Ricordo di Venezia mostra pela primeira vez vidros da casa real portuguesa

Exposição reúne seis dezenas de peças, entre as quais muitos souvenirs comprados pela rainha Maria Pia.

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A exposição Ricordo di Venezia - Vidros de Murano da casa real portuguesa, que é inaugurada esta terça-feira no Palácio Nacional da Ajuda (PNA), em Lisboa, mostra pela primeira vez peças da colecção da instituição.

"Algumas das peças, com o respectivo estudo, são desta forma pela primeira vez apresentadas ao público", disse à Lusa Maria João Burnay, conservadora da colecção de Vidro do PNA e uma das comissárias da exposição.

Entre as cerca de 60 peças que vão ser expostas, Maria João Burnay referiu o serviço de mesa adquirido pela rainha Maria Pia em 1901 – a mulher do rei D. Luis realizou 13 viagens à Europa, e por quatro vezes visitou Veneza.

"O serviço é composto por 500 peças, de diferentes tipologias – copo de água, de vinho branco, de vinho tinto, de licor, etc. –, que só chegou ao palácio da Ajuda em 1903. Este serviço está na sala de jantar e, na exposição, figura um exemplar de cada tipologia", acrescentou Maria João Burnay.

Entre fruteiros, taças, jarras, garrafas e copos, a comissária destacou a mais pequena peça da exposição, "uma pequenina jarrinha em forma de golfinho, que é um souvenir fabricado pelos vidreiros de Murano para os turistas ricos que viajavam até Veneza".

Maria João Burnay explicou à Lusa que, no século XIX, "Veneza fazia parte do circuito do turista rico; os jovens aristocratas tinham como ritual as viagens de educação, e Veneza era local de passagem obrigatório, estava na moda, e as vidrarias criam artigos para esse turista rico, os souvenirs, que têm a inscrição Ricordo di Venezia – e daí o título da exposição".

A mostra inclui muitas dessas peças de souvenir que a rainha Maria Pia comprou copos, jarros, garrafas, peças de decoração, taças e pratos de lavar, "todos Murano genuíno", sublinhou a conservadora.

Na realidade, a partir do século XIV, os vidreiros de Veneza dispersaram-se pela Europa e começaram a surgir peças que se passaram a denominar "à la façon de Venice".

Conservadora de vidro do PNA desde 2011, Maria João Burnay começou a estudar os vidros de Murano da casa real portuguesa a partir de 2012, tendo trabalhado com a historiadora italiana Rosa Barovier Mentasti, que também comissaria esta exposição.

Burnay tem apresentado o conjunto de vidros do PNA em vários colóquios internacionais. "O Palácio da Ajuda tem colecções absolutamente de estatuto internacional", sublinhou a investigadora, que referiu que as colecções régias incluem vidros de França, de Inglaterra e da Boémia. Referindo-se ao núcleo de Murano, afirmou que incorpora cerca de 600 peças utilitárias e decorativas, datadas da segunda metade do século XIX e início do século XX, de vidreiras como a Salviati e a Compagnia di Venezia e Murano.

Referindo-se à exposição, a conservadora espera que ela "incentive o gosto e o interesse pelo estudo da arte do vidro" e, por outro lado, "realce uma vez mais o gosto de dois monarcas D. Luís e D. Maria Pia , que estavam a par de todas as novidades que iam saindo, e não só das artes decorativas. Eram pessoas cosmopolitas, que viajavam, que conviviam com intelectuais, artistas e músicos, enfim com as artes em geral".

Um dos aspectos em que a exposição incide é a venda à distância, através de catálogos, que enviavam à rainha, assim como propostas de modelos de luminária em fotografia, da Compagnia di Venezia e Murano, que também estarão patentes no PNA.

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