Steve Mackay: apagou-se o sopro dos Stooges

O saxofonista que acompanhava a banda de Iggy Pop morreu este sábado aos 66 anos, vítima de septicemia.

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Steve Mackay colaborou pela primeira vez com os Stooges em 1970 e continuou com eles quando regressaram em 2003 DR

A sua carreira ficou definida quando, em 1970, depois de já se ter juntado algumas vezes à pandilha insurrecta do rock’n’roll que eram os Stooges de Iggy Pop, seguiu a banda desde o Michigan natal até Los Angeles, onde aquela registaria o seu segundo álbum, Fun House. Ouvimos o sax tenor de Steve Mackay no tema-título e em 1970, sopro perfeitamente alinhado com a liberdade confrontante e provocatória da banda, e, nesse instante, Mackay, que morreu este sábado, aos 66 anos, num hospital em Daly City, Califórnia, vítima de septicemia, passou a ser também, e para sempre, um dos Stooges.

“Steve era o clássico gajo americano dos anos 1960, cheio de generosidade e amor por qualquer pessoa que encontrasse. Sempre que punha o sax nos seus lábios e o soprava, iluminava o meu caminho e dava brilho ao mundo inteiro”, escreveu Iggy Pop na sua página de Facebook. “Foi uma mais-valia para os Stooges e para a sua geração. Conhecê-lo era amá-lo”, concluiu.

Nascido em Grand Rapids, no Michigan, a 25 de Setembro de 1949, Steve Mackay abraçou o saxofone inspirado na obra de Charlie Parker ou John Coltrane. Seria no cruzamento das lições jazz desses mestres com o rock’n’roll que tão profundamente marcou a sua geração que encontraria o seu lugar no universo da música popular urbana. Primeiro com os Carnal Kitchen, grupo rock experimental de Detroit a que regressaria nos anos 1980 e 1990, ao lado da sua mulher, a cantora e baixista Annie Garcia-Mackay, que chamaria a atenção dos Stooges para o seu talento. Depois de gravar e de acompanhar a banda em digressão acabaria por abandoná-los em Outubro de 1970. Regressaria à banda em 2003, quando Iggy Pop pôs a carreira a solo em pousio para recuperar o grupo que o revelou ao mundo.

Foi nesse contexto que o vimos em Portugal. E não o vimos simplesmente a acompanhar os Stooges no Super Bock Super Rock 2005, por exemplo. Saxofone debaixo do braço, Mackay partia à descoberta: sabemo-lo, porque  já o tínhamos visto por cá, em 2004, com o seu Raodn Ensemble, combo de formação em mutação constante; sabemos porque, depois disso, antes ou depois dos concertos com os Stooges, que vimos novamente em 2011, no NOS Alive, ocupava palcos lisboetas, conimbricenses ou portuenses para partilhar música tanto com Mike Watt, dos Minutemen, que integra a formação dos Stooges, como com os Mécanosphère de Adolfo Luxúria Canibal ou os Black Bombaim (ouvimo-lo em Titans, o magnífico álbum que os barcelenses editaram em 2012).

Além dos Stooges, Steve Mackay colaborou com bandas e músicos como os Violent Femmes, Andre Williams, os Zu, Commander Cody ou R Stevie Moore. Com este último, lenda viva do lo-fi, envolveu-se na edição do álbum de estreia da banda punk experimental Round Eye, sedeada em Xangai. Foi um dos seus últimos trabalhos antes de ser traído pela inesperada septicemia.

Com a sua morte, e depois das do baixista Dave Alexander, ainda na década de 1970, e das dos irmãos Ron (guitarra e baixo, 2006) e Scott Asheton (bateria, 2014), Iggy Pop e o guitarrista James Williamson são os últimos sobreviventes das formações clássicas dos Stooges. 

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