Sotheby’s processada por causa de um Caravaggio

Pintura leiloada como cópia feita a partir do mestre italiano foi identificada como um original. Vendida por 50 mil libras, acabou avaliada em dez milhões. Ex-proprietários acusam leiloeira de fazer mal o seu trabalho.

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A versão comprada por Denis Mahon está avaliada em dez milhões de libras

Regra geral, o mercado da arte peca por atribuir ao mestre uma obra que é de um discípulo ou de um seguidor. Mas, desta vez, o cenário inverteu-se. É pelo menos o que garante a publicação especializada The Art Newspaper, que acaba de dar conta de um processo que envolve a Sotheby’s e uma pintura que a leiloeira vendeu em 2006 a Denis Mahon (1910-2011), um grande coleccionador que era também especialista em pintura do barroco italiano.

Segundo a documentação apresentada num tribunal londrino no final de Janeiro, data em que a queixa contra a Sotheby’s foi feita, a história pode resumir-se assim: há sete anos, a prestigiada leiloeira levou à praça em Londres uma obra que apresentou em catálogo como uma cópia antiga de The Cardsharps (que poderíamos traduzir como Os Batoteiros, 1594), de Caravaggio, em exposição no Kimbell Art Museum, no Texas. Mahon, que estava num restaurante quando ao folhear o catálogo da Sotheby’s pôs pela primeira vez a hipótese de se tratar de uma obra do mestre italiano, resolveu comprá-lo.

Mais tarde, quando já tinha levado para casa o quadro por 50 mil libras (quase 60 mil euros), chegou à conclusão – com o aval de outros especialistas e depois de feita uma série de exames técnicos que envolveu, por exemplo, radiografar a obra –, que se tratava, de facto, de uma pintura saída das mãos do mestre. Acto contínuo, o coleccionador obteve uma licença de exportação que avalia a sua versão de The Cardsharps em dez milhões de libras (11,6 milhões de euros).

Agora Lancelot William Thwaytes, o coleccionador privado que em 2006 pagou à Sotheby’s para vender a pintura, quer que a leiloeira indemnize a sua família, em cuja colecção a obra estava desde 1962.

Thwaytes irá a tribunal exigir a diferença entre o valor obtido na venda – quando esta versão estava catalogada como “uma cópia do século XVII do original de Caravaggio em exposição no Kimbell Art Museum” – e o valor que o quadro teria caso se tivesse determinado, antes de o levar à praça, que se tratava, de facto, de uma pintura do mestre do barroco. Lancelot William Thwaytes acusa a leiloeira de não ter analisado a obra em detalhe antes de a levar à praça.

A Sotheby’s defendeu-se em comunicado, reiterando que “a pintura é uma cópia e não uma obra autógrafa de Caravaggio”. Esta avaliação foi feita, garante ainda, recorrendo a Richard Spear, reputado especialista na obra do pintor italiano, e a outros peritos. De acordo com o Art Newspaper, deste lote de peritos fazem parte Helen Langdon, estudiosa do barroco italiano e autora de uma biografia de Caravaggio que saiu em 1998, e Sebastian Schütze, professor de História de Arte na Universidade de Viena.

Os queixosos podem agora argumentar que Denis Mahon também procurou submeter a sua avaliação ao crivo de outros especialistas, entre eles Mina Gregori e Maurizio Marini – dois historiadores que se têm ocupado da vida e obra do polémico mestre do barroco -, Antonio Paolucci, director dos Museus do Vaticano, e Thomas Scheider, escritor e restaurador, entre outros.

Antes de morrer, em 2011, Denis Mahon legou 58 obras da sua colecção a museus britânicos.

 
 
 
 

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