R.I.P. Jimmy Scott

Sempre foi difícil para mim não chorar um bocadinho quando ouvia Jimmy Scott a cantar My Foolish Heart.

Não houve outra canção que ele cantasse melhor nem houve outro ou outra vocalista que cantasse melhor <i>My Foolish Heart</i>.

Ouça My Foolish Heart cantado por Carmen McRae, Joe Williams, Frank Sinatra, Tony Bennett, Susannah McCorkle, Jane Monheit ou Kurt Elling, por exemplo. Depois ouça as várias versões dos pianistas Bill Evans, Oscar Peterson, Keith Jarrett e Liz Story.

Ficará com uma apreciação da maravilhosa instabilidade da canção de Victor Young (música) e Ned Washington (letra). Há ali um peso misterioso, uma lúgubre melancolia que, ninguém sabe como, consegue ser angustiante e erótica ao mesmo tempo.

Depois ouça Jimmy Scott e, logo a seguir, a versão de Bill Evans no álbum Waltz for Debby, gravado ao vivo no Village Vanguard em Junho de 1961. Parece que Jimmy Scott está a responder a Bill Evans, com grande respeito mas com maior indignação.

Jimmy Scott canta em sílabas. Algumas surgem com um sotaque escocês e outras são soletradas como se o cantor não conseguisse falar inglês. A canção quer ser calma e engatatona mas Scott impede-a de ser. Desmascara-a e encruece-a. Carrega-a de nervosismo glorioso. Salva a canção do lamento autobiográfico e atira-o para o aqui e agora de uma ilusão amorosa que se segue a muitas outras mas que se quer, desta vez, que seja de verdade.

Requiescat in pace, Jimmy Scott. Agora choro-te a sério.

Sugerir correcção
Comentar