Será culpa do maestro?

Olari Elts é o maestro cuja visita é sempre aguardada com curiosidade.

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A Sala Suggia encheu para o concerto de sexta-feira João Messias

Aquém do nível que a Sala Suggia havia presenciado no domingo anterior com as Sete Últimas Palavras de Cristo na Cruz, pelo Coro Casa da Música e Elsa Silva (piano), e mais ainda na terça-feira com o inigualável Grigory Sokolov, esta sexta-feira a sala voltou a encher, alimentada de expectativas sobre uma obra que é tudo menos imediata.

Olari Elts é o maestro cuja visita é sempre aguardada com curiosidade, com ideias musicais próprias, não raras vezes arriscadas, e uma urgência de fazer a música acontecer que ocasionalmente atropela a própria comunicação.

A Missa Solemnis de Beethoven é uma obra majestosa, menos próxima das arrebatadas oscilações de carácter das suas mais célebres sinfonias e é, na verdade, um monumento de dificuldades variadas. Uma versão alargada do Coro Casa da Música superou a prova de forma bastante razoável: percebia-se bastante bem o meio-soprano Annely Peebo; o barítono também não esteve mal; regra geral, as cordas fizeram um bom trabalho; pontualmente, trompetes e trombones estiveram mesmo bastante bem. Mas não fossem alguns momentos do Coro, um solo de violino e os tais momentos dos metais, não teria havido nesta interpretação nada que escapasse a uma zona tépida, sem espanto, sem nenhum rasgo de surpresa.

Talvez o maestro se encontrasse fora do alcance da visão do timpaneiro que, no Kyrie, se mostrou um pouco deslocado no tempo. Também, no Credo, os sopros estiveram um pouco mais desencontrados em algumas entradas, não obstante momentos de respeitável sincronia nos metais. Madeiras ocasionalmente baixas, raramente compensadas por esbeltos e fugazes momentos solísticos, um telemóvel que, mesmo no final do Credo, lembra que lá fora continua uma outra vida... Pouco mais há a assinalar. A isto se resume (com o desejo de mais) o resultado de semanas de trabalho dos vários músicos que neste concerto se empenharam.

Será caso para se citar Alexandre Delgado, mas na forma interrogativa. Terá sido culpa do maestro? Facto é que o público presente parece ter apreciado bastante o concerto, já que os aplausos não se fizeram esperar, com mais de meia-sala de pé.

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