Um filme sem drama

É filme de aluno deslumbrado, circunspecto q.b. e inchado pelos seus afectos artísticos

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Depois de alguns momentos eufóricos – We Own the Night, por exemplo, é isso - o cinema de James Gray parece ter recolhido: A Emigrante é um filme-escola. É um filme-homenagem.

É filme de aluno deslumbrado, circunspecto q.b. e inchado pelos seus afectos artísticos: o cinema americano dos anos 70, os movie brats, especificamente o Coppola de O Padrinho A Noite fez-se para Amar, de Altman, As Portas do Céu, de Cimino, e O Padrinho II foram visionados pelo director de fotografia Darius Khondji antes de criar as temperaturas quentes e douradas desta recriação da Nova Iorque dos anos 20 onde chega uma polaca (Marion Cotillard), que se vai perder para a prostituição, explorada por um empresário teatral e chulo que a ama tortuosamente (Joaquin Phoenix, claro, sempre com a tortura...), e que é objecto também da salvífica emoção de um mágico (Jeremy Renner), que por ela se perde. Tanta ópera, e não há drama.

Cotillard, diz dela Gray, tem cara de actriz do mudo – Garbo, Falconetti e Gish foram nomeadas. Mas tanto dá assim tão pouco, um amaneirado mutismo a servir de vitimização?  A Emigrante falha logo aí, e todo o filme, aliás, se escapa nesse fosso entre a pretensão e aquilo de que é capaz. Tal como a (sempre) muito esforçada Cotillard, que afinal não é feita para transcendências.

Depois há Phoenix, há Rennier (que Gray, sempre com a Arte na ponta da língua, diz ter cara de Clark Gable e Errol Flynn, o que só ele saberá...) e sabemos desde o início que os caminhos das personagens se vão cruzar, chocar e que a causa do sangue vai ser ela – isso é o que se desenha na expectativa do argumento, mas não lhes vale Puccini ou Wagner para chegarem ao pathos e fazerem-nos chegar às lágrimas. Quando o filme foi exibido em Cannes 2013, alguém disse que a recriação de Nova Iorque que faz era a mais bela “desde O Padrinho”. Precisamente

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