássicos de Hollywood como o de Elizabeth Taylor e Richard Burton, assim como os filmes clássicos como A Rainha Africana, África Minha e O Paciente Inglês, para enumerar alguns.”

Joseph Kahn refere ainda que nas filmagens para o vídeo de Taylor Swift existiam actores negros mas na edição optou-se por focar a história nos protagonistas. O realizador banaliza a questão do racismo, argumentando que parte da equipa criativa que esteve na origem do videoclipe “são pessoas de cor”. “Eu sou ásio-americano, a produtora Jil Hardin é afro-americana, assim como o editor Chancler Haynes é afro-americano”, acrescenta ainda, destacando que Taylor Swift vai doar todos os lucros feitos com este vídeo à African Parks Foundation para “a preservação dos animais em risco do continente e apoiar as economias povo africano local”. Uma decisão que estava tomada e anunciada, ainda antes de toda a polémica ter rebentado.

Notícia actualizada no dia 03/09 às 13h01: Acrescentada a declaração do realizador do vídeo

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