Sofia Coppola e Valentino: do cinema e da moda para La Traviata
"Já é o maior sucesso de bilheteira na história do teatro", afirma o director da Ópera de Roma.
Sofia Coppola lembra-se de ouvir ópera em casa com o pai, o cineasta Francis Ford Coppola, quando era criança. E de o pai a levar com os irmãos à ópera. A música não podia estar ausente numa família com muitos músicos. Mas chegar aos 45 anos e encenar pela primeira vez uma ópera não deixou de ser um desafio "assustador e muito estranho", como revelou na conferência de imprensa de apresentação da sua La Traviata, de Verdi, que se estreia esta terça-feira em Roma.
“Não sabia o que esperar e nunca tinha tido a coragem de encenar uma ópera até o Valentino e o Giancarlo Giammetti (colaborador do designer de moda há mais de 45 anos) me convidarem”, explicou Sofia. É a união destes nomes, sobretudo os de Sofia Coppola e Valentino Garavani, que tem lançado todas as atenções sobre a Ópera de Roma.
Em comum com Sofia, Valentino tinha também um pai que adorava ópera e que o levava aos espectáculos – a primeira foi aos 13 anos. Segundo Giammetti, o pai de Valentino chegou a encorajá-lo a ser tenor. Por causa disso, ainda hoje, é muito provável que o costureiro se emocione ao ver uma ópera. "Nessas alturas, sinceramente, nem sei bem onde me enfiar", confessa Giammetti.
Nesta encenação produzida pelo designer de moda, Valentino "suspendeu" a sua reforma e ficou pessoalmente responsável pela concepção do guarda-roupa da heroína trágica de La Traviata. São quatro vestidos de alta-costura para a personagem de Violeta, que o italiano revelou ter desenhado em apenas uma hora e meia, já que “desde a sua infância” esta ópera de Verdi o inspira. Por outro lado, e como contraste, a execução de um deles levou cerca de 800 horas.
Os restantes figurinos ficaram a cargo dos directores artísticos da casa Valentino, Maria Grazia Chiuri e Pier Paolo Piccioli, em colaboração com o departamento de guarda-roupa da Ópera de Roma. A cenografia é de Nathan Crowley, nomeado para três Óscares pelo trabalho em O Cavaleiro das Trevas ou Interstellar.
Universo feminino
"Foi uma experiência incrível poder trabalhar na Ópera de Roma com esta equipa e este belo guarda-roupa, e isso motivou-me a arriscar", explicou Sofia Coppola, que diz ter-se inspirado na sua herança italiana durante o processo. O que nos leva de novo à sua família: “O meu tio-avô já dirigiu a Traviata e por isso sentou-se comigo e falou imenso – senti-me sortuda por ter esta cultura na minha família."
Ao diário New York Times concretizou que aquilo que procurou realçar foi o “lado pessoal da cortesã francesa, o de uma party girl habituada à vida social”, o que não surpreende quem tem acompanhado o universo da realizadora de As Virgens Suicidas, Marie Antoinette ou Bling Ring. "É um mundo muito feminino que adoro."
As quinze apresentações do espectáculo estão praticamente esgotadas e as receitas de bilheteira já somaram 1,2 milhões de euros. "Já é o maior sucesso de bilheteira na história do teatro", afirma o seu director, Carlo Fuortes. A Ópera de Roma procura um novo fôlego após uns últimos instáveis marcados por problemas financeiros, conflitos internos e despedimentos colectivos.
La Traviata é uma ópera em três actos, composta por Giuseppe Verdi e estreada em 1853 no La Fenice, mítico teatro lírico de Veneza, que adapta a obra A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas filho. É uma das mais populares e interpretadas óperas em todo o mundo.
Na apresentação da sua grelha para esta temporada, a RTP 2 anunciou que irá transmitir esta produção depois do Verão, em dia e horário ainda por definir.