Clooney: "Eu costumava ganhar as lutas todas e agora levo porrada o tempo todo”

Um filme misterioso de ficção científica que põe Clooney a recrutar sonhadores e a lutar com robots? Tomorrowland – A Terra do Amanhã é a grande produção de Verão da Disney. Estreia-se esta quinta-feira em Portugal.

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George Clooney na conferência de imprensa em Valência AFP PHOTO / JOSE JORDAN
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A actriz Britt Robenson, o actor George Clooney, a actriz Raffey Cassidy e o realizador Brad Brid na conferência de imprensa em Espanha AFP PHOTO / JOSE JORDAN
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Tomorrowland – A Terra do Amanhã dr
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O pin

Houve uma altura em que foi mais fácil acreditar que mudar o mundo é possível. “Hoje, a mensagem perde-se na quantidade de más notícias com que somos bombardeados.” Quem o diz é George Clooney, a superestrela de Hollywood. O papel de actor confunde-se com o de activista dos direitos humanos no seu mais recente trabalho, o filme Tomorrowland – A Terra do Amanhã, realizado por Brad Bird.

A grande produção da Disney chega nesta quinta-feira às salas portuguesas e quer dar-nos uma lição de optimismo. Mostrar-nos como podemos ser umas criaturas maravilhosas à altura dos mais surpreendentes feitos em prol do bem da humanidade. Uma utopia, talvez. Um alerta para os dias de hoje, sem dúvida.

Um filme é apenas um filme. São duas horas, às vezes menos, às vezes mais, de entretenimento. “É para isso que [os filmes] servem em primeiro lugar, para divertir as pessoas”, diz Clooney. “Não é um antivírus que vai curar os males do mundo”, acrescenta o realizador Brad Bird na conferência de imprensa de apresentação de Tomorrowland – A Terra do Amanhã que aconteceu na semana passada em Valência, cidade espanhola onde parte deste filme de aventura e ficção científica foi rodado. “Mas se, ao divertires-te, há coisas que te fazem prestar atenção, então é algo bom”, continua o actor norte-americano, que espera abanar consciências com esta produção do realizador vencedor de dois Óscares com Os Incríveis e Ratatui.

Em Tomorrowland – A Terra do Amanhã, George Clooney é Frank Walker, um velho marreta, amargurado pela vida. Vive longe do mundo, qual eremita, numa moradia repleta de armas e armadilhas para o que der e vier – o passado ensinou-lhe que tudo pode acontecer. Em tempos um jovem sonhador, inventor de palmo e meio que via possibilidades infinitas nos objectos do dia-a-dia, Walker sucumbiu ao pessimismo do mundo. Se em pequeno (no filme a sua versão infantil é interpretada por Thomas Robinson) encarava a vida com esperança e entusiasmo, hoje não há nada que queira fazer. Tudo é negro e terrível até se cruzar com Cassey Newton (Britt Roberston).

Os dois têm algo em comum. Partilham uma experiência pela qual muito poucos passaram. Walker em 1964, Cassey em 2014. Os dois conheceram Tomorrowland, a Terra do Amanhã. Uma terra de sonhadores, um lugar onde as mentes mais brilhantes dão forma à imaginação: eléctricos voadores, piscinas intercaladas nos arranha-céus, descolagens de naves a toda a hora, entre muitas outras ficções.

Walker conhece o futuro quando aos 11 anos foge para a Feira Mundial, em Nova Iorque, à procura de reconhecimento pela sua invenção – um jet pack (uma espécie de mochila com jactos que o põem a voar) –, e Cassey, enquanto luta pela manutenção do Centro Espacial Kennedy, no Cabo Canaveral, que o Governo norte-americano quer encerrar, deixando assim o seu pai desempregado e destruindo o sonho da adolescente de se tornar astronauta. A viagem no tempo acontece quando às suas mãos chega um pin que ao simples toque consegue transportá-los. O pin, oferecido pela especial Athena (Raffey Cassidy), é o bilhete para Tomorrowland, a cidade de onde Frank foi obrigado a sair ainda jovem e para onde Cassey quer voltar a todo o custo. Mas Tomorrowland só existe se existirem sonhadores e isso num mundo que aceitou a ideia de que tudo se está a desmoronar parece ser cada vez mais raro de encontrar.

“O sonho é só o primeiro passo, é só a primeira coisa que fazes. Depois tens de agir para que esse sonho se torne alguma coisa”, diz o realizador, vendo no seu filme uma “utopia” com uma mensagem bem real. “Não percebo as pessoas que agem como se estivessem presas num autocarro que vai para um sítio para o qual querem ir e não têm nada a dizer sobre isso”, observa. “Nós temos alguma coisa a dizer, mas isso implica alguns sacrifícios – significa mudar o nosso comportamento hoje para chegarmos ao sítio onde queremos estar amanhã.”

