Quando nada se ganha

As agruras e as proezas do alto mar dadas em registo “clipesco”, com muita música para embalar

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Primeira realização de Christophe Offenstein, até aqui director de fotografia, Em Solitário parece o resultado de um cruzamento entre o Quando Tudo Está Perdido de JC Chandor e o Le Havre de Aki Kaurismaki.

A história de um navegador solitário (François Cluzet), participante numa regata à volta do mundo, e a sua relação com um miudo mauritano, que aproveita um incidente junto à costa africana para se imiscuir no barco e tentar o “passaporte” para a Europa. Infelizmente, da autêntica solidão do filme de Chandor com Robert Redford Em Solitário não tem nada, temperando a viagem de Cluzet com demasiadas cenas em terra (a família e os seguidores do marinheiro, num ramerrame sem intreresse nenhum), assim cortando qualquer hipótese de se sentir as agruras e as proezas do alto mar, ainda por cima dadas em registo “clipesco”, com muita música para embalar.

E com a história do miudo (e de uma outra náufraga, também concorrente da regata, que mais tarde vem povoar o iate de Cluzet) Offenstein não faz nada de especial, limitando-se a reproduzir o trajecto esperado para o arco da relação deles: primeiro hostilidade, depois, a pouco e pouco, empatia. Sem rasgos nem surpresas.

Acaba tudo ao som do Knocking on Heaven’s Door de Bob Dylan, exagero quase sacrílego, porque a canção de Dylan evoca um estado supremo de exaustão e abandono que Em Solitário fica a muitas milhas (náuticas) de ser capaz de sugerir.

 

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