Roque Popular

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É preciso levar a sério a palavra “popular”, que dá título ao segundo álbum dos Diabo na Cruz: ela não significa apenas que, na raiz, esta música está ligada ao folclore português; também denota um anseio nada envergonhado em chegar às pessoas - a muitas pessoas.

A tradição entra das mais diversas formas: nas melodias de voz, claro, ou no balanço, que aqui e ali é pilhado a danças de roda. Tudo tem mais graça quando eles nos trocam as voltas e põem, por exemplo, a guitarra a fazer o que antigamente seria uma melodia de voz. Mas "Roque Popular" não tem a mínima vontade de ficar preso à tradição: usa-a como matriz ou condimento enquanto despacha riffs grandiosos ou jinga redondo e suado. Sendo isto rock, a guitarra é a grande âncora do disco: está, sob a forma de riff poderoso, no centro dessa granada que é "Bomba-canção"; faz a melodia principal da óptima "Baile na eira"; e adopta contornos de rancho na deliciosa "Sete preces". Não é só ela a brilhar: um orgãozinho parolo adorna "Chegaram os santos" (pop da melhor, pop da melhor); na magnífica "Siga a rusga" toda a melodia assenta numa espantosa linha de baixo, instrumento que volta a brilhar em "Memorial dos impotentes". Acresce dizer que por todo o lado há triângulos, cavaquinhos e acordeões, que o uso dos coros dá uma força danada às canções e que mais de metade deste disco esfaimado explode nos refrões com uma facilidade impressionante (não é difícil adivinhar que isto ao vivo vai funcionar). Mesmo quando amaina a sua fome de bailarico, "Roque Popular" não perde charme: "Luzia", à conta daquelas descidas graciosas à melancolia, ou dos cavaquinhos de um balanço roliço, lembra Fausto - que também assombra o refrão dessa espantosa canção que é "Pioneiros", em particular quando surgem os coros, os cavaquinhos e o triângulo em simultâneo. "Roque Popular" é uma grande festa, um baile sem vergonha que rouba o que lhe apetece, distorce o que quer e não descansa enquanto quem ouve não cair para o lado de cansaço.

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