Primeira edição de Kant vai a leilão em Lisboa

Leiloeira Veritas leva à praça exemplares das edições originais da Crítica da Faculdade do Juízo, do filósofo alemão Immanuel Kant, e dos Poèmes Saturniens de Paul Verlaine.

Exemplar da edição original da <i>Crítica da Faculdade do Juízo</i>
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Exemplar da edição original da Crítica da Faculdade do Juízo
Um herbário madeirense do século XIX
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Um herbário madeirense do século XIX
Balzac ilsutrado por Laszlo Barta
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Balzac ilsutrado por Laszlo Barta

Um exemplar da primeira edição da Crítica da Faculdade do Juízo (Kritik der Urteilskraft), do filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), vai esta quinta-feira à noite à praça em Lisboa, num leilão promovido pela empresa Veritas. Originalmente publicado em 1790, o livro é o terceiro e último andamento da filosofia crítica de Kant – depois da Crítica da Razão Pura (1781) e da Crítica da Razão Prática (1788) e uma das obras mais influentes da filosofia moderna ocidental.

Goethe disse que a Crítica da Faculdade do Juízo, na qual Kant expõe e discute o conceito de juízo estético, foi a primeira obra de filosofia cuja leitura o comoveu.

 A leiloeira estima que este exemplar, em cartonagem coeva com rótulo de pele, possa atingir entre 2000 e 3500 euros, um cálculo que não será irrazoável, tendo em conta que um exemplar em condições sensivelmente semelhantes está neste momento à venda no site alemão da AbeBooks (uma multinacional  de venda online de livros raros e novos que a Amazon adquiriu em 2008) por cerca de cinco mil euros.

Segundo a leiloeira, a Crítica da Faculdade do Juízo (por vezes traduzida também como Crítica do Juízo ou Crítica do Julgamento) é o “mais raro dos volumes das Críticas”, o que sendo porventura verdade não faz dele necessariamente o mais valioso em termos de cotação comercial, já que esta depende também de outros factores, como o prestígio, popularidade ou influência da obra, entre outros. No mesmo site da AbeBooks, uma primeira edição da Crítica da Razão Pura custa perto de 30 mil euros.

O livro de Kant é o 169.º dos 311 lotes a licitar neste leilão, que se inicia às 21h na sede da Veritas (Av. Elias Garcia, 157, em Lisboa). O conjunto inclui outras obras antigas, raras e valiosas, como os quatro volumes do conjunto de monografias ilustradas Hispaniae, Lusitaniae, AEthiopiae, et Indiae (…), do jesuíta flamengo Andreas Schottus , publicados entre 1603 e 1608. Estimado entre 4500 e 7500 euros, é o lote com um preço base de licitação mais elevado.

Num leilão a que não faltam também dezenas de livros acessíveis a bolsas mais comedidas  – aos que se interessam pela história da literatura infanto-juvenil portuguesa, recomenda-se por exemplo a Mariazinha em África (1925), escrito por Fernanda de Castro e ilustrado por Sara Afonso –, outra obra a destacar é um exemplar, conservado numa “caixa artística em chagrim” da primeira edição do livro de estreia do poeta francês Paul Verlaine, os Poèmes Saturniens (1866), que este publicou aos 22 anos, às custas de uma prima. Muito influenciado pelas Fleurs du Mal de Baudelaire, é um dos livros icónicos da poesia moderna europeia. A Veritas estima que possa valer entre 1500 e 2500 euros.

Uma das virtudes deste leilão é a variedade, que ultrapassa mesmo o universo estrito dos livros para incluir vários exemplares de aventais maçónicos ou um herbário oitocentista madeirense com 40 espécies de fetos e musgos. Para dar apenas uma ideia dessa variedade, citem-se um Alcorão manuscrito e iluminado que datará dos séculos XVII ou XVIII, um curioso Manual de Confessores & Penitentes editado em Coimbra, em meados do século XVI, pelo canonista, teólogo e pioneiro dos estudos económicos Martín Azpilcueta, que ensinou nas universidades de Salamanca e Coimbra, um exemplar único de um texto de Balzac – um dos Cent Contes Drolatiques – ilustrado pelo pintor, decorador e ceramista francês de origem húngara Laszlo Barta, a primeira edição francesa de O Capital de Karl Marx, ou ainda uma primeira edição de Oaristos, de Eugénio de Castro, que beneficia da aura de ser considerada a obra inaugural do simbolismo português.

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