George Clooney explica a inactividade geral das pessoas com as constantes más notícias. Guerras, fomes, catástrofes naturais, crises económicas e políticas. É tudo tão mau que mudar vai ser difícil. Quem nos ouve no meio do caos? “Eu cresci numa geração, nos anos 1960 e 1970, onde realmente acreditávamos que a voz individual podia contar e influenciar a mudança. E, de facto, isso aconteceu e teve grandes efeitos nos Estados Unidos”, conta o actor, questionado pelo PÚBLICO, defendendo que “as pessoas hoje pensam que não podem fazer nada”. “Verem o filme e pensarem que talvez a sua voz conte e que podem e devem participar na sociedade já é alguma coisa”, acrescenta Clooney. “Por exemplo, cada um de vocês pode pedir a libertação de Guillermo [o tradutor da conferência fechado num cubículo] e começar uma onda”, brincou o actor, que acabou a ronda de perguntas dos jornalistas a “salvar” Guillermo.

Valência recebeu Clooney, Bird e as jovens actrizes Raffey Cassidy e Britt Roberston porque foi ali que se concebeu Tomorrowland, mais precisamente nos edifícios da Cidade das Artes e das Ciências, desenhados pelo espanhol Santiago Calatrava, arquitecto da Gare do Oriente, em Lisboa. “Queríamos uma arquitectura futurista, o filme devia passar-se numa cidade maravilhosa avançada que por acaso até já existe e foi construída aqui”, disse Bird, admitindo que filmar em Espanha “custou mais dinheiro à Disney”. “Mas tinha de ser aqui, é melhor para os actores estar num lugar que existe do que estar em frente a um ecrã verde a fingir que há ali alguma coisa”, explicou o realizador, que foi desafiado para este projecto por Damon Lindelof, o criador de Lost – Perdidos. “O Damon lançou a ideia de fazermos um filme que se chamasse Tomorrowland, mas só tinha mesmo o título”, revelou.

Juntos escreveram a história e imaginaram desde logo George Clooney como protagonista. “O Brad apareceu em minha casa com o argumento a dizer que aquilo tinha sido escrito para mim. Disse-me: ‘Tens 54 anos, é perfeito para ti.’ Faz parte de envelhecer nesta indústria”, contou o actor em tom de brincadeira. “Os papéis vão sendo muito diferentes à medida que envelheces, a minha carreira tem tido várias reviravoltas ao longo dos anos”, prosseguiu. “Eu costumava ganhar as lutas todas e agora levo porrada o tempo todo”, disse, rindo-se de si próprio, admitindo que Tomorrowland foi um filme muito divertido de se fazer. “Gostei muito, nunca tinha estado numa estreia onde estavam quase só crianças”, contou, confessando que há muito tempo que queria trabalhar com Brad Bird, que assinou também Missão Impossível: Operação Fantasma.

Nos Estados Unidos, o filme estreou-se há uma semana, data em que estava inicialmente planeada a estreia do novo filme da saga A Guerra das Estrelas, declarou Bird. “Eles não estavam prontos a tempo e a Disney queria alguma coisa grande para se estrear neste dia e por isso atrasaram a nossa estreia em seis meses”, continuou, explicando que Tomorrowland foi rodado no ano passado e devia ter chegado às salas mais cedo, mas ficou como a aposta dos estúdios do Rato Mickey para a época do Verão. “Assim até tivemos mais tempo para trabalhar arduamente no filme, nos efeitos, por exemplo, foi óptimo.”

As receitas de bilheteiras é que ficaram, para já, aquém do esperado. Apesar de ter sido o filme mais visto do fim-de-semana, a longa-metragem arrecadou apenas cerca de 30 milhões de euros nas salas norte-americanas, uma pequena fatia dos 172 milhões de euros que Tomorrowland custou à Disney. A este valor somam-se ainda 25 milhões de euros conseguidos em 65 países onde o filme também se estreou na última quinta-feira, correspondendo aproximadamente a 56% do mercado internacional. Publicações especializadas como o Deadline destacam as estreias que ainda estão para acontecer em mercados maiores e que podem mudar os números, como é o caso da China e do Japão (esta quinta-feira) ou do Brasil (4 de Junho).

“É o que é, mas ainda não estamos demasiado desiludidos”, reagiu ao New York Times Dave Hollis, responsável da Disney. “Num Verão de sequelas, temos muita esperança de que um vasto número de famílias procurem Tomorrowland e apreciem a sua originalidade.” As críticas, essas, dividem-se.

“Não é corajoso da minha parte pensar num filme original, mas sim da empresa”, diz o realizador, quando questionado por um jornalista em Valência sobre o facto de competir com filmes que são ou sequelas ou adaptações de comics, como é o caso de Os Vingadores: A Era de Ultron, que em apenas um mês já fez quase mil milhões de euros, ocupando a oitava posição no top dez dos filmes mais lucrativos de sempre.

“Os filmes que hoje veneramos tiveram uma parte um. O primeiro Guerra das Estrelas na altura ninguém o percebeu, não sabiam o que era e muitos estúdios tiveram a oportunidade de o fazer e não quiseram”, observou Bird, para quem “os filmes originais alimentam a indústria [do cinema] e alimentam o que está a acontecer amanhã”. “Gostava que mais filmes originais fossem feitos. É preciso experimentar coisas novas e este filme para mim é a definição de uma coisa nova.”

O PÚBLICO viajou a convite da Disney

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