Que o IFP, património de Lisboa, permaneça na avenida Luís Bívar

A dispersão das funções do Instituto lembra um desmembramento, uma mutilação que prejudicará o esplendor da França e a sua posição económica.

O anúncio da "mudança" do Instituto Francês de Portugal para um espaço estreito e descentralizado da Embaixada de França, em Santos, e do “fecho” do espaço emblemático da Av. Luís Bívar, caíu que nem uma bomba, um verdadeiro anúncio de óbito.

Eu traduzo-o assim:

Lamentamos informar-vos sobre o fim de uma era fecunda e a morte de um espaço cultural indispensável que cumpria de forma exímia todas as funções inerentes a um lugar de intercâmbio entre dois países complementares, Portugal e França. "

A notícia é de facto chocante.

Foram necessários 30 anos para construir este farol da inteligência sensível que ilumina tanto a comunidade de franceses que habita a capital portuguesa, quanto os lisboetas e os portugueses em geral.

Com o seu auditório, a sua rica biblioteca, a sua programação intensa, uma livraria francesa sediada no local, assim como o precioso centro de aprendizagem da língua francesa que é a Alliance Française, o Instituto Francês de Portugal é, sem sombra de dúvidas, a ferramenta cultural inestimável que promove a manutenção e o desenvolvimento das boas relações económicas a longo prazo, entre os dois países. Privar-se desta ferramenta escapa completamente a qualquer compreensão.

Escritor francês empenhado no mundo da Lusofonia há mais de vinte anos, encontrei no Instituto francês parceiros de acções ambiciosas ao longo dessas duas décadas.

Em 1998, por exemplo, organizámos em conjunto a primeira semana dedicada às expressões de Cabo Verde, reunindo cineastas, músicos, escritores, pintores, fotógrafos, de França, São Vicente, Praia e Lisboa. Um evento plural que atraíu um público plural e nomeadamente o cabo-verdiano até então pouco associado a este tipo de grandes celebrações. Lembro-me da presença de Manuel Lopes e Teixeira de Sousa, figuras fundadoras da literatura de Cabo Verde, da participação dos cineastas Pedro Costa e Leão Lopes, do concerto de Kodé di Dona, o mestre incontestável da música funaná da ilha de Santiago, das gravuras de Carlos Moreira Gonçalves, um dos maiores gravadores europeus... A relação que eu tive o prazer de estabelecer com o Instituto confirmou-se na escrita de “Lisboa na cidade negra ", na sua edição pela Actes Sud, na publicação da tradução portuguesa pelas edições D. Quixote, na participação no África Festival e, recentemente ainda, por ocasião de um colóquio sobre o olhar de autores franceses que escrevem sobre Lisboa.

NÃO, o Instituto Francês não pode deixar a Avenida Luís Bívar, no centro da cidade e dos intercâmbios entre os dois países que devem permanecer estreitamente ligados no contexto de uma globalização que tudo seca en redor.

A dispersão das funções do Instituto lembra um desmembramento, uma mutilação que prejudicará o esplendor da França e a sua posição económica.

Cartas abertas publicadas nos meios de comunicação fizeram eco de propostas alternativas concretas, dinâmicas, que permitiriam manter o Instituto, preservar a integridade dos seus equipamentos, abrindo-os ainda mais, com uma preocupação financeira realista.

Uma aproximação ao Liceu francês é evocada entre outras pistas. Pelo menos o alerta da venda do edifício da Avenida Luís Bívar, terá desencadeado reflexões positivas com vista à optimização do funcionamento do instituto.

Esperemos que as vozes unânimes dos utilizadores lisboetas, franceses, professores, universitários, os protestos de todos os artistas, criadores que o Instituto acolhe, chamem a atenção dos que ainda podem tomar a decisão de inventar um futuro para o Instituto francês situado, por muito tempo na Avenida Luís Bívar, 91, 1050-143 Lisboa.

Escritor, doutor em Antropologia, autor de Lisboa, na cidade negra

Sugerir correcção
Ler 2 comentários