Russo mais russo não há

Andrei Zvyagintsev inscreve-se na linhagem do grande cinema russo. Ainda bem.

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Tudo em Leviatã parece anunciar-se à distância como “cinema russo”: um rigor estético, e esteta, sumptuoso, um determinismo implacável e fatalista que subordina qualquer dimensão humana ou narrativa à necessidade de representar um papel simbólico ou alegórico sobre uma sociedade que parece prisioneira de uma singular autofagia.

Tudo verdade, e contudo a claustrofobia que Andrei Zvyagintsev constrói à beira do mar de Barents, a sensação de desperdício de vidas e sonhos em nome de um utilitarismo quase ofensivo, o desespero surdo que percorre todo o filme, torna Leviatã num parente próximo da Minha Alegria de Sergei Loznitsa – uma “radiografia criativa” de uma sociedade entrópica, pontuada por um humor de um negrume tão sufocante como explosivo. Tão absorvente como sufocante, Leviatã pode transpirar calculismo – mas isso apenas o torna ainda mais russo.

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