Produções Fictícias assumem-se como "rede criativa"

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Em 2009 as PF querem apostar em novos comediantes e na escrita para cinema Miguel Madeira (arquivo)

A transformação foi gradual e já se anunciava. Aos 16 anos, as Produções Fictícias (PF) reformularam a sua estrutura organizacional, duplicaram o pessoal da área administrativa e fizeram novas contratações para a estrutura de produção, e assumiram-se essencialmente como “rede criativa”. Foi por acaso que fizeram o anúncio no dia da tomada de posse de Barack Obama, “mas ele percebeu de certeza” que era uma data importante, brincou Nuno Artur Silva, director-geral das PF. Em 2009 querem apostar em novos comediantes e na escrita para cinema, além de estarem na calha novos projectos para Herman José.

Questionado pelo PÚBLICO sobre como se posicionam as Produções numa altura em que existem já várias casas de escrita e criação no mercado, Nuno Artur Silva explicou que as PF “sempre foram atípicas”. “Quando começámos a ser reconhecidos como uma equipa de argumentistas, já não éramos só isso”, disse esta manhã em conferência de imprensa. Hoje, sob o modelo de rede criativa que trabalha como agência de autores “independentes”, desenvolve projectos originais, trabalha para os novos média e para os públicos mais jovens, dá formação e aventura-se na produção, “não existe mais nenhuma” entidade do género em Portugal, disse, distanciando-se de equipas que trabalham directamente para produtoras, nomeadamente na escrita de novelas.

A âncora da rede, que Nuno Artur Silva reitera ser “aberta” a outras produtoras e autores, continua a ser o PF Agência e o PF Originais. O apoio e fomento de autores – “da equipa das PF fazem parte alguns dos melhores autores da actualidade”, elogia Maria João Cruz, directora de conteúdos – e artistas associa às PF Edson Athayde, Filipe Homem Fonseca ou Bruno Nogueira, bem como Maria Rueff, Ana Bola, os Gato Fedorento ou o músico Armando Teixeira, de um conjunto de 45 nomes.

Já o PF Original, área de criação de conceitos e guiões e mesmo produção de alguns programas ou projectos editoriais, pode ser inicialmente conotado com o humor, mas é mais do que isso. “Os nossos autores já não são apenas humoristas, têm desenvolvido outros trabalhos, livros, crónicas, séries dramáticas”, elenca Maria João Cruz. E se 2009 é definido pelas PF como “o ano para desenvolver guiões, ideias” para cinema português, a mudança estrutural nas PF foi-se desenhando ao longo de 2008, em que o investimento nas áreas de produção – corporizada no ramo PF Produção, um dos sete departamentos que hoje formam as PF – foi aumentando, contratando-se gente adepta do multitasking (realização de várias tarefas em simultâneo), e se começaram a oficializar áreas em que a agência criativa já trabalhava.

O PF Produção é “uma pequena estrutura ágil de produção que trabalha para os autores” das PF e para todas as plataformas, do telemóvel à televisão, explicou Gonçalo Félix da Costa, responsável pelo PF New Media. A ideia é trabalhar com outras produtoras, mas também poder oferecer projectos “chave na mão”, como exemplificou Maria João Cruz. “Não oferecer só autores isolados, mas em pacote, o que nos dá maior garantia de controlo sobre o produto final, em termos de qualidade”, é em suma o objectivo da nova estrutura das PF.

Quanto ao New Media, teve como balão de ensaio o canal PFTV no Sapo e desde 2006 produz conteúdos para as novas plataformas digitais, desde toques humorísticos para telemóveis aos webisódios d’Os Incorrigíveis. Outra área de aposta é o PF Júnior (Inspector Max (TVI), marca Kulto (RTP2 e PÚBLICO)), com um grupo de criativos especializados nos targets jovens. Tanto o PF Pub quanto o PF Empresas fornecem serviços para áreas mais institucionais, na comunicação de marcas para empresas ou na produção de eventos, publicidade ou branded content, respectivamente. Clientes já angariados: Super Bock, Santander, Delta ou PlayStation.

Quanto à aposta no cinema, “a nossa porta de entrada vai ser a lógica, a dos guiões, mas em 2010 vamos tentar entrar na produção”, disse Nuno Artur Silva apontando para o futuro. “A rede criativa é a melhor forma de nos posicionarmos para o que aí vem, o universo multiplataformas”, constata, para trabalhar de forma integrada para várias plataformas e com vários recursos disponíveis.

Televisão, mas sobretudo na Internet

O destino principal do trabalho, aquilo a que Maria João Cruz chama o “core-business” das PF, continua a ser a televisão. Mas o público mais jovem que segue Os Contemporâneos, por exemplo, fá-lo sobretudo já na Internet e as PF sabem disso. Nuno Artur Silva, que acha que da crise podem surgir boas ideias, acredita que “hoje, faz cada vez mais sentido que os novos comediantes se façam na net”, dos Gato ao novo membro das PF, Luís Franco Bastos, que “roubou” num episódio de Os Contemporâneos todas as personagens e imitações ao resto da equipa. E que foi descoberto num curso das PF, agora organizados no PF Formação, com aulas de escrita para vários sectores e humor em diferentes formatos e que este mês chegam ao Porto.

Para Herman José, o humorista com quem tudo começou – as PF nascem do pedido de textos de Herman a Nuno Artur Silva – estão na calha “vários conceitos para várias áreas”, avisa Maria João Cruz, desde os espectáculos ao vivo à televisão, numa altura em que Herman José está a negociar com a SIC os seus novos veículos para 2009.

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