Quatro meses de visitas guiadas entre o Rivoli e o Campo Alegre

Rock, dança, FITEI e novo teatro são os focos da programação até ao final de Julho. Nos dois primeiros meses de funcionamento regular, 12 mil pessoas frequentaram o Teatro Municipal do Porto.

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Do coreógrafo alemão Raimund Hoghe, An Evening with Judy Rosa-Frank.com

Tem sido “um exercício”, disse ontem o vereador da Cultura da Câmara Municipal do Porto, Paulo Cunha e Silva, no final da visita guiada aos próximos quatro meses da programação do eixo Rivoli-Campo Alegre, que pôs uma comitiva de funcionários e jornalistas a percorrer, escada acima, escada abaixo, os espaços não-públicos do pólo principal do Teatro Municipal do Porto (TMP): “Posso dizer que o teatro cansa, no bom sentido do termo.”

Depois de ter cansado cerca de 12 mil espectadores nos seus primeiros dois meses de funcionamento regular, já sob a direcção artística do coreógrafo Tiago Guedes, o TMP atira-se agora a uma programação que terá no rock (Foco Rock: A Liberdade do Som, de 21 a 25 de Abril), na dança (Os Dias da Dança, de 28 de Abril a 16 de Maio), no FITEI – Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (28 de Maio a 21 de Junho) e no novo teatro (Foco Novo Teatro Novo, de 17 a 19 de Julho) as suas próximas âncoras, a que se junta ainda o inédito ciclo Let’s Get Musicaaaaal! com quatro espectáculos por ano (primeiros a chegar: O Grande Salão, de Martim Pedroso / Nova Companhia, a 22 e 23 de Maio, e Tropa-Fandanga, do Teatro Praga, a 13 e 14 de Junho).

Mas vamos a nomes, só para citar alguns (a lista completa também “cansa”): Raimund Hoghe, Jefta van Dinther, Philippe Quesne, Rui Horta, Olga Roriz, Clara Andermatt / Radar 360º, Victor Hugo Pontes, Ainhoa Vidal, Sara Carinhas, António Fonseca, Mala Voadora, D’Alva, Joana Gama e Luís Fernandes, Manel Cruz, Ana Deus, Alexandre Soares, André Tentúgal, Capicua, Paulo Rocha, Artur Semedo.

Do foyer do Grande Auditório aos escritórios, dos camarins ao Café-Concerto (cujo concurso de concessão está a ser ultimado pelos serviços jurídicos da autarquia, prevendo-se, se tudo correr bem, que o quinto andar possa reabrir no Outono), das oficinas ao terraço, do armazém de som à sala de ensaios, Paulo Cunha Silva e Tiago Guedes percorreram uma temporada que tem como estratégia principal “a reocupação de espaços que não tinham utilização” – para isso têm servido, e continuarão a servir, os programas Understage, que nos próximos meses receberá concertos de White Magic, Jonathan Saldanha, D’Alva, Tó Trips e Psicotronics & Tracy Vandal e que em Setembro, durante o D’Bandada, deverá testar a ligação do sub-palco à rua, e Teatro Expandido, que João Sousa Cardoso prolongará agora com visitas a Pirandello, Tennessee Williams, Harold Pinter e Heiner Müller.

 

Uma tendência

Assumindo os próximos quatro meses como uma “viagem aos múltiplos universos e linguagens da criação contemporânea”, Paulo Cunha e Silva sublinhou que a estratégia de orientar “o TMP, sobretudo o seu pólo Rivoli, para a dança tem sido completamente conseguida, com taxas de ocupação de 90%”. Valores que “não são episódicos”, acrescentou, antes “correspondem a uma tendência que permite singularizar o Rivoli, no circuito de equipamentos da cidade, como espaço especialmente vocacionado para a dança”. Assim sendo, está montado todo um programa de festejos do Dia Mundial da Dança que inclui a apresentação, em estreia nacional, das duas mais recentes criações do coreógrafo alemão Raimund Hoghe, An Evening with Judy e Quartet, respectivamente a 1 e 2 de Maio, devidamente antecedida por um Cadáver Esquisito que juntará, das 10h às 20h do dia 29 de Abril, dez bailarinos portugueses na Praça D. João I, pela pré-apresentação de Diva Lite, espectáculo que o artista residente americano Ben Evans está a desenvolver no Porto, e pelo quiz participativo A Dança das Perguntas, orientado pelo crítico Tiago Bartolomeu Costa.

Antes e depois da efeméride, o Rivoli continuará a dançar com o Plateau Effect que Jefta van Dinther coreografou para o sueco Cullberg Ballet, as comemorações do 20.º aniversário da Companhia Olga Roriz (Propriedade Privada), a homenagem ao Ballet Gulbenkian pela Companhia Nacional de Bailado, as últimas ou antepenúltimas criações de Rui Horta (Hierarquia das Nuvens), Lander Patrick (Arrastão), Victor Hugo Pontes (A Ballet Story), Clara Andermatt (Novo Velho Circo) e Joclécio Azevedo (Intermitências #1), o festival Corpo+Cidade, co-organizado com o Balleteatro, e os ciclos Palcos Instáveis e Performance… Again!

No teatro, outra das grandes apostas da temporada, o TMP joga em múltiplos tabuleiros (e confirma o Teatro do Campo Alegre como plataforma preferencial para os espectadores dedicados): o Foco Novo Teatro Novo, que trará pela primeira vez ao Porto o fascinante encenador francês Philippe Quesne, com Swamp Club, e os trabalhos de dois bolseiros do teatro, Joana Moraes e Tiago Correia; e o FITEI, que receberá Britânico, de Nuno Cardoso, a maratona Os Lusíadas, de António Fonseca, a nova estreia do Teatro Experimental do Porto, Caridade, a partir de Odön von Horváth, e o Hamlet da Mala Voadora. Extra-festival, Sara Carinhas & Victor Hugo Pontes (Orlando) e o Visões Úteis (Trans/Missão) também passarão pelo Pequeno Auditório do Rivoli.

Na música, o TMP assume a complementaridade com a Casa da Música e propõe, além de novos capítulos dos ciclos Novos Talentos e Understage (White Magic, Jonathan Saldanha, D’Alva, Tó Trips, Psicotronics & Tracy Vandal), a ópera O Cavaleiro das Mãos Irresistíveis, de Jan Wierzba, e um ciclo que juntará documentários programados por Zé Pedro, dos Xutos & Pontapés, a uma agenda de concertos de bandas sedeadas no vetusto Centro Comercial Stop, coroada pelo concerto A Liberdade do Som (Manel Cruz, João Pedro Coimbra, Ana Deus e Alexandre Soares, entre muitos outros, interpretam temas dos seus reportórios e de bandas da cidade).

Entretanto, as Terças de Cinema, com taxas de ocupação na ordem dos 40%, parecem ser o calcanhar de Aquiles do TMP. “Mas é uma área em crescimento! Estes números não pré-anunciam desistência em relação aos nossos esforços, pelo contrário”, prometeu o vereador. A colaboração com o Porto/Post/Doc trará ao Rivoli, em Maio, um ciclo dedicado a Paulo Rocha; em Julho, a Confederação leva ao Pequeno Auditório um programa dedicado a Artur Semedo. As já clássicas Quintas de Leitura, lançamentos de livros e uma pesada agenda de actividades do Serviço Educativo, incluindo o lançamento do projecto continuado Sem Legendas que porá alunos da escola secundária e de uma universidade sénior a acompanhar a programação do TMP, completam a temporada. Parece gigantesca? “Só custou 250 mil euros”, garantiu Paulo Cunha e Silva. 

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