Ridley, não nos tortures mais!

O sofrimento é tão grande que temos vontade de fazer como o outro indivíduo e berrar.

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Quando acabou o seu Exodus, corria o ano de 1960, Otto Preminger fez questão de organizar uma sessão de gala para mostrar o filme à comunidade judaica de Los Angeles. Conta-se que, a meio da projecção, alguém se levantou, procurou o lugar onde estava sentado Preminger, e prostrando-se diante dele, gritou: “Otto, por favor, deixa partir o meu povo!”. O Exodus de Preminger não é o mais entusiasmante filme do seu realizador, nem por certo o mais conseguido dos épicos bíblicos; mas aí está - pode-se sempre contar com ele - Ridley Scott a pôr tudo numa nova perspectiva. O seu Exodus, elefantino e disforme, feito à conta de todos os clichés do “filme de Bíblia” ou do “filme da Antiguidade” aplicados sem espécie de vigor ou de frescura, com personagens e actores tão empolados como desinteressantes e a narração mais pastelona desde o Reino dos Céus do mesmo Ridley Scott, opera um sequestro em massa dos espectadores, independentemente dos seus credos ou feitios. O sofrimento é tão grande que temos vontade de fazer como o outro indivíduo e berrar: “Ridley, por favor, não nos tortures mais!”.
